Único

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     Suspirando fundo, Zoro terminou de fechar a porta do apartamento enquanto tirava os sapatos com os próprios pés. Ele bocejou alto e acendeu a luz, já eram pouco mais de seis da tarde e isso significava que o Sol começava a se pôr e logo a escuridão iria dominar o pequeno apartamento que o policial morava a pouco mais de seis meses. Ele deu uma boa olhada no cômodo, a sala estava uma bagunça completa. Haviam roupas no sofá e meias por todo chão, além dos seus chinelos jogados perto da mesa de jantar que ficava na frente das portas de vidro da sacada. Bufou irritado enquanto se dirigia à cozinha com as sacolas de compra ainda em mão.
    Por ser um dos cômodos que menos usava, já que sempre que seu corpo exigia alimento ele apenas pedia comida ou iria comer fora, a cozinha definitivamente era o ambiente mais limpo da casa. Acendeu a luz e pôs a sacola na bancada, tirando os itens que havia comprado na loja de conveniências na esquina do bairro que morava. Eram apenas dois pacotes que macarrão instantâneo, um fardo de cerveja com oito unidades, além de um pacote de salgadinhos picantes. Parecia as compras de um desempregado que havia acabado de receber um dinheiro dos pais e queria curtir sua vida miserável, mas no caso de Zoro eram apenas as compras de um policial que só parava em casa para dormir e havia recebido um atestado de uma semana após um ferimento numa abordagem.
    Ele precisaria ir ao supermercado amanhã, mas odiava fazer coisas casuais como aquela. "É por isso que você não arranja um namorado! Nunca fica em casa, aquilo parece uma zona, nem no mercado você vai!". Ele podia ouvir a voz irritante de sua irmã latejando em seu cérebro. Que culpa tinha? Ele realmente dava a vida para seu emprego e só voltava para casa para dormir, até mesmo nos fins de semana quando devia estar descansando ele continuava fazendo horas extras e se forçando até o limite. Alguns diriam que ele amava seu trabalho até demais, não que fosse mentira, Zoro amava ajudar as pessoas e ser alguém em quem elas podiam confiar. Porém era diferente, não era por isso que ele vivia com a cabeça lá.
    Ele apenas sentia que não tinha mais nada. Embora tivesse amigos, eles estavam ocupados com seus namorados ou maridos enquanto construíam sua própria vida. Ele não iria ocupar o tempo deles com sua vida solteira e tediosa, família? Ele amava seu pai e sua irmã, mesmo que negasse até a morte, além é claro de seu padrasto e meio irmãos, porém não era mais tão divertido estar perto deles quanto era quando ele era apenas uma criança sonhadora. Talvez esse fosse o charme dos adultos, crescer e se distanciar de tudo que um dia amavam pois tinham perdido seu sentido naquilo. E claro, não era necessário dizer que Zoro não tinha nem de perto um namorado, mesmo que fosse assumido a quase um década ele nunca teve mais do que cinco encontros que davam em alguns beijos e apenas isso. Simplesmente decidiu que o romance não era seu forte, por isso havia focado tanto no trabalho, sentia que apenas lá ele era realmente excepcional.
    Ele pegou o pacote de salgadinhos e uma das cervejas, se lembrando de guardar as outras coisas na geladeira, então caminhou tranquilamente até as portas de vidro que davam para a sacada. Ele abriu e se sentou no chão da mesma, pegou o celular no bolso e pôs sobre as coxas, então abriu a lata e começou a beber do líquido meio amargo que tanto gostava. Sua perna ainda estava doendo um pouco — por sorte não havia sido uma lesão grave e ele nem precisou de cuidados médicos mais rigorosos — mas seu chefe estava tentando o fazer descansar a semanas, então aproveitou a oportunidade e o colocou com um atestado de uma semana apenas para o deixar longe da delegacia. Ele suspirou fundo e deixou a brisa acariciar seus cabelos coloridos, pensava no que poderia fazer para se entreter durante aquele tempo que ficaria em casa.
    Foi quando ele ouviu. Tão suave como um raio de Sol e tão atraente como um prato fumegante de comida, embora ele achasse aquela risada mais gostosa do que qualquer coisa que já comeu, ah sim... Seu adorável vizinho. Ele agradeceu ao pano que estava na grade da sacada, impedindo que o homem do apartamento ao lado pudesse o ver sentado ali. Ele continuava rindo e fazendo sons bobos como se brincasse com um neném. Zoro sorriu sem querer vendo o quão animado ele parecia, seu coração batia mais rápido e seu estômago se aqueceu num sentimento desconhecido. Talvez ele tivesse feito de propósito, afinal ele sabia muito bem que seu vizinho costumava sair na sacada perto do fim de semana, talvez fosse apenas um plano para ouvir um pouco mais de sua voz.
    Seu vizinho? Ah sim, ele é muito importante para a história em questão. Tudo começou quando Zoro se mudou para o prédio e estava com problemas para abrir a porta de entrada. Não importava como ele girava e empurrava a maldita estrutura de madeira escura que se recusava a abrir, ele estava quase considerando chutar e a abrir a força, ignorando que isso iria custar em seu bolso mais tarde.
    — Aqui, deixa eu te ajudar — aquela voz angelical foi como uma brisa num dia quente na praia.
    O rapaz loiro com lindos olhos azuis foi rápido em tirar as mãos morenas do outro da chave e como um truque de mágica a porta se abriu.
    — Elas são meio emperradas mesmo, o segredo é empurrar sem muita força e girar devagar, eu vivo falando pro síndico trocar as fechaduras mas ele nunca escuta sabe — ele tagarelou com um sorriso.
    Zoro queria muito responder, queria dizer obrigado e comentar como aquela porta era realmente uma porcaria. Porém seu corpo inteiro estava paralisado, como se um raio tivesse o eletrocutado por completo e ele estivesse num estado semi vivo e semi morto. Ele nunca tinha visto um sorriso tão lindo ou uma risada tão amigável e gostosa, quem era aquele homem? Parecia um anjo tão belo e puro que ele tinha medo de ter morrido e ir parar no céu sem perceber... Embora ele não ache que realmente iria para aquele lugar ao morrer.
    — Então, é Sanji — ele finalizou e Zoro percebeu que não estava o escutando pelos últimos minutos.
    — O que? — ele perguntou confuso.
    — Meu nome — ele riu — É Sanji, você está bem? Em... Hm... Marimo? — ele disse em dúvida olhando a cor verde nos cachos do homem moreno e alto.
    — Marimo? — perguntou confuso.
    — É, é tipo um musgo marinho verde... Parece um pouco com seu cabelo — ele riu.
    — Não é Marimo! É Zoro — disse fazendo um biquinho irritado.
