Capítulo Trinta e Quatro - Nova Versão!

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[Hall Endres]

Às 7h, eu havia comido mais do que deveria. Não percebi que estava quase morrendo de fome até passar pela recepção e sentir o cheiro de café da manhã. Por isso escolhi uma mesa distante das outras e peguei um prato, cheio, e comi tentando relaxar naqueles poucos minutos. O que não adiantou muito. Meu celular vibrou no bolso antes que eu saísse do salão.

Atendi antes que o segundo toque soasse.

— Precisamos conversar — é o que digo.

— Precisamos mesmo — Gerry está sorrindo, sei disso, mesmo que eu não o veja. Eu sei. — Você tem andado muito nesses poucos dias. Não se sente cansado? Pior ainda, exausto?

Agora que ele havia mencionado, sim. Eu estava exausto e sentia uma enorme necessidade de ir até o quarto e dormir. Descansar a mente, o corpo, calar a droga dos meus pensamentos. Mas — sempre haveria um mas — eu precisava me manter de pé e com os olhos abertos.

Eu precisava tentar aquilo agora.

— Não. Quando podemos nos encontrar? Hoje?

— Hoje, então. Onde você está? — Essa pergunta me deixou aliviado, como se pedras houvessem sumido das minhas costas, finalmente. Significa que ele não está me vigiando o tempo todo, e isso é bom.

— No hotel onde Diego mora.

— Certo... Passarei aí em uma hora, me encontre na esquina. Assim as câmeras não vão nos pegar.

— Entendi. — Ele desligou depois de um nada sincero "fique bem".

Depois de alguns minutos ainda sentado, fui para o quarto. Tomei um bom banho e vesti outras roupas, coloquei meu corpo na frente do espelho apenas por um momento apenas para constatar o que eu já sabia. As cicatrizes continuavam ali.

Claro que elas ainda estão aqui, imbecil.

Aquela palavra ficou verberando meus pensamentos: imbecil, imbecil, imbecil.

*

— O que queria mandando aquela carta para Andressa? — É a primeira coisa que pergunto assim que entro no carro, o que poderia ter sido o jeito errado de começar as coisas. Mas essa situação toda é errada, então por que eu me importo?

Gerry me analisou, como se não me conhecesse mais ou como se algo tivesse mudado drasticamente em mim — talvez fosse a raiva que eu sentia dessa situação toda.

Ele ligou o carro e partimos para o norte, passando pelos sinais amarelos antes de ficarem vermelhos, as pessoas e as casas sendo apenas um vulto de cor ao redor.

— Era uma coisa nossa — ele finalmente diz.

Aquilo me deixa ainda mais furioso.

— Era! Meu Deus! Você é doido.

Ele deu um risinho de escarnio, do tipo que não discorda, mas também está com o humor muito ácido para concordar totalmente. Ele está me deixando falar o que quiser, e não sei se haverá consequências depois.

— Andressa está feliz, caramba! Por que não deixa ela em paz? Por que não deixa todos nós em paz? Essa sua carta, esse seu plano... você tem dinheiro à beça, você pode ter qualquer pessoa...

— E é por poder ter qualquer pessoa — ele me interrompe, sua voz não parece alterada, mas eu conhecia o tom gélido da raiva — que eu quero Andressa. Ela não deixou de me amar. Assim como você não deixou de amar seu pai, eu presumo.

Aquilo foi como um ferro quente no meu peito.

— Foi você quem ligou para minha mãe? Usando a voz do meu pai? Assim como fez comigo. Não foi?

Minha Salvação | Série Irmãos Laurent-(Livro 1) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora