Sociedade Das Amizades Perdidas

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"Quando caímos, algo morreu. Porque eu sabia que aquela era a última vez. A última vez"
- Adele
Set Fire To The Rain


Tudo bem deixar as pessoas irem embora da sua vida, assim como está tudo bem você ir embora da vida delas. Eu nunca compreendi isso da melhor forma, na minha cabeça eu não tinha coragem de ser a pessoa a ir embora, ficava pensando demais nos sentimentos dos outros e afundava no meu próprio abismo.

Talvez porque eu conheço a sensação de ser deixado para trás, não queria causar isso em ninguém, até a vida me mostrar que às vezes ciclos se encerram e é inevitável não ir embora.

Eu me lembro da última vez que nos vimos. Zayn tinha um cigarro na boca, seus olhos fundos. Meu melhor amigo estava perdido na própria cabeça, ele se perdeu, não era o mesmo que antes, e as nossas versões de agora não serviam para serem amigas.

Éramos restos de sonhos, planos e desejos. Dois desconhecidos que se conheciam como ninguém.

Lembro da sensação de sentir o chão se abrir nos meus pés quando ele disse que estava indo embora, lembro da raiva, da dor, da sensação de abandono. O desespero que se instalou nas minhas veias. Eu ferrei com a nossa amizade inconscientemente, e ele estava colocando um fim nela.

Em algum momento estávamos chorando feito duas crianças, soluçando e amaldiçoando alguma coisa, quem sabe, nós mesmos. Ou poderia ser a vida, por ela ser uma fudida desgraçada que destrói tudo. O processo de amadurecer, de entender que não se encaixa em algum lugar.

Zayn disse isso, não se encaixava mais ali, não fazia sentido para ele. Minha vontade era agarrar seu colarinho e chacoalha-lo, não fiz isso, não poderia implorar para ele ficar. Eu o amava mas como impedir ele de ir se não éramos mais confortáveis para ele?

- Você sempre vai ser importante para mim, Zayn. Falei com a voz engasgada, um bolo na garganta

- Você também. Eu te amo para caralho, Louis - Respirar doía - Mas eu não posso continuar aqui, eu não me sinto mais seguro, e antes vocês eram a minha segurança. Eu...

Sua voz falhou. O vento da noite gelada soprou pela janela aberta. A sala grande do meu apartamento parecia ter encolhido, como se eu fosse ser espremido pelas paredes em volta. A sensação da sua alma ser arrancada do corpo e picotada.

- Eu entendo - Engoli o seco, forçando firmeza - Tudo bem, leva seu tempo cara, eu vou continuar te esperando. Eu entendo de verdade.

Ele negou com a cabeça, olhando para o além. Tinha algo em seu rosto que me quebrou, insuportável de se olhar, era gelado e cru, frio. Na minha cabeça eu poderia ouvir a minha voz gritando.

- Eu..eu não vou voltar - O tom era quebrado mas continha uma certeza que o assustava na mesma proporção que acabava comigo - Não sei no futuro, mas nesse momento eu sei que eu não vou voltar.

Deveria ser aterrorizante para ele, colocar um fim em algo que ele amava, conseguia enxergar isso nos seus olhos, focar na dor de se odiar por ser a pessoa quem estava partindo. O peso de que é ele quem foi embora.

Era inevitável, as circunstâncias nos trouxeram aqui.

- Leva o seu tempo, cara, eu não me importo de esperar por você.

O soluço cortou seu peito. Abri os braços o envolvendo com força, ele enterrou a cabeça no meu ombro, chorando como uma criança pequena. As lágrimas desciam por minha bochecha com força, segurei ele com a mesma força que ele se agarrou em mim.

Senti nossa história se acabar, enquanto ele sussurrava desculpas e que me amava eu prometia que estava tudo bem, que ele não tinha que se odiar por estar indo embora, que eu continuaria no mesmo lugar pra ele, que nada entre a gente mudaria, porra! eu estava tão errado. Já havíamos mudado.

- Eu sinto muito. Ele engasgou entre o choro

- Está tudo bem, a gente se encontra por aí.

Não me movi, ele também não se mexeu, ficamos ali sentindo cada parte nossa se rasgar, deixando as lágrimas levarem o que não tínhamos coragem de dizer. Ele me apertava forte e eu retribuía.

Não voltaríamos ser os mesmos de antes, nem conseguíamos continuar juntos com essas novas versões no futuro. Ainda nos encontraríamos por aí? Como seria agora? Eram tantas perguntas e a única certeza é de que estávamos nos despedindo para sempre.

Quando ele se separou do meu abraço, senti um golpe na cabeça. Eu o perdi. Meu melhor amigo que brincava comigo, gritava alto, deitava no meu colo falando besteiras, fumava comigo, jogava junto, discutia por besteira não existia mais.

Eu nunca mais chegaria nele para falar qualquer merda, ele não entraria no meu quarto mandando eu e Harry fazer mais baixo, mesmo que a gente não tivesse fazendo absolutamente nada.

Ele não jogaria pipoca em Niall por ele não parar de fazer perguntas sobre um filme que todos estavam vendo juntos pela primeira vez.

Não flertaria com Liam descaradamente sem se importar com questionamentos sobre o relacionamento deles.

Zayn não estaria no apartamento ao lado, não estaria na van, não estaria próximo.

Ele ia continuar vivendo e eu teria que me contentar com sua lembrança. Em algum momento eu também já não seria o mesmo, não doeria tanto, e ele se transformaria em apenas mais uma memória a ser carregada.

- Até logo. Sussurrei vendo ele abrir a porta, pronto para ir

Zayn sorriu, um sorriso tão dolorido que eu preferiria não ter visto em seu rosto. Seus olhos vermelhos cheios de água se fixaram nos meus. Cheios de sentimentos e emoções complexas e profundas.

- Tchau, Lou. Você foi o melhor amigo que eu já tive.

E assim ele se foi. Deixando um vazio enorme e a certeza de que era realmente uma despedida.

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Desconhecido: Mano, eu vi que você teve uma filha, parabéns. É uma sensação do caralho.

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Desconhecido: Parabéns pelo álbum novo.

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Desconhecido: Foda o vídeo de You & I

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Desconhecido: O documentário ficou do caralho.

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Zayn: Você conseguiu meu número.

Louis: Infelizmente eu ainda tenho essa porra decorada.

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Hoje eu tive um dia difícil mas consegui escrever essa one, espero que tenham gostado. (:
Logo teremos atualizações, eu só preciso de um tempinho. Beijos.

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