    — Bom... Prazer em te conhecer, senhor Zoro, pode me chamar sempre que tiver problemas com sua fechadura, afinal eu moro aqui do lado — ele sorriu novamente.
    — Ah... Sim... Hm... Obrigado — disse baixinho.
    — Sem problemas.
    Desde daquele dia Zoro se viu pensando cada vez mais no rapaz que morava ao lado. Fosse nos dias que escutava ele cantando pelas finas paredes, nos momentos que cheirava seus incríveis pratos pela sacada, até mesmo quando o ouvia rindo e conversando com seus amigos que o visitavam periodicamente. Tudo nele parecia extremamente perfeito e atraente, e por mais que Zoro se atraísse por homens, ele tinha que admitir, nunca em toda sua vida tinha se sentido tão atraído por um homem como se sentia por Sanji.
    Nos meses que se seguiram após aquele evento inicial, Zoro tentaria de todas as formas ter conversar com Sanji, mesmo que isso parecesse impossível. "Você não namora porque não consegue nem conversar com outro ser humano!" Maldita fosse Perona que continuava assombrando seus pensamentos. Ele tentava dizer que não era sua culpa, afinal trabalhava o dia inteiro e pelo o que sabia o loiro também, além de que ele não iria simplesmente bater na porta do rapaz e falar "ei, você é uma gracinha, quer bater um papo?". Talvez essas coisas funcionem em livros clichês ou filmes clássicos, mas ele realmente não queria testar e acabar levando um pé na bunda junto de ser chamado de assustador.
    Claro que ele podia apenas mandar uma mensagem para o homem, afinal ele tinha seu número pelo grupo do prédio, mas quem disse que aquele rapaz de quase 1,90 tinha coragem para isso? Que bela piada. Então tudo que ele podia fazer era rezar para encontrar o rapaz na sexta feira a noite quando ambos chegassem em casa cansados. Às vezes eles falariam um pouco sobre o clima, talvez reclamassem sobre o síndico ou algum vizinho barulhento, mas não era realmente uma longa conversa muito menos informativa. E se tinha algo que Zoro desejava desesperadamente como um homem no deserto procurando água, era saber tudo que podia sobre Sanji.
    Então — na melhor das hipóteses — quando estava em casa para o fim de semana, o policial tinha a mesma rotina. Ele pegava uma cerveja e se escondia na sacada, onde podia ouvir o rapaz cantando, conversando com seus amigos ou até mesmo falando sozinho. De pouco em pouco, por mais assustador que fosse o observar dessa maneira, ele aprendia sobre o rapaz que continuava fazendo seu coração bater mais rápido e suas bochechas ficarem quentes.
    Para começar ele sabia que Sanji tinha 28 anos, a mesma idade que ele, era cozinheiro num restaurante do centro e era estranhamente popular entre as pessoas, já que havia sempre um grupo novo na sua casa periodicamente. Ele também tinha um gato e parecia adorar música clássica e apresentações de balé, Zoro suspeitava que ele até mesmo dançava, mas nunca pode realmente confirmar essa teoria. Pelo visto ele tinha uma melhor amiga, Nami, que estava sempre em sua casa. Hoje não era diferente, ele podia ouvir a mulher se aproximando na sacada.
    — Então? — ela perguntou e fechou as portas da sacada, abafando os sons de outras pessoas conversando dentro da residência.
    — Então o que? — ele riu nervoso.
    — Não vai mesmo tentar dar uma desculpa por ter dado um fora no Barto?
    — Nami... Temos mesmo que falar sobre isso?
    — Eu só estou curiosa! Desde que você se assumiu bissexual eu pensei que você pegaria o dobro de gente, poxa vida! Porém tudo que você faz agora é recusar homens e mulheres a rodo dizendo que eles não são a pessoa que você está esperando — ela bufou irritada.
    Ah, sim. A sexualidade de seu vizinho atraente era uma informação nova para Zoro. Embora fosse muito bem vinda. Ele havia descoberto isso quando sem querer viu ele beijando um rapaz na sacada, talvez ele tenha ficado com ciúmes e um pouco de inveja... Talvez ele também tenha bebido um pouco mais naquela noite, mas quando o homem não retornou mais seu coração se acalmou pensando que não havia dado certo. Embora depois ele tenha se culpado pensando que não tinha direito de desejar o fracasso na vida amorosa de ninguém, mesmo que fosse de seu crush.
    — E eles não são! Olha, o Barto era legal, mas ele não era o cara, tá bom? — ele suspirou cansado.
    — Como não? Ele literalmente te tratava como um deus! Caramba, ele fazia tudo por você, eu não consigo entender seu gosto pra homens.
    — Não é meu gosto! É só... Não sei... Eu não quero mais algo superficial, sabe? Quero achar aquela pessoa. — a voz do loiro era distante, como se estivesse perdido no assunto.
    — Aquela pessoa?
    — Você sabe... Aquela pessoa que você olha e pensa, porra, eu passaria o resto da minha vida com ela! — Sanji falou com uma súbita empolgação.
    — Oh... Entendi — riu — Tudo bem... Então ao mesmo me ajude a te ajudar, diga algo que aquela pessoa precisa ter de requisito, como sua melhor amiga minha obrigação é te ajudar a encontrar o amor da sua vida.
    — Hm... Eu nunca pensei nisso... Eu acho... Um gato — falou simplista.
    — Um gato? Tipo, bonito? — a mulher perguntou confusa.
    — Não, não — ele riu — A pessoa teria que gostar de gatos, de preferência até ter um. Sim, meu tipo é definitivamente alguém que gosta de gatos!
    — Uau — ela riu — Ao menos você quer um obcecado por felinos igual você!
    Bem. Isso era definitivamente algo. Primeiramente Zoro comemorava mais um dia que Sanji continuava solteiro, ele dizia a si mesmo que uma hora ele teria coragem para ter um avanço romântico sob o outro e para isso era muito importante que ele não estivesse com ninguém. Porém, em contra partida, isso era uma informação um tanto terrível. Afinal havia um enorme problema, porque Zoro não tinha um gato. Ele nunca sequer havia considerado ter um animal de estimação, mas saber que isso era um requisito mínimo e obrigatório para ter uma chance com seu vizinho charmoso fez seu estômago afundar em preocupação. Onde diabos ele ia arrumar um gato?!
    Para sua tristeza, Sanji e a outra garota entraram no apartamento e não saíram mais naquela noite. Ainda confuso e pensando nas possibilidades loucas que tinha em mente, Zoro também se levantou e decidiu tomar um banho para então ir dormir. Não demorou muito e logo estava se enrolando nos lençóis enquanto olhava o teto, inúmeros pensamentos se passavam pela sua cabeça, mas o principal era o bendito gato. Primeiro que o animal de estimação mais próximo que ele teve eram os inúmeros ursinhos de pelúcia de sua irmã mais nova, claro que eles não falavam nem tinham necessidades básicas e isso já era suficiente para dizer que não eram realmente bons exemplos de pets.
