XXV

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Sonic desmaiou em poucos segundos no sofá, adormecido como um anjinho. Me permiti assisti-lo roncar baixinho ao meu lado, abraçando meu corpo confortavelmente. Sabia que não poderia ficar assim para sempre e, com muito pesar, contentei-me em deixá-lo descansar enquanto preparava um café da manhã para ambos. Temendo seu despertar, retirei meu corpo de seus braços lentamente, depositando no local uma almofada, que não tardou em ser esmagada pelo garoto frágil. Um sorriso teimou em pintar meus lábios inchados pelos cálidos beijos e fortes mordidas que anteriormente vivenciamos juntos.

Vesti-me o mais rápido que pude, procurando tanto as minhas quanto as suas peças de roupas espalhadas aleatoriamente pelo cômodo escurecido. Agradecia por tudo ter ocorrido de manhã, assim não tive de me preocupar em fechar as cortinas para nenhum engraçadinho interessado em assistir pornografia ao vivo pela janela das casas alheias nos ver.

Deixando as vestes de Sonic próximas de onde dormia, dirigi-me à cozinha, onde passei a preparar um café da manhã americanizado, sendo esta a única coisa que passou pela minha cabeça (além de Sonic) naquele momento. Enquanto me ocupava cozinhando ovos, bacon e outras iguarias, cantarolando baixinho músicas românticas, senti-me ser observado. Sabia quem era, e com um sorriso abobalhado, levantei as íris naquela direção, tendo uma troca de olhares longa com o "belo adormecido".

Ele não demorou para se aproximar, envolvendo seus bracinhos em torno de minha cintura enquanto continuava a cozinhar. Seu calor me deixou anestesiado, me forçando a virar para depositar um beijinho terno em sua boca macia. Por sua cara, podia apostar que degustou, a apreciação visível. Resolvemos ficar envoltos por aquele silêncio confortável até o fim do café da manhã, quando ambos terminamos de lavar a louça conjuntamente. O azulado foi o primeiro a se manifestar.

- Obrigado pelo delicioso café da manhã, Shadow!

Suas palavras doces aqueceram meu coração, mas meus pensamentos agora já estava avoados, voltando à comoção que era minha vida real; tudo que vivemos no período de duas horas parecia falso demais, como um sonho tão bom que nunca se tornará realidade. Apercebido de meu retorno aos devaneios, tocou meu ombro, trazendo meus lumes de encontro aos seus.

- Ei, o que aconteceu? Eu falei algo ruim?

- Não - respondo rápido, soltando um suspiro que não notei estar prendendo. - É só que... acabamos de fazer uma coisa que não devíamos. - Suas sobrancelhas se elevaram, dando-me a entender que não compreendeu o que dizia. - Tivemos um momento íntimo... sendo que disseste que estamos dando um tempo.

Ainda com uma expressão confusa, respondeu com convicção:

- Eu não disse isso! Você perguntou se estávamos dando um tempo, mas eu não falei que sim e nem que não. Tirando conclusões precipitadas sozinho, hein?

Alívio tomou conta de meu ser, e me permiti soltar uma risada, acompanhada da sua, soando como melodia matutina em meus ouvidos, que antes zuniam.

Novamente, não dissemos nada, apenas ficamos naquele ínterim de nos olharmos profundamente, o som de nossas respirações sendo a única coisa presente no ambiente ainda sem luzes acesas. Não demorou para sairmos juntos de volta à sala, onde fiz questão de abrir as cortinas, iluminando o local com o sol radiante que brilhava no céu azul sem nuvens.

Sonic não se preocupou com a sujeira, atirando-se de volta no sofá de forma despojada. Fiquei em dúvida se fazia o mesmo ou me contentava em sentar no tapete do chão, mas não tive tempo de me decidir, sendo puxado pelo azulado para ficar ao seu lado. Incapaz de negar, sentei-me em um cantinho, assistindo-o remexer-se até estar com a cabeça escorada em minhas coxas cobertas pela calça de moletom que usava em casa - usá-la na presença de Sonic não me deixava desconfortável como imaginei que deixaria, muito pelo contrário.

Os Mil e Um Você (Volume 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora