🍃Desbravar era o verbo da minha vida. Conhecer, viajar, sentir-me em triz com a natureza e vivenciar novas experiências era o que me motivava a viver. Havia pelo mundo diversas culturas, diversos povos e na minha percepção, exclusivamente, cada um carregava seu encanto diferente, único. Fosse do sul da África ao polo norte. Era admirador de todas, no entanto, um habitat em especial me encantava além do normal, era surreal. Ah, Amazônia, maior berço histórico da fauna e da flora. Eu precisava, no ápice da minha existência conhecer aquele lugar, se não iria sentir pra sempre uma necessidade, um vazio. E me mover para realizar um sonho era o que eu mais fazia. Eu ansiava sair das pesquisas, das imagens e tocar, ver de perto a grandeza da floresta amazônica.
E foi isso o que fiz.
Nunca fui preso a um só lugar, já morei em diversos lugares, diversas cidades pelo mundo e de diversas formas. Eu não queria luxo, eu queria paz, natureza, conhecimento. Minhas viagens, estadias me renderam um leque enorme de experiência e eu me sinto renovado a cada parada. Mas nada, nada mesmo se comparava aquele lugar, a riqueza florestal enorme e repleta, do início ao fim de belezas e frutos. As árvores eram tão grandes que pareciam querer mostrar a sua superioridade. Não havia como descrever!
Meus passos cautelosos seguia um líder indígena nativo, estava atento e encantado com o seu rosto pintado, a cultura explícita na face e na terra daquele pequeno paraíso. A sintonia entre eles era íntima, quase palpável.
- Porangatu... - Falei, usando minha prática da língua local e histórica, o tupi. Eu precisava expressar o quão encantado estava. O cacique que me guiava pelas trilhas se assustou de antemão, mas sorriu e continuou sua caminhada, parecendo um pouco orgulhoso e aliviado por não termos que estabelecer um contato de apenas gestos. Anteriormente eu havia usado apenas o meu português mal aprendido. Os índios falavam ambas as línguas, talvez por tamanha pressão da sociedade intrusa de querer vê-los a parte do mundo fora dos matos.
Enquanto meus olhos analisavam e registravam cada canto verde, cheguei a uma conclusão. Não havia beleza maior que a Amazônia. Eu devia estar com os olhos brilhosos de admiração, com a boca aberta e parecendo uma criança com seu objeto de maior desejo em mãos. A sensação que sentia era basicamente a mesma, um prazer descomunal.
- Tudo isso, mata grande, rio grande, corre risco, nós, os animais, as plantas. - A voz abalada pela idade soou, como um apelo sutil dirigido a mim. Fiquei em silêncio, olhando o líder e as árvores, ouvindo a alvorada de bichos atrás. - Terra de índio sendo caçada. Bicho sendo caçado, mata sendo tirada do lugar dela. - Queria dizer algo, mas senti que meu pesar não poderia ser posto em palavras, porque eu não saberia o que dizer. Fiquei quieto, continuando a apenas andar atrás do cacique simpático que me recebeu. Um pouco triste por saber que não havia cuidados eficientes para a preservação.
O senhor me acolheu bem na sua tribo, mas embora eu tivesse deixado minhas coisas lá, uma mochila apenas, e visto as construções remotas e obedientes a natureza, não avistei ninguém além de poucas crianças brincando. Eu não perguntei nada, mas acho que percebendo minha certa curiosidade sobre onde estaria o resto, ele me respondeu. As mulheres estavam no rio, ensinando as jovens a lavar os alimentos e a colhê-los também. Os homens embrenhados no mato, caçando e ensinando os meninos. Todos estavam trabalhando.
- Filho meu, Kauê e filha minha caçam por aqui, com arco. - Ele me disse, fazendo com os braços o movimento do arco, como se quisesse me ensinar o que era. Sorri, era tão encantador. - Filha minha é brava, gosta de se meter na mata com a gente. - Sorriu, andando mais devagar. - É valente.
- Oh, isso é muito interessante. O cacique ensinou ela a caçar? - O perguntei, vendo-o negar com os dedos.
- Isso ser dela, eu não ensinei nada. Desde criança era menina da mata, correndo atrás de macaco. Filha minha ser abaetê, quer cuidar da nossa terra. - Pisou forte no chão, mostrando a veracidade de suas palavras, o contato de terra com pele, firme, intenso.
Me senti arrepiar dos pés a cabeça, porque aquela veemência não provinha de qualquer um. Eu os admirava, cada vez mais.
- O cacique... se importa? - Perguntei um tanto deslocado, levantando a câmera fotográfica que estava na minha mão. - de eu tirar uma foto sua, assim?
Ele riu, encarando a câmera. A sua concordância foi muda, mas igualmente válida como qualquer palavra.
Foram vários flashs, um melhor que o outro.
- Ficaram lindas. Guardarei com carinho. - As analisei, mostrando ao mais velho.
- Vamos andando, cari. Já é hora de comer. - Ele disse, depois de correr seus olhos pelas fotografias ainda curiosas para si. - toda tribo nos espera. Cari é curioso e vai gostar de conhecer mais.
Continuamos a nossa caminhada, até eu avistar a tribo entre as plantas. Antes de avançarmos, ele barrou meus passos.
- Filha minha não gostar de cari, tudo que não é daqui é risco pra ela. Não fica mal, é o seu jeito. - Concordei, entendendo-a até.
- Tudo bem, não há problema.
Ele sorriu terno, andando e abrindo espaço para eu atravessar as plantas e entrar na tribo novamente.
Todos me olharam, curiosos. Mas minha atenção foi toda para uma jovem, em pé, com um arco em mãos e cabelos na cara. Seu corpo era lindo, curvilíneo e me segurei para não olhar seu físico completamente nu. Seus olhos pintados com uma faixa vermelha mostravam nas orbes negras seu descontentamento em me ver ali. Embora seus olhos mostrasse explicitamente perigo, eu queria me aproximar. Eu não conhecia aquela sensação, mas eu sabia que aquilo não era normal. Ela me analisou dos pés a cabeça, me avaliando. Eu a acompanhei, até seus olhos voltarem para os meus e eu sentir uma coisa subir pelo meu sangue: desejo.
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Sangue Tupi (Kim Taehyung)
FanfictionEu gostava de viajar, conhecer, desbravar cada canto do mundo. E foi assim que eu a conheci. Selvagem, era o que a definia bem, uma mulher que me deixou perdido na sua imensidão, por que ela era a energia e a força da Amazônia. Eu sabia que eu ia me...