    Ele também não fazia a menor ideia de como se arrumava um gato, você pegava um na rua e levava para casa? Além do mais, o que os gatos precisam? Sabia que eles não faziam necessidade como cachorros mas também não conseguia entender qual o conceito de caixa de areia... E para piorar, gatos eram tão pequenos comparados a cachorros, e se algum dia ele pisar no bichano sem perceber?! Isso poderia se encaixar numa denúncia de maus tratos. O homem gemeu frustrado enquanto virava de um lado para o outro, como podia um animal ser quase tão trabalhoso quanto criar e comprar coisas para um filho? Não que ele tivesse um filho, mas sua amiga Robin tinha e como padrinho da criança ele se lembrava muito bem de meses sem dormir apenas para comprar fraldas, móveis e tudo mais que o pequeno ser iria precisar.
    Se na melhor das ocasiões ele conseguisse um gato e o básico para o animal sobreviver, o que isso exatamente lhe dava vantagem na busca do coração de Sanji? Eles moravam numa cidade enorme e ele sabia muito bem que não seria o último cara de lá de ter um gato, além de que nunca haviam tido uma real conversa e ele nem teria abertura para explicar que havia conseguido um novo animal. Sem contar obviamente que mesmo tendo um gato o seu vizinho poderia apenas lhe recusar, não era como se ele fosse obrigado a ser atraído pelo policial, mesmo que ele tivesse o bichano que tanto amava. Então era realmente uma boa opção arriscar isso e acabar preso com um bicho que nunca havia cuidado?
    O amor era perigoso e fazia humanos cometerem loucuras. Era essa a conclusão de Zoro após se levantar num sábado à tarde e começar a se preparar para procurar um abrigo de animais. Ele só podia estar realmente louco se pensava seriamente na ideia de adotar um animal apenas porque seu paquera disse que gostava deles, se fosse apenas para ler um livro ou até mesmo ver uma série ainda era perdoável, mas um animal?! Ele só podia estar enlouquecendo e precisava de ajuda médica, era isso que dizia a si mesmo enquanto terminava de comer seu macarrão instantâneo e pegava as chaves do carro para dirigir pela cidade em busca do tão desejado bichinho. Ele tinha os endereços no celular e iria procurar um pouco até descobrir um local onde pudesse realmente adotar um animal com tranquilidade e segurança, não iria comprar pois desde jovem havia ouvido de sua irmã, que ele intitula de militante, como o mercado de animais era cruel e incentivava condições horríveis para a criação e venda dos pobres coitados. Então ele iria adotar sem sombra de dúvida.
    Demorou pouco mais de uma hora e meia para realmente achar um abrigo, ele passou por dois deles durante sua viagem à cidade, um estava fechado e o outro apenas resgata cachorros, o que não era seu objetivo. Por sorte um dos voluntários do abrigo sabia de um abrigo apenas para gatos e foi simpático em lhe dar o endereço, assim o poupando de ficar mais algumas horas no Google procurando um local para adotar o felino. Quando chegou lá e ele pode sentir o suor escorrendo e a respiração ficando acelerada, ele realmente iria fazer isso? Mordeu o lábio inferior enquanto pensava que aquela era sua última chance de voltar atrás e apenas desistir da ideia. Não iria devolver o gato uma vez que pegasse e mesmo que se arrependesse tinha botado na cabeça que iria cuidar e proteger do animal que havia sofrido muito antes.
    Uma parte de si pensou em como os animais eram bons companheiros, se lembrava de ir visitar seu meio irmão Ace e conhecer o cachorro de seu cunhado, Stefan. Era um enorme cachorro branco e até meio velho, ele era muito carinhoso e adorava dormir sempre que possível. Ele também sabia que o irmão de Franky, marido de Robin, tinha vários ratos e até mesmo alguns hamsters. Embora ele achasse nojento criar roedores, sabia muito bem que eram uma boa companhia. Poxa vida, até mesmo namorado de Luffy tinha um cachorro, Bepo, um pequeno cachorro branco que adorava visitas e se escondia perto de todo barulho alto. Não era como se fosse totalmente alheio a vida de ter um companheiro animal.
    Mesmo que o plano de atrair Sanji desse errado, plano esse que ele tinha realmente planejado e decidido como iria funcionar, não parecia tão ruim assim ter um gato. Ele podia se imaginar chegando do trabalho e sendo recebido, tendo um companheiro para dormir e até mesmo passar os dias... Começou a pensar que talvez uma companhia fosse o que faltava para que sua casa finalmente se tornasse um lar. Sim. Um companheiro que o amaria incansavelmente e de forma recíproca além de ser seu melhor amigo parecia muito bom para alguém tão solitário como Zoro, por que nunca tinha pensado naquilo antes?
    Com um sorriso discreto ele decidiu adentrar no lugar, tinha uma pequena recepção com cadeiras e portas de ambos os lados que deveriam levar para as baias de animais. Ele se aproximou com cautela da recepção, havia uma mulher sentada mexendo em alguns papéis na pequena mesa improvisada que deveria ser um balcão... Porém algo estava estranho, Zoro sentia que conhecia aquela mulher de algum lugar.
    — Oh! Boa tarde senhor — ela sorriu — Posso te ajudar em alguma coisa hoje?
    Se Zoro não fosse muito bom em ter uma cara inabalável independente da situação, ele definitivamente estaria de queixo caído e olhos arregalados. A mulher na frente era definitivamente a amiga que estava sempre no apartamento de Sanji! Ele reconhecia aquela voz e cabelos ruivos a distância, ele nunca imaginou que numa cidade grande em algum momento ele iria trombar com algum conhecido de seu vizinho, além que encontrasse não pensou que seria tão rápido e numa situação tão... Incomum? Tossindo um pouco para recuperar a compostura, ele rapidamente encontrou voz para não parecer tão surpreso.
    — Ah, sim... Eu gostaria de adotar um gato — coçou a nuca, era assim que essas coisas funcionavam?
    — Sério?! — os olhos da mulher brilharam — Ficamos extremamente felizes que você tenha vindo até nosso abrigo para isso! Milhares de animais são abandonados na rua e você nem imagina o bem que vai estar fazendo ao levar um desses amorosos serzinhos para casa! — ela dizia emocionada, parecia estar caprichando já que era a primeira vez que via o homem ali.
