Sinal do Coração - SARIETTE

Capítulo 1 - Alice

POV SARAH

O Nick's hoje estava cheio e eu já estava na minha quarta dose de tequila. Precisava me controlar, da última vez que fiz isso, as coisas saíram um pouco do controle.

Era o meio da semana, uma plena quarta-feira, e aquele bar estava abarrotado de gente. Como se fosse algum daqueles famosos do centro de BH... O Nick's era, justamente, o lugar mais bizarro para se vir à noite.

Luz baixa, poucas mesas, e um balcão que reluzia uma luz esverdeada ou amarelada, não sei. Era bem esquisito, para ser sincera. Mas, só aparentemente. Eu acabei me acostumando.

Preferia vir em lugares assim a lugares em que as pessoas eram felizes demais, que sorriam demais, ou que falavam alto demais. Quando, na verdade, tudo isso não se passava de uma ilusão momentânea.

- Já chega para você, né doutora? - o homem, de barba grande, atrás daquele balcão, disse e eu apenas assenti.

O Nick é um cara legal. Bom, pelo menos, ele me ajuda a me controlar na bebida. De resto, fica apenas em silêncio. É um cara bem fechadão. Eu gosto de pessoas assim, fazem-me sentir menos sombria.

A questão é que aquele bar estava estranhamente movimentado hoje, o que já estava me incomodando. A música estava mais alta do que o normal e pessoas dançavam encharcadas de bebidas.

Ou elas estavam mesmo felizes, ou tentavam se anestesiar de alguma forma. Eu aposto na segunda opção. Só espero não ser chamada no hospital por casos entediantes de um bando de bêbados em coma alcoólico.

- E aí, gatinha? Posso pagar uma bebida?! – ouvi uma voz grossa ao meu lado e lancei um olhar.

Nem percebi quando foi que aquele homem esquisito havia se sentado ao meu lado. Ele fedia a pinga, daquelas mais baratas possíveis. Seria o terceiro, daquela noite, que eu dispensava, apenas encarando de forma firme e sem dizer uma palavra. Eu não estava com um pingo de paciência para aquilo, principalmente, depois do dia de hoje.

- Eu hein, que mulher mais maluca! – o ouvi dizer a um amigo, tão idiota quanto ele, e revirei os olhos.

- Nick, uma de whisky, por favor! – pedi, levantando o meu copo, e o homem olhou nos meus olhos.

- Não acha que já foram muitas, Sarah? – ele falou e eu bufei.

- Me dá logo, Nick! Hoje eu preciso, vai! – rebati impaciente.

- É a última! – ele respondeu e eu revirei os olhos.

- A última. A última e eu vou para casa, prometo! Isso aqui está o próprio inferno hoje! – falei e o percebi dar um sorriso de canto da boca.

Aposto que Nick pensava como eu. O homem colocou o copo de whisky na minha frente e eu o peguei rapidamente, sob o seu olhar de desaprovação para mim. Dei uma piscadinha e desci daquele banco, para beber em paz, longe daquela desaprovação.

Eu andava no meio daquela gente toda, que dançava e berrava sem parar, o que contrastava, fortemente, com o meu mau humor naquele dia.

Um cartaz, no final daquele bar, prendeu a minha atenção, por apenas alguns segundos, e, quando percebi, metade daquele whisky estava escorrendo por dentro do meu corset preto.

- Ô, PORRA! OLHA POR ONDE ANDA, CARALHO! – gritei, sentindo o impacto do corpo daquela mulher contra o meu.

- D-Desculpa, eu... – ela tentou dizer e os nossos olhos se encontraram, fazendo-a perder as palavras no mesmo instante.

A mulher usava um macacão branco, bem justo no corpo, e tinha os cabelos soltos até a cintura. Não sei ao certo quando foi que eu havia prendido a minha respiração, mas senti um formigamento pelo meu corpo sob aqueles olhos negros dela.