Capítulo Único

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Naquela manhã o céu estava cinza e uma camada de neblina cobria toda cidade, fazendo-a ficar mais fria e obscura que o normal. Algumas pessoas ainda dormiam, mas as máquinas estavam a todo vapor, fruto da modernização que tanto era enaltecida.

Na margem da estrada, a Leste, LongLife chamava a atenção. A empresa produzia peças automotivas, exportando para outro país, e Fred Bruno trabalhava ali. Ele passou pela porta da grande estrutura, limpando as mãos sujas de graxa no macacão azul escuro, sentindo o vento bater em seu rosto e cabelos.

Era sexta-feira e ele estava finalizando mais um dia de trabalho. Na fábrica que trabalhava, os operários tinham apenas um dia de folga e naquela manhã era seu último dia de trabalho, voltava agora apenas no domingo, quando a escuridão da noite engolisse o dia. Embora se matasse de trabalhar, Fred preferia ficar manuseando as máquinas ao invés de curtir seu dia longe daquelas geringonças.

— Ei, não está me ouvindo? — Ricardo Alface sacudiu o braço do amigo, o puxando, fazendo-o dar alguns passos para trás. — Estou perguntando se você vai passar na taberna agora!

— Bebida uma hora dessa? Nem é sete da manhã ainda! — repreendeu o amigo. — Estou indo para o gabinete do chefe — mentiu.

Ricardo passou a mão na careca, arqueou a sobrancelha e murmurou em desconfiança:

— Vai ver o chefe assim do nada? Está fugindo da Larissa Santos, né. — Não era novidade nenhuma essa fuga repentina.

— Claro que não — Fred pigarreou, descendo as escadas da indústria e caminhando agora ao ar livre. Tomou cuidado para não pisar no trilho do trem de ferro, esse que trazia as cargas mecânicas todas as noites. — Não tenho motivos para fugir dela e nem de ninguém.

Alface bufou.

— Aham. Não tem? Você se transforma em outra pessoa quando ela está por perto!

— Não concordo, Facinho. Eu apenas sou reservado.

— Pode até ser, mas está rolando alguma coisa com você em relação a ela.

— Não tem nada — Fred disse sem olhar para trás. — Preciso ir agora.

— Tudo bem, se você diz. — Ricardo deu de ombros, deixando o amigo se distanciar.

Fred balançou a cabeça. As coisas estavam tão na cara assim? Ele realmente era apaixonado pela líder do sindicato daquela indústria, porém, disfarçava bem. Ou pelo menos estava se enganando esse tempo todo.

Desde o dia em que seus olhos encontraram-se com os de Larissa, viu-se balanceado por ela. Com seus cabelos pretos longos e lisos, e com suas roupas diferentes, os lugares sempre ficavam mais leves quando ela estava. Ainda se lembrava de seu coração batendo descontroladamente e suas pernas perdendo as forças quando a viu pela primeira vez. Foi amor à primeira vista, tinha certeza disso.

Contudo, os dias foram passando e ela apareceu acompanhada de um sujeito alto e de olhos claros. Fred constatou que ela era comprometida. Uma grande merda.

Continuou seguindo seu caminho, passando pelo trilho e pisando nos cascalho até alcançar o portão de arame farpado da indústria. Esse estava aberto para os funcionários da noite partirem para casa e os da manhã começarem o seu turno.

— Senhor Frederico! — Alguém o chamou.

Fred virou o rosto sobre os ombros e avistou Larissa caminhando apressada em sua direção. Ela usava suspensório cinza e blusa social branca, realçando sua beleza. Seus cabelos estavam amarrados em um rabo de cavalo e um sorriso tomou seus lábios quando viu o olhar dele sobre si. Ela levantou uma das mãos, acessando.

Fred engoliu seco. Estava mesmo fodido. Como iria deixar de gostar daquela mulher? Ela era perfeita da cabeça aos pés. Seu coração bateu forte contra o peito e suas bochechas queimaram, fazendo-o respirar mais devagar, estava perdendo o fôlego. Pensamentos passaram pela sua cabeça e um deles era Larissa em um vestido de noiva ao pôr do sol.

Caralho.

— Senhorita Lari! — Outra pessoa surgiu na cena, cortando o clima.

Cristian seu maldito.

Larissa virou-se, cruzou os braços e um sinal apareceu entre suas sobrancelhas. Seus lábios formaram uma linha fina e ela meneou a cabeça em chateação ao olhar para Cristian.

— Espere, vou te dar uma carona até sua casa — Cristian disse, aproximando-se e ignorando Fred.

— Não precisa. Eu vim dirigindo.

Sentindo-se um idiota por estar presenciando aquela cena, Fred Bruno deu as costas para os dois colegas de serviço e continuou seguindo seu caminho. Todavia, ele não sabia que tudo o que Larissa Santos queria, ela conseguia. 

Fred também fora a perdição dela desde o dia que entrou naquela indústria. Ele podia ser tímido e reservado, mas ela não era. Eles iriam se aproximar cedo ou tarde, querendo ou não, por bem ou por mal. Só precisava se livrar do supervisor Cristian.


NOTAS:

O que acharam? Esse Fred não engana ninguém kkkkk

Obrigada por ter lido até aqui, não esquece de deixar votinho. Beijos, beijos!

Falhando Miseravelmente (Laried)Onde histórias criam vida. Descubra agora