    — Ah, sim... Eu não gostaria de comprar um animal, parece meio desperdício quando se tem tanto procurando lares — falou o que realmente pensava, era sua opinião sobre adoção e outros assuntos parecidos
    — Ah! Sim! É tão bom ver pessoas com bom senso! Você nem imagina o quão feliz seu novo companheiro vai ficar ao ir contigo para casa, pode ter certeza que vai ter um amigo extremamente amoroso para toda sua vida — ela sorriu sincera.
    — É meu objetivo...
    — Você já tem algum outro animal? Outro gato, cachorro ou pássaro? Ou é sua primeira vez adotando?
    — É minha primeira vez na verdade, eu tive alguns cachorros quando criança mas eram mais dos meus avós, não cresci realmente cuidando de nenhum então... Zero experiência — disse meio envergonhado.
    — Sem problemas! Nós vamos te dar nosso número e você pode nos chamar a qualquer dúvida! Além de que já recomendamos veterinários para qualquer problema de saúde que ele possa ter no futuro. Você quer um filhote, adulto ou idoso?
    — Eu posso escolher isso? Ah... Eu não pensei muito nessa parte, só queria olhar eles e tentar ver qual gosta de mim — não tinha realmente uma preferência por um animal, não eram todos iguais dignos de seu amor?
    — Sem problemas! Nosso gatil está sempre aberto para visitas, venha, vou te mostrar os felinos e o senhor pode tentar se aproximar de algum e ver se eles chamam sua atenção!
    Ele concordou e a mulher saiu detrás do balcão e foi até uma das portas duplas, ele a seguiu e logo estavam em um longo corredor com várias portas e algumas placas de identificação.
    — Qual seu nome, senhor?
    — Zoro, Dracule Roronoa Zoro...
    — É um prazer, meu nome é Nami, você trabalha com o que?
    — Hm... — dizer que não estava incomodado com as perguntas seria um eufemismo, mas ele entendi que provavelmente seria necessário para sua ficha — Eu sou policial, nada demais...
    — Oh, que incrível! Obrigado por todo seu trabalho duro para nossa segurança!
    — Imagina... Meu maior trabalho costuma ser assinar papéis — riu fraco.
    — Entendi, sua namorada sabe que o senhor pretende adotar um animal? Geralmente os casais vêm juntos olhar — a mulher falou com um tom malicioso e meio suspeito.
    — Ah, não, não tenho namorada... Eu não jogo nesse time — disse mais baixo.
    — oh! Desculpas! Namorado então? — isso era realmente importante? Foi o que Zoro pensou, mas ele apenas respirou fundo para responder a mulher.
    — Sim… Quer dizer, não! Eu sou solteiro! — disse com as bochechas vermelhas, por sorte ela só olhava para frente.
    — Entendi — ele podia ouvir o sorriso malicioso da mulher — Chegamos no gatil! — ela abriu os braços.
    Haviam inúmeras gaiolas de concreto pela parede, tinham a capacidade de dois por altura e em cima havia alguns brinquedos de gatos, potes de rações e itens higiênicos.
    — Cada gaiola tem no máximo dois gatos, alguns não gostam de ficar separados então ficam assim, mas a maioria só tem — ela foi em busca de um caderno não muito longe — Todos tem nome e idade no papelzinho colado na portinha da gaiola, você pode tentar fazer carinho ou interagir mas já aviso que alguns são bem ariscos com desconhecidos.
    — Certo... Hm...
    Zoro olhou em volta sem saber ao certo o que fazer, como faria para escolher o gato perfeito para si? Tinha lido que os donos sempre sabiam qual era o escolhido, mas agora que o momento havia chegado ele pensava que parecia bem mais difícil do que nos blogs. A mulher ruiva escrevia naquele caderno e ele sabia que estava por conta própria na escolha do bichano, afinal o animal era para si. Andou devagar observando os animais, tinham cores e tamanhos diferentes, alguns dormiam, outros estavam comendo ou até brincando sozinhos ou com seus parceiros de gaiola. Ele pensou por um momento que tipo de gato gostaria de ter... Talvez um que fosse agitado para que ele tivesse dias menos monótonos? Ou um calmo para que pudessem descansar todo fim de turno assistindo alguma bobeira na televisão?
    Então um sorriso bobo dominou seu rosto, talvez ele quisesse um gato igual a Sanji. Alguém que a primeira vez poderia parecer inalcançável e até mesmo rude, mas era extremamente aberto e gentil com aqueles que precisavam, alguém que era forte e determinado e não desistia mesmo quando as coisas davam errado. Alguém que tivesse bons amigos e fosse sociável mesmo no fundo só confiasse em alguns poucos. Ele queria um gato que fosse tão amável e caloroso quanto aquele vizinho que ele compartilhava uma estranha ligação... Parecia justo o gato lembrar exatamente a pessoa que era o motivo dele estar sendo adotado em primeiro lugar, não é?
    — Eu vou pegar umas coisas pra terminar sua ficha, já volto viu, se algum deles parecer calminho pode tirar da gaiola pra brincar, mas cuidado — ela disse e pegou o caderno saindo da sala e fechando a porta.
    Um pequeno miado tirou de deus pensamentos românticos pelo outro rapaz, ele se aproximou e se deparou com um pequeno gato laranja tigrado de listras brancas. Era um filhote que provavelmente cabia em suas pequenas mãos. Ela tinha um enorme laço amarelo em seu pescoço e seus olhos castanhos escuros lembravam um pequeno coelho inofensivo. Ela miou mais uma vez e se aproximou da porta da gaiola, se esfregando no metal como se imaginasse que fossem as mãos do policial.
    — Oi pequenina... — sorriu sem perceber e com os dedos fez um pequeno carinho no pelo do animal pela grade — Você é bem menor do que esses outros, não é?
    O gato miou em resposta e então fez algo que Zoro não esperava, ela simplesmente mordeu a ponta do seu dedo e então começou a ronronar como se tivesse gostado de realizar a ação.
    — Ei! — disse assustado — Olha só, você também é durona né? E eu achando que você era bobinha — riu se divertindo com o animal.
    Decidiu então fazer o teste real de convivência, com cuidado abriu a gaiola e pegou com um certo jeito desajeitado e a aproximou de seu peito. O gato miou um pouco pela mudança de ambiente, mas ao perceber o calor e o carinho que estava recebendo logo se acalmou, se aproximando mais da roupa e começando um baixo ronronar.
    — E aí? Acha que vamos nos dar bem?
    Até que ele havia gostado dessa ideia de ter um gato, estava assustado com a ideia do animal lhe odiar ou até mesmo que ele o maltratasse sem querer pela sua falta de experiência. Mas agora com ela em seus braços enquanto o animal ronronava e aproveitava do seu amor, talvez ele sentisse que seria a melhor decisão do mundo ter um companheiro animal. Ele olhou no papel da gaiola e só pode rir ao perceber o nome do animal.
