O relógio de pulso marcava 21h42, do dia 15 de abril de 2023.
Lisa apertou o punho em volta da alça da sua mochila antes de olhar novamente para o relógio, certificando-se de que nenhum minuto a mais havia passado. Era sua primeira missão sozinha, sem a supervisão do pai ou de qualquer outro membro da equipe de caçadores, estava pronta, sentia em suas veias. Ela tinha estudado o caso por semanas, traçando o histórico da família que havia relatado o problema e estudando as táticas que funcionaram em casos semelhantes, a matriarca da família estava com dores abdominais, dores de cabeça e sentia sem parar um cheiro de enxofre quando ninguém mais sentia.O aplicativo de navegação indicava que havia chego ao destino, uma casa modesta em um bairro residencial tranquilo em Cedarville. Mas ela sabia que as aparências enganavam. Espíritos obsessores eram astutos, eles escolhiam suas vítimas cuidadosamente, geralmente pessoas vulneráveis que estavam lidando com algum trauma ou dificuldade emocional, como era o caso daquela família que havia perdido um ente querido a poucos meses. Uma vez que se apegavam a essas pessoas, era difícil fazê-los desistir.
Lisa estacionou seu carro na rua em frente à casa e respirou fundo. Era hora de provar a seu pai que podia sim pegar casos sozinha. Ela pegou sua mochila e saiu do carro, trancando-o cuidadosamente antes de se aproximar da porta da frente. Ela bateu três vezes, esperando ansiosamente uma resposta que não veio. Então ela ouviu o choro, estridente e agudo, que parecia vir de dentro da casa. Lisa empurrou a porta, a casa estava escura, exceto pela luz fraca que entrava pela janela da sala de estar. Ela podia sentir a presença do espírito antes mesmo de vê-lo. Havia uma energia pesada no ar, um cheiro de mofo e putrefação que a fez estremecer e pensar novamente se estava realmente pronta. E então ela o viu. Uma figura opaca, sem rosto, flutuando no ar logo acima da matriarca. Era um espírito obsessor, preso no mundo humano por alguma força que Lisa não podia compreender. Ele estava pairando sobre a mulher que estava sentada no sofá, soluçando incontrolavelmente. Lisa não hesitou, abriu sua mochila e pegou o amuleto que seu pai havia lhe dado. Era feito de prata pura, com uma cruz gravada no centro. Lisa o segurou com firmeza e começou a invocação de luz que havia aprendido. O espírito se virou, sua energia se intensificando, Lisa se concentrava no amuleto, deixando a energia fluir através dela, direcionando-a para o espírito. Era como se ela pudesse sentir a presença do espírito em seu próprio corpo. Sua voz falhava ao recitar e o choro da mulher ficava cada vez mais alto, até que cessou e uma risada ecoou pela sala de estar.
- Olá Lalisa, é bom te ver novamente. – As palavras saíram dos lábios da mulher, mas Lisa sabia que não era ela quem falava. Lisa sabia que espíritos não deveriam saber seus nomes ou conhecer sua família, o que estava acontecendo? Ela continuou concentrada, recitando os versos da invocação com mais firmeza, até que ouviu novamente. – Isso são modos de tratar sua mãe? – Lisa congelou, as mãos instantaneamente gelaram, o que era aquilo? Por que estava tentando atingi-la?
Seu pai havia ensinado a nunca responder aos chamados de um espírito, mas Lisa não dava a mínima naquela momento.
- Calado! Não ouse tocar o nome dela ou se passar por ela. – Os olhos de Lisa queimavam em raiva. Ela tirou a corda de seu colar de dentro da camiseta, revelando um colar de turmalina negra para proteção. – Ouça a invocação e siga para a luz, ou não me importarei de chuta-lo até lá.
Firmou suas mãos no amuleto de seu pai e o colar de turmalina passou a esquentar sua pele, aquilo nunca havia acontecido antes, era estranho e assustador. A mulher sentada estremeceu, um grito estridente saiu de seus lábios e ela desmaiou, a sombra não estava mais pairando sobre ela. Lisa deu um soquinho no ar em comemoração, mas de repente tudo ficou escuro, a casa ficou completamente escura, a mulher levantando lentamente enquanto tinha um sorriso macabro nos lábios, ela arqueou suas costas e Lisa sentiu sua espinha congelar.
- Achou que tinha acabado? Não há escapatória, você vem comigo, Manoban. – Os olhos da matriarca estavam em um tom de vermelho tão forte que penetravam a alma de Lisa, ela tentou recitar novamente a invocação de luz, sendo calada assim que a mão da mulher alcançou seu pescoço, Lisa não conseguia respirar, não conseguia pedir por socorro e seu corpo foi enfraquecendo, o ar não chegava aos pulmões, seu coração acelerado, tentava arranhar, apunhalar ou desvencilhar-se das mãos, até que a soltarem, mas naquele momento já não adiantava mais. Lisa caiu sem vida.
Do outro lado da cidade, Jennie acordava totalmente em pânico, no dia 01 de abril de 2023.
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The Otherworld
FanfictionHá muitos mistérios no mundo que ainda não foram desvendados... As linhas de Nazca, o incidente Max Headroom, Stonehenge e outros que rondam a mente humana, causando medo e fascinação ao mesmo tempo. Em um mundo onde a linha entre a vida e a morte é...