- Obrigado senhora - respondi com os lábios levantados, simulando um sorriso.
Essa era a minha vida há pouco mais de um ano, monótona, respondendo as mesmas coisas para as mesmas pessoas - Depois de um tempo você se acostuma a certos rostos.
Agora chegou um cliente. O senhor Gomes - Tenho quase certeza que ele vai reclamar de um serviço "mal feito"
- Boa tarde senhor Gomes.
- Boa tarde. Aqui ó, comprei isso daqui de vocês e não tá prestando, ainda tá vazando água!
O item que esse velho está reclamando é um salva registro no chuveiro, ele sempre aperta forte o acabamento e racha o registro.
- O senhor não pode apertar com força, ele estraga assim.
- EU NÃO APERTEI COM FORÇA NÃO! - deu um tapa na mesa - Eu sempre venho aqui, compro algo que não presta e tenho que voltar, toda santa vez!!!
- Senhor, eu vendi para você esse reparo, ele não tinha defeito.
- Então explica por que está assim?
Suspirei e abaixei a voz.
- Gomes. Quando o senhor comprou e instalou no seu chuveiro, a água saiu normalmente?
- SIM UAI, depois de 3 dias começou a dar defeito. Tenho quase certeza que é na bucha! - Ele pegou o reparo apontando para a bucha.
- Deixa eu ver de novo - Peguei o reparo e analisei - Olha, as bordas estão amassadas e o reparo está roçado. Vou pegar um novo.
Eu até pensei em falar que tinha sido ele que estragou, mas esse tipo de gente nunca aceita, melhor não esquentar a cabeça.
- Não me devolve o reparo aqui, vou procurar um atendente que sabe mexer nisso.
Fiquei estático observando ele ir atrás de uma atendente. O cara teve audácia de fazer isso mesmo? Olhei para o lado e alguns funcionários estavam assistindo o que ocorreu sem entender nada.
- E você pode melhorar os produtos da loja se não vão perder um cliente.
Gomes entrou no carro e foi embora. Fui em direção a Larissa, a mulher que atendeu ele. Escorei na parede perto dela
- Você sabe que esse chato vai votar aqui né?
- Se Deus quiser essa ameaça dele vai se concretizar e ele não vai voltar.
- Eu vendi pra ele em ótimo estado e o negócio chega todo amassado. Não cansei desse cara - coloco a mão na testa - Toda vez esse cara vem aqui e causa problema, e hoje ainda vai e me humilha.
Sinceramente já não aguentava esse cara, mas agora minha paciência chegou ao limite.
Já eram 17 horas e a loja iria ser fechada. Eu estava saindo do escritório.
- Aí, se quiser dar uma desestressar, o povo do trabalho vai ir a um bar hoje - disse Letícia amarrando os longos cabelos loiros.
- A não obrigado. Eu vou ficar ocupado hoje - dei um leve sorriso - Tenho outras maneiras de desestressar.
- O que por exemplo? - Ela cruzou os braços e me olhou com a boca aberta
- Não vou falar - Respondi com um sorriso
- Você tem namorada?
- Não.
- E o que um homem alto e moreno com cabelo grande como você iria fazer numa sexta ao invés de ir a um bar com os colegas?
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O Funcionário
Mystery / ThrillerNem sempre o cliente tem razão. Em alguns casos ele deveria respeitar os funcionários