    — Carro, em? — riu — Bem... Eu conheço um cozinheiro, sabe? Espero que ele não queira te levar pra panela... Até porque você é uma delícia — riu pela estupidez de estar conversando com um gato que sequer lhe entendia, mas os leves miados da gata o faziam se sentir menos bobo.
    Olhou em volta vendo que Nami ainda não tinha retornado, colocou então a pequena gata em sua gaiola e decidiu ir atrás da moça para que falasse que já havia decidido qual gato iria levar para casa. Abriu devagar a porta da sala quando ouviu não muito distante a voz da mulher.
    — Eu tô te falando! Ele parece ter saído de um filme!
    Sua testa franziu em confusão, ela parecia estar conversando ao telefone. Não era exatamente algo educado de se fazer, principalmente porque podia sentir seu pai o olhando em desgosto por não usar a educação que ganhou em casa, mas algo em sua estava gritando para que continuasse escondido e ouvisse a conversa da mulher. Então apenas por desencargo ele abriu um pouco mais a porta e continuou no mesmo lugar para escutar.
    — É sério! Ele é um gatão! Além de ser estudado, ele é até policial! Imagina um gostosão de farda aparecendo na tua casa, em! — ela dizia maliciosa — Ele é totalmente solteiro e provavelmente bisexual, embora pra mim ele tem essa cara de machão pra atrair mulher quando no fundo só pega homem — desabou aos risos — Qual é! Tô falando sério, você não queria um bonitão que gostasse de gatos? Pois um bonitão apareceu aqui hoje e tá adotando um gato!
    Se ele tinha dúvidas sobre a conversa ser sobre si, elas haviam morrido na segunda frase que a mulher falou. A questão principal era por que e com quem ela estava falando sobre si, isso sim causou bastante dúvidas na cabeça de Zoro.
    — Ele é bem na dele sabe, daqueles caladão... Mas não foi mal educado nem nada do tipo, talvez ele se abra mais com quem ele conheça, mas vai, eu vou pegar o numero dele pra por na ficha e você manda uma mensagem! A desculpa pra você ter o número dele? Aí... Sei lá, fala que era pra ser o número de algum amigo e deu o dele, você nunca se importou com isso antes porque liga agora?! — ela gritou brava.
    Rindo o rapaz decidiu que era hora de fazer sua presença conhecida, mesmo que reconhecesse a tentativa de descolar um encontro para si, tudo que ele tinha na cabeça era adotar o gato e voltar para casa o mais rápido possível.
    — Com licença? Eu decidi com qual quero adotar — ele sorriu para disfarçar que estava escutando a conversa.
    — Ahn? Ah! Claro, claro! — ela acenou furiosamente — Eu te ligo depois — ela falou no telefone e desligou — Me mostra qual foi então!
    De volta ao gatil, ele foi rápido em apontar para o pequeno gato laranja que miava tentando passar sua minúscula caneca pelas grades de metal.
    — Oh! Pequena Carrot — ela sorriu e se aproximou para pegar o gato — Ela tem quatro meses ainda, é uma filhotinha ainda, daqui dois meses você precisa levar ela para um veterinário para iniciar a castração.
    — Certo... Vocês podem me dar o número de um? Eu realmente não conheço essas coisas — coçou a nuca.
    — Claro, vamos te passar todos os contatos que pudermos pra te ajudar! Ela é bem agitada mas se acostuma fácil, pode ser um pouco difícil se você for muito ausente... Ela é meio carente — ela pegou uma caixa de contenção e colocou o animal dentro.
    — É... Isso é complicado, mas eu acho que vou parar de fazer tantas horas extras, se for apenas minha rotina de trabalho normal eu devo chegar pelas cinco ou seis e ficar com ela até às nove do outro dia... — começou a reorganizar seu horário na cabeça, bem que seu pai disse que ter filhos requer tempo.
    — Isso seria bom! Ela vai se acostumar a ficar sozinha por alguns períodos eventualmente, se tiver brinquedos em casa ela nem vai ligar muito, porém ter um bom tempo de qualidade com ela quando puder vai fazer toda a diferença — ela pegou a caixa e deu ao homem que segurou rapidamente — Você pode terminar de assinar umas coisas aqui só pra finalizar sua ficha? Além disso, eu preciso saber se sua casa tem os itens necessários pra criação dela.
    — Posso assinar sim... Coisas necessárias? Tipo o que?
    — Ah, bem, é que você comentou ser novo nesse processo de cuidados básicos, precisamos saber se ela tem cama, caixas de areia, potes para água e ração, ração apropriada para a idade, brinquedos, além da segurança em telas de janela e etc, coisas básicas, sabe? — Ela pegou uma prancheta e começou a escrever novamente.
    — Nossa... Tá — disse surpreso, como assim aquele ser minúsculo que não devia pesar mais que 5 quilos precisava de tudo aquilo? — Você pode me fazer uma lista? Ou melhor, vocês vendem tudo isso? Eu... Foi uma decisão meio de última hora, eu acho que só agora caiu a ficha que ela precisa de tudo isso — confessou com vergonha, que ótimo dono ele estava sendo.
    — Não se preocupe — ela riu terminando de escrever — Estamos acostumados com os donos mais doidos do mundo, alguns acabam beirando os maus tratos por falta de informação, mas duvido que seja seu caso.
    — Não, não! Eu só... Não sei mesmo, eu nem sabia como se adotava um gato pra ser sincero... E eu quero cuidar bem dela, então eu vou comprar tudo que for preciso.
    — Isso que gostamos de ouvir, escreve as informações em branco aqui que vou te levar pro nosso pet shop que fica conjunto com o abrigo, daí lá compramos tudo que sua nova amiga precisa, feito?
    — Feito — sorriu satisfeito.
    Demorou pouco mais de hora para que tivessem finalizado tudo, Zoro aproveitou a oportunidade para tirar algumas breves dúvidas sobre gatos e os cuidados que iria precisar ter na casa e etc. Por sorte ele pode comprar o básico no abrigo que também vendia itens para arrecadar um dinheiro extra, faltando apenas roupas e alguns brinquedos mais sofisticados para o animal se divertir quando ele estivesse trabalhando, além é claro de medidas de seguranças, sendo uma coleira e uma guia para passear se ele quisesse. Ainda bem que os apartamentos tinham todas as janelas e varandas das sacadas com telas por medidas de segurança com crianças pequenas, logo não iria precisar desembolsar do seu bolso esse detalhe.
