CAPÍTULO 23

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RYAN


ERIC ACORDOU SENTINDO SEDE E VIU QUE SHIRLEY NÃO ESTAVA DEITADA. LEVANTOU-SE, BEBEU ÁGUA E FOI VER ONDE ELA ESTAVA. SHIRLEY ESTAVA NA SACADA DO QUARTO, COM OS BRAÇOS APOIADOS NA BALAUSTRADA, COM UM OLHAR CONTEMPLATIVO, SEM MESMO NOTAR A APROXIMAÇÃO DELE.

-  O QUE FAZ AQUI FORA? NÃO ESTÁ COM FRIO? - REPAROU NO ROBE LEVE, DE MANGAS ESVOAÇANTES QUE USAVA.

SHIRLEY RESPONDE SEM SE ASSUSTAR, MANTENDO A MESMA POSIÇÃO:

-  SABE QUE ESTOU PREOCUPADA COM ELA. EU TIVE UM PESADELO E PERDI O SONO. RESOLVI TOMAR UM POUCO DE AR.

ERIC, PASSA O BRAÇO AO REDOR DE SEU OMBRO DE MODO COMPASSIVO E DIZ:

-  NÃO PRECISA SE PREOOUPAR. FALEI COM ELA E ESTÁ TUDO BEM. ELA DEVE REGRESSAR EM BREVE.

-  LEMBRA QUANDO ELA FOI PARA LAS VEGAS COM A AMIGAS, NAQUELE DESPEDIDA DE SOLTEIRA? LEMBRA QUE ELA SUMIU POR UNS DIAS E DO QUE HOUVE DEPOIS? ELA MUDOU COMPLETAMENTE. SAIU DE CASA, INDO PARA A FRANÇA. FICOU LÁ UM BOM TEMPO, SEM NOS DAR NOTÍCIAS, E DEPOIS... - DEIXOU ESCAPAR UM SUSPIRO DE DECEPÇÃO - FOI HORRÍVEL, TER DE COLOCÁ-LA NA CLÍNICA POR FIM! A CULPA FOI MINHA!

-  FOI NECESSÁRIO! NÃO FOI CULPA DE NINGUÉM. FOI UMA PRESCRIÇÃO MÉDICA, A QUAL NÃO PUDEMOS EVITAR. FOI PARA O BEM DELA, FOI VOCÊ MESMA QUEM DISSE NA ÉPOCA. NÃO SE LEMBRA? AGORA É DIFERENTE, MUITOS ANOS SE PASSARAM, ELA ESTÁ ADULTA E EQUILIBRADA. E ESTÁ SENDO VIGIADA, COMO SEMPRE.

-  EU MESMA VOU LIGAR PARA ELA DE NOVO. NÃO ME SINTO SEGURA, MESMO COM A VIGILÂNCIA CONSTANTE. TENHO UM MAU PRESSENTIMENTO. - AFIRMA, DECIDIDA.

-  E QUANTO A VERUSKA? NÃO DEVIA SE PREOCUPAR UM POUCO COM ELA, TAMBÉM? ESSE NOIVO QUE ELA TROUXE DESSA VEZ, É MEIO ESTRANHO. ME PARECE UM DESOCUPADO, QUE VAI QUERER VIVER CELEBRANDO E NADA MAIS. É UM VIGARISTA, QUE PENSA TER ENCONTRADO UMA MINA DE OURO POR AQUI. É COM VERUSKA QUE DEVEMOS NOS PREOCUPAR NO MOMENTO, POIS O CASO É MAIS GRAVE. AGORA VENHA, VOCÊ ESTÁ GELADA! VAMOS NOS DEITAR.

DEREK ESTAVA RECOSTADO EM SUA CADEIRA SOB A LUZ DAS ESTRÊLAS, OUVINDO AO LONGE O UIVO DOS COIOTES E HAVIA UMA FOGO ACESO À SUA FRENTE. ELE MESMO HAVIA FEITO AQUELA CADEIRA E ELA ERA TÃO VELHA QUANTO O TREILER EM QUE VIVIA. NÃO DAVA VALOR A CONFORTO, APENAS UM TETO SOBRE SUA CABEÇA, UM LUGAR PARA GUARDAR SUAS POUCAS COISAS E PODER FAZER A COMIDA, LHE ERA O BASTANTE. FICAR ALI A NOITE E OLHAR AS ESTRELAS ERA O QUE AINDA LHE DAVA ALGUM CONTENTAMENTO. ELE RECONHECIA O SOM DOS ANIMAIS NOTURNOS, COM SEUS OUVIDOS BEM TREINADOS, DEPOIS DE VIVER MUITOS ANOS ASSIM ALI, NO DESERTO DE SONORA.

-  OLÁ IRMÃO - A VOZ DE RYAN CHAMOU SUA ATENÇÃO E O VIU SE SENTAR NUMA CADEIRA QUE ERA RESERVADA PARA ELE. AFINAL, ERA O ÚNICO QUE O VISITAVA DE VEZ EM QUANDO.

- OLÁ IRMÃO - ELE RESPONDE A SAUDAÇÃO.

-  ESTÁ UM POUCO FRIO AQUI - RYAN DIZ, ESTENDENDO AS MÃOS PARA MAIS PERTO DA FOGUEIRA.

-  EU NÃO ACHO. VOCÊ É QUEM ESTÁ MAL ACOSTUMADO, VIVENDO NO CONFORTO DE SUA CASA NA CIDADE. ESTÁ FICANDO MOLE, RYAN - CRITICOU-O, CONTEMPLANDO O FOGO CREPITANTE.

-  EU TENHO UMA FILHA, NÃO PODERIA MORAR AQUI COM OS COIOTES. ELA PRECISA DE ALGUMA ESTABILIDADE E UM LAR.

-  VOCÊ CRIOU RAÍZES PROFUNDAS DEMAIS, PENSANDO QUE NÃO PODERIA VOLTAR PARA NOSSA CASA. E ISSO, TE DEIXOU MOLE! - ELE PERSISTE, NA CRÍTICA IMPIEDOSA.

-  NÃO VIM PARA DISCUTIR MINHAS ESCOLHAS E NEM PARA OUVIR SERMÃO. VIM, PARA TE MOSTRAR ISTO. - EXIBE O MEDALHÃO, TIRANDO-O PARA FORA DA CAMISA.

DEREK FICA VISIVELMENTE ESPANTADO E INCLINANDO-SE, SEGURA O MEDALHÃO NA PALMA DA MÃO, COMO QUE PARA CERTIFICAR-SE DE SUA AUTENTICIDADE. EXCLAMA:

O MEU SUPER HOMEMOnde histórias criam vida. Descubra agora