CAPÍTULO VINTE

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—Zander—

Os bailes eram tão interessantes quanto escutar Kenai listar todos os nomes de suas armas. A única coisa que não me faz morrer de tédio é a comida, bebidas e alguns rostinhos bonitos do grande salão. E mesmo estes estavam em falta hoje, tirando pela cascata ruiva a poucos metros.

     Encostado na pilastra de rocha branca polida, perto de uma das mesas de doces e aperitivos salgados, eu observo Verana e a matilha, mas também as famílias que foram convidadas. Nenhuma parecia realmente feliz em estar aqui, mas fingiam sorrir, bebendo e conversando uns com os outros. Todos lançando olhares duros e indiretos para onde Verana e a matilha estava no canto, perto dos sofás e de uma mesa menor de aperitivos e drinks.

     Ela não falou uma palavra desde que entrou com os amigos. E mesmo quando Valerya deu as boas-vindas a todos a algumas horas atrás, incluindo a matilha de uma forma especial, ela apenas acenou educadamente e depois voltou a ser indiferente a todos ao redor. Sorriu e cumprimentou a Real, quando a mesma pediu um pouco do seu tempo, suponho que para pedir desculpas por tudo o que aconteceu desde sua chegada ontem.

     Pelo menos, Verana estava cumprindo a parte do acordo. Mesmo com alguns comentários ácidos e indiretos, cujo me segurei para não quebrar o nariz de quem os falava, ela se manteve indiferente. Mas eu sabia que a garota se segurava tanto quanto eu para não fazer as bocas imundas se calarem para sempre. Tentei falar com ela a noite inteira, mas certamente é quase impossível se livrar dos bajuladores ricos que escolheram não me odiar, mas me usar para seus próprios fins.

— Sim, senhor Kinslan. — suspiro, tentando parecer o mais educado possível. Onde diabos Malessa tinha se metido? Já fazia uma eternidade desde que ela tinha saído do prédio, e não tive notícias desde que a vi sumir pelos corredores. — Ontem trouxemos a cabeça, mas separei alguns dentes e já dei para os seus homens.

August Kinslan. O homem já de idade, com a barba por fazer, e de cabelos pretos com mechas grisalhas, repuxa um sorriso pequeno. Ele era um dos cientistas dos Reais. Sempre me pagava uma quantia para lhe trazer pedaços das criaturas que eu matava, usando seus restos para estudar e descobrir curas com base nas informações. Ontem, Malessa trouxe a cabeça de um Feral, e eu retirei três dos dentes venenosos, o canal por onde o veneno era ejetado.

— Estamos avançando bastante nos últimos meses. Em uns dias, não precisaremos mais ter medo da fronteira com a Barreira. — ele toca meu ombro e aperta. — Tudo graças a você, meu amigo.

Acho que nem com todas as curas do mundo, os humanos de Nêmesis iriam se atrever a ultrapassar a Barreira. Pelo menos, não até ter suas riquezas e pompas inestimáveis fora do alcance de outros. A Barreira servia tanto para manter os monstros longe, quanto qualquer um que queira a tecnologia e os recursos que Nêmesis podia dar. Afinal, eles ainda eram apenas humanos, e tenho quase certeza que na lista de "pessoas mais vulneráveis do Continente", os humanos ainda estavam no topo. Mas apenas me obriguei a concordar com a cabeça.

— Você é o cientista, não eu. — lhe dou um sorriso, tão verdadeiro quanto os de todos aqui. — Mas fico feliz em poder ajudar.

— Certamente, meu jovem. — ele pega outra bebida da bandeja do garçom que passa.

E parecia querer falar mais sobre seja lá o que ele e os companheiros faziam nas salas de estudo e laboratórios e, sinceramente, eu preferiria me afogar no ponche servido do que escutar detalhes sobre o que provavelmente já sei sobre as criaturas que mato. Então desisto de tentar ser o simples ouvinte, e decido ser o Caçador.

~ɪᴍᴘéʀɪᴏ ᴅᴇ ᴅᴇᴜꜱᴇꜱ ᴇ ᴍᴏɴꜱᴛʀᴏꜱ~Onde histórias criam vida. Descubra agora