    Então com um gatinho dormindo em sua caixa transportadora no banco da frente e o porta-malas cheio de itens que iam de ração, areia, camas e brinquedos, Zoro pode finalmente dirigir para sua própria casa e buscar um pequeno descanso pela correria que fez logo na sua folga. Demorou um pouco para levar tudo até o elevador e finalmente chegar ao quinto andar, mas não demorou para que estivesse de volta a sua sala bagunçada.
    — Bem... Bem vinda, eu acho, não é muito grande mas como você é minúscula provavelmente vai parecer uma mansão — ele coçou a nuca sem saber o que fazer.
    Nami tinha sugerido que ele lesse alguns artigos sobre adaptação de gatos em novos lares, mas ele não estava realmente interessado nisso, não achava que teria muito para aprender sobre fazer um animal abandonado se sentir acolhido. Então ele guardou todas as coisas, preparou a caixa de areia e a cama na sala e tirou as roupas do chão para evitar mais bagunça. Então ele abriu a pequena caixa após pôr os potes de ração e água e decidiu ir tomar um bom banho, precisava também pensar no que iria comer pois seu estômago já começava a lhe incomodar.
    Carrot não saiu da caixa e talvez ela estivesse tímida num ambiente novo, o policial não pensou tão seriamente nisso até que cruzou o corredor deixando o gato sozinho na sala. Então começou, uma enorme choradeira, ela não estava miando feliz como fez no abrigo, agora ela miava desesperada e quase como se estivesse ferida. Zoro foi tão rápido para a sala que deslizou no chão e quase foi de bunda ao chão, sendo salvo por se agarrar na parede azul claro da sala. Ele olhou em volta desesperado procurando o que poderia ter machucado o animal e principalmente procurando o animal em si, mas tudo que encontrou foi a sala do mesmo jeito que ele havia deixado.
    — Carrot? — ele chamou preocupado, mas a gata não parecia estar em lugar nenhum, ele então se ajoelhou na frente da caixa transportadora e lá estava o animal encolhido em um canto — Você tá tentando me matar e ficar com a herança é?
    Ele fez um pequeno carinho no animal que ronronou tranquilamente, então se levantou e voltou para o corredor indo em busca de seu banho. Não bastou dois minutos após sua saída para que a gata começasse a berrar novamente, ela miava desesperada e era impossível não ouvir, então o policial voltava para a sala e magicamente a choradeira parava. Zoro franziu o cenho ao perceber que o gato não queria se separar dele, isso provavelmente seria um enorme problema futuramente quando ele tivesse que sair para trabalhar. Até havia pensado em levar ela para o banho consigo, mas ficou com medo do calor do banheiro ser demais para o animal frágil. Isso fez ele começar a questionar o que faria para conseguir tomar um banho.
    Isso até uma batida na porta. Não precisava ser muito inteligente para saber que era algum vizinho vindo reclamar da choradeira da gatinha já que estava anoitecendo e logo as crianças dos seus vizinhos iriam dormir e tudo mais, ele suspirou fundo se preparando para ser o mais amigável possível enquanto pedia desculpas pelo barulho. Embora não fosse proibido ter animais no prédio, era pedido que fossem de porte pequeno e de preferência mais quietos, claro que algum barulho era perdoável, mas não era permitido exagero. Ele alongou o pescoço e foi até a porta, girando as chaves e abrindo a porta de madeira escura para encarar quem quer que fosse.
    — Ah, oi!
    Talvez não qualquer um que fosse. Afinal vendo Sanji ali na sua frente, com roupas casuais largas e um sorriso estampado na sua cara, Zoro tinha certeza absoluta que não havia treinamento algum na polícia que o preparou para esse encontro inesperado. O que ele estava fazendo ali? Ele ficou um pouco surpreso pelo encontro e para de alguma forma recuperar a compostura de ser pego desprevenido, então tirou voz de algum lugar para responder o rapaz loiro.
    — Oi... — se estapeou mentalmente pelo jeito rude que soou.
    — Então... É daqui que tá vindo os miados de gato, né?
    — É... Me desculpa, ela chegou hoje e eu acho que não tá gostando muito daqui, não sei... Eu vou tentar fazer ela parar de miar, desculpa mesmo pelo barulho — disse com as bochechas vermelhas, parecia tão bobo falando, era esse o efeito que Sanji tinha em si?
    — Ah, não, não! — ele riu e o estômago de Zoro embrulhou — Não é por isso que vim atrás, eu ia perguntar na verdade se você quer ajuda, eu tenho criado gatos desde que era um garotinho e eu achei que podia ser seu primeiro gato já que faz bastante tempo que você mora aqui e nunca teve um animal...
    — Ah! Na verdade... Eu ia aceitar algumas dicas, eu realmente não faço a menor ideia de como cuidar de um gato — coçou a nuca — Se não for incomodo para você, claro.
    — Imagina, vou adorar te ajudar, ainda mais se puder conhecer a pequena chorona — ele riu.
    — Claro, sinta se à vontade — ele abriu espaço para o rapaz entrar no apartamento.
    O rapaz loiro entrou sorridente e logo estava na sala observando todo o ambiente. Uma pontada de preocupação apertou o peito de Zoro, ele sabia que sua casa não era lá a mais bonita e atrativa, além de estar bem bagunçada por ser tão desorganizado, não podia evitar o medo que corria pelas suas veias daquilo acabar assustando Sanji. Engoliu fundo e fechou a porta, já estava pronto para dar uma desculpa sobre a bagunça quando o outro homem falou.
    — Acho que aquela frase da casa ser a representação da pessoa é verdadeira — ele se virou sorrindo. Zoro não entendeu, ele estava dizendo que ambos, a casa e ele, eram bagunçados e sujos?
    — Ahn? Isso é um jeito legal de dizer que tá tudo uma bagunça? — ele riu nervoso.
    — Não! — os olhos do rapaz se arregalaram em choque, ele parecia realmente surpreso de ter sido compreendido daquela maneira — Nunca que eu iria julgar a bagunça de uma casa, seria meio hipócrita considerando o meu quarto — ele riu com as bochechas levemente vermelhas — É só que... Você é todo sério e na sua, sabe? E a sua casa é exatamente a mesma coisa, não parece um lar pra mim, só parece uma casa pra suprir as necessidades básicas e só... Droga, quanto mais eu falo mais piora, né?
    — Não... Eu acho que entendi, de verdade — ele desviou os olhos envergonhados — Eu realmente não trato isso como um lar, é igual você falou, só venho quando preciso, não é grande coisa pra mim — deu de ombros.
    — Entendi... Você é muito trabalhador, né? Quase nunca te vejo por aqui, nem dá tempo de conversar com você... — ele continuou se movendo pelo cômodo enquanto explorava.
    — É.... Eu trabalho mais do que deveria, mas você pode sempre bater na minha porta, se.... Uhn... Se quiser conversar — ele não entendia como uma simples frase podia lhe abalar tanto, mas ele estava surtando que Sanji, seu vizinho lindo e por quem ele tinha um penhasco, estava assumindo que desejava conversar com ele.
    — Entendo, eu vou manter isso em mente quando ver que você está em casa... No que você trabalha? Eu posso sentar? — ele se aproximou do sofá e de onde Zoro estava parado.
    — Claro, pode sentar sim — ele fez seu caminho para o outro sofá e se sentou — Eu sou policial, então meus turnos são uma loucura — riu um pouco com certa saudade da correria.
    — Ah! Policial? — ele arqueou o rosto em certa preocupação. Será que ele era aquelas pessoas que odiavam policiais? Se fosse então as chances de Zoro o chamar para sair tinham voado pela janela, o rapaz loiro se recompôs rápido como se ignorando uma paranóia. — Policial... Uhum, é... E o gato? Qual o nome?
    — Ah! — se lembrou do motivo para qual Sanji havia entrado lá — É ela, se chama Carrot, a moça disse que ela só tinha quatro meses — ele cutucou a caixa transportadora que estava encostada no sofá — Por algum motivo ele se recusa a sair da caixa, só que se eu tento sair da sala ela começa a berrar...
    — Ah, uma filhotinha! Deve ser uma graça, saudades de quando meu Pedro era só um neném... Ela provavelmente tá com medo do novo ambiente e por isso não quer que você saia, vou tentar tirar ela da caixa, isso pode fazer ela perceber que tá segura no novo ambiente — o homem se levantou e se sentou no chão.
    Zoro observou a cena curiosa, nunca tinha visto Sanji em ação mas confiava que ele sabia o que estava fazendo por ser também dono de um gato e ao que parece por alguns anos a fio. Primeiro ele fez alguns barulhinhos chamando a gata pelo nome, mas ela ainda se recusava a sair, ele então enfiou sua mão lá dentro e apenas deixou.
    — Ela precisa me cheirar primeiro, assim ela decide se sou ou não uma ameaça, ela também pode reconhecer o cheiro de outro gato e ficar mais calma já que estava acostumada com vários gatos no gatil — ele explicou vendo a confusão do policial.
    Então após alguns segundos o loiro agarrou cuidadosamente o gato que não demorou para começar a chiar e tentar escapar, rapidamente Sanji a tirou da caixa e fechou a porta impedindo que ela voltasse a sua fortaleza. Ele a soltou no chão e logo ela começou a olhar para todos os lados em desespero tentando absorver o novo ambiente, mas ela não parecia realmente interessada nisso, já que correu para as pernas de Zoro tentando buscar abrigo.
    — Viu, ela gosta muito de você — ele riu — Mas ainda tá com medo da nova casa, é normal, principalmente para os filhotes que geralmente estão tão acostumados a estar perto de um gato mais velho ou de outros filhotes.
    — Medrosinha... — o rapaz exibiu um sorriso singelo enquanto acariciava o animal entre suas pernas.
    — Com o tempo ela vai aprender a não chorar tanto quando você for embora, mas nos primeiros dias ela ainda vai fazer algum barulho tentando fazer você voltar — O loiro sorriu observando a cena carinhosa entre os dois — Já é melhor avisar os vizinhos, embora não acho que a senhorita Tashigi vá se importar muito e bem, eu não me importo sabendo o motivo.
    — Sim... Eu falo com ela depois — coçou a nuca e se afundou no sofá.
    — Oh, desculpa, vocês ainda estão brigados? Eu realmente não sou bom com essas coisas de relacionamento então acho que vacilei mencionando sua namorada... Eu não queria... Me intrometer — disse com nervosismo e medo de arruinar a breve amizade que estavam construindo.
    — Ahn? Minha namorada? — Qual era o problema de todos acharem que ele estava namorando justo naquele dia? — Tashigi não é minha namorada, eu sou gay.
    — Ah! Nossa, me desculpa! É que vocês sempre pareceram próximos e bem... Eu, ahn, isso vai ficar estranho de qualquer forma então... Desculpa, por tudo, eu acho... — foi a vez do loiro desviar o olhar e mexer nervosamente no cabelo loiro.
    — Sem problemas, todo mundo acaba achando que a gente namora, mas ela é estagiaria na delegacia que eu trabalho então às vezes voltamos juntos por causa disso, ela não sabe dirigir então eu ajudo ela — explicou, por algum motivo não queria que Sanji achasse que ele estava indisponível, bem... Ele sabe exatamente o motivo disso — Eu sou solteiro então... — corou pensando que essa informação era totalmente desnecessária.
    — Ah... Eu também sou solteiro — soltou nervoso sem entender o rumo da conversa — Você... É... Espera! — ele se sentou reto e o olhou — Você é solteiro? — o homem de cabelos concordou com a cabeça — Gay? — positivo novamente — Policial? — ele concordou com uma feição confusa — E... Onde você adotou essa gata mesmo?
    — Hm... Naquele abrigo perto da sorveteria de quilo... Qual o nome? — ele pensou por um segundo — The Cat's Burlar Home? Algo assim...
    — Você... Você por acaso conversou com uma moça chamada Nami no abrigo? — um último positivo e o resultado foi a cara de Sanji ficando tão pálida que Zoro podia jurar que ele estava tendo um ataque de pânico ou um infarto.
    — Você tá bem? Por que isso do nada? — ele levantou e se sentou ao lado do rapaz, se ele desmaiasse ali pelo menos Zoro tinha treinamento de primeiros socorros, Carrot ficou na frente dos dois o olhando com certa confusão — Hm... Loirinho? — ele pôs a mão no ombro do rapaz.
    — Eu odeio meus amigos — ele afundou a cabeça nas mãos.
    — Certo... — disse confuso, o que exatamente ele tinha haver com isso.
    Foi quando brilhou na sua cabeça, a mulher no abrigo, a conversa no telefone... Tudo finalmente pareceu se encaixar e ele pode sentir seu rosto ficando quente com a descoberta.
    — Era com você que ela estava falando no telefone? — ele perguntou surpreso.
    — Você ouviu?! Ai meu deus! — ele se deitou no tapete, fez uma breve observação de como ele era felpudo e macio, até ver que o homem de olhos prateados o encarava com a boca aberta e as bochechas coradas... Ele era incrível e bonito, não, não era momento para pensar nisso!
    — Só um pedaço... Eu não tinha entendido muito, mas agora faz um pouco de sentido as perguntas dela — ele coçou a nuca nervoso mas se recusou a desviar o olhar. Em sua frente estava a mais bela visão que podia ver, os olhos azuis de Sanji totalmente descobertos e tremendo em nervosismo, as bochechas pálidas com pequenas sardas laranjas estavam rosadas num tom escuro vinho, sua boca estava aberta ofegante e todo seu cabelo estava espalhado pelo tapete de pelos negros, só destacando o dourado lindo que tingia os fios. Sanji era definitivamente o rapaz mais belo que ele tinha visto, cada detalhe nele era lindo, os olhos, a boca, as... — Suas sobrancelhas são estranhas — ele apontou após alguns momento de silêncio.
    — O que?! Isso é tudo que você tem a dizer após descobrir sobre a conversa?! E elas não são estranhas, você que é estranho! Seu... Seu marimo! — ele se levantou bruscamente e o olhou irritado.
    — Marimo? Mas isso de novo? — seu rosto fez uma careta confusa.
    — Um musguinho — disse rindo — Um musgo verde...
    — E agora ter cabelo colorido é problema é? — cruzou os braços irritado.
    — Não quando você tem quatorze anos, mas depois dos vinte cinco é meio... Punk — riu.
    — Ah pronto, tem preconceito com góticos — provocou.
    — Ah, só um pouquinho... Ainda mais um policial, não combina sabe...
    — Fala isso pro meu cunhado... Ele é cirurgião e se veste igual um emo de treze anos que levou a primeira rejeição amorosa — brincou sabendo que Law o mataria se lhe ouvisse falando assim.
    — O que?! — o homem loiro desabou aos risos enquanto imaginava a cena, não pensou que adultos com trabalhos tão renomados pudessem ser tão selvagens.
    — Além do mais, eu sou um péssimo exemplo de policial, quando adolescente meu pai me tirou da cadeia por pequenas infrações tantas vezes que eu perdia todas as férias de castigo — sorriu lembrando do passado.
    — Sério? Você deve ter sido um adolescente barra pesada — riu — Bem, se vale de consolo eu sou um cozinheiro e fumo, dizem que fumar tira o paladar.
    — E tira?
    — Eu fumo desde dos vinte e não sinto diferença — deu de ombros. Sem nem perceber já havia se acalmado apenas pelas distrações do outro homem, nunca tinha tido uma conversa tão leve assim sem ser com seus amigos próximos, geralmente ficava tão nervoso que a conversa ficava rígida e ele ficava desconfortável que só desejava ir embora o mais rápido possível. Não dessa vez pelo visto. — Olha só... Pela Nami, desculpa viu, ela é doida nesse negócio de me ajudar a arrumar um namorado...
    — Imagina, minha irmã é tipo isso, só que ao contrário, ela garante de me lembrar que nunca vou conseguir um — riu fraco — E não me incomodou... Vocês não foram desrespeitosos pra mim, então tá tudo bem... Além do mais... Ahn... É meio que o que eu tava buscando, eu acho.
    — Como assim? — o homem perguntou confuso.
    — Eu... Ahn... — ele desviou o olhar, não podia continuar escondendo o que havia feito, era menor contar agora do que se enrolar depois — Eu meio que... Ah, as vezes eu sento na sacada com a luz apagada e fico escutando os vizinhos... Ontem eu meio que escutei você falando que gostaria de sair com um cara que tivesse um gato e bem... Eu fui atrás do gato, foi bem irônico eu acabar indo logo no abrigo da sua amiga...
    — Ué... Mas por que você arrumaria um gato só porque... Oh! — ele exclamou com as bochechas vermelhas.
    Zoro fechou os olhos nervoso já sabendo que era a hora que era chamado de estranho e Sanji provavelmente iria na delegacia que ele trabalhava o denunciar, bem irônico para um policial mas acontecia. Tudo bem que ele também era culpado de ficar observando o vizinho de uma maneira tão bizarra, não tinha como esperar que ele iria pular em seus braços e o chamar de príncipe.
    — Ei — ele sentiu um toque tímido em sua bochecha — Abre os olhos.
    Respirando fundo ele concordou e abriu, Sanji estava sentado bem na sua frente e seus joelhos já estavam se tocando. Ele tinha um sorriso no rosto e estava com as bochechas levemente vermelhas.
    — A essa altura você devia ter saído correndo ou me chamado de stalker... — disse nervoso tentando quebrar o gelo.
    — Bem... Você não é exatamente um stalker já que só escutava as minhas conversas na varanda... E eu não posso ser hipócrita... Já que eu também escutava as conversas do policial bonitão com os colegas de trabalho tarde da noite... — disse envergonhado.
    — Ahn? — perguntou confuso.
    — Idiota — riu — Eu também escutava suas conversas as vezes... Alma de fofoqueiro é assim — disse sorrindo — E vai... Foi até meio fofo você tentar arrumar um gato só pra tentar descolar um encontro comigo, embora eu ache que você tenha realmente gostado da Carrot, eu vi como você olha ela.
    — É... Eu gostei — disse vendo o gato sorrindo em uma almofada no chão, parece que até mesmo ela havia se cansado dos dramas dos adultos.
    — Bom... Não é querendo te deixar confiante... Mas homens da lei todos fortes são totalmente o meu tipo... — ele revirou os olhos sorrindo.
    — Ah é? Como sabe que sou forte? — foi se aproximando lentamente.
    — Não é minha culpa se você sai sem camisa na sacada... — ele tentou se afastar.
    — Parece que um de nós fez bem mais do que só escutar conversas — riu maldoso — Te peguei!
    Zoro pulou em cima do rapaz e prendeu suas mãos ao lado da cabeça, Sanji apenas riu se divertindo e sem tentar se soltar. Eles se encararam sorrindo e pelo conforto de ambos na situação já podiam apostar que algo a mais iria rolar.
    — Eu não sou do tipo que beija em primeiros encontros, embora eu faria uma exceção pra você senhor policial — o loiro piscou sedutoramente.
    — Ah, eu não chamaria isso de primeiro encontro, mas já que você quer tanto assim uma desculpa pra me beijar... Você me daria a chance de te levar para um encontro? Lembra que sou seu tipo e de bônus tenho um gato bem fofo...
    — Hm... — ele soltou suas mãos — Acho que o encontro vai rolar com certeza... Mas o beijo, eu vou adiantar um pouco.
    E com isso ele puxou Zoro para perto e juntou seus lábios, não havia dicionário no mundo com palavras para descrever a sensação. Parecia como fogos de artifício explodindo em seu estômago enquanto ele tinha acabado de voltar de uma corrida. Seu coração batia rápido e a adrenalina corria pelas veias, ele fechou os olhos se deixando disfrutar do momento para que ficasse guardado para sempre em sua memória. Quem poderia dizer que no fim do dia Zoro acabaria conquistando dois amores para sua vida, um pequeno gato que seria seu eterno companheiro e bem... Um certo vizinho gato que se deixasse também seria seu eterno companheiro.
   

O gato do meu vizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora