Capítulo 11

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Rebeca

Há mais de um ano eu não saio de dentro dessa enorme casa. Dessa mansão que me oferece tudo menos a liberdade.

Odeio.

Odeio a ideia de estar sendo preparada para ser uma isca viva e atrair um homem, gerar o caos, enfraquecer uma organização para que outra ganhe força.

No início eu aceitei todas as coisas de bom grado. Fiz tudo conforme combinado. Mesmo grávida eu treinei, me exercitei, aprendi até a mexer em uma arma e atirar.

Adentrei nas profundezas do inferno da máfia Casamonica e de quebra aprendi tudo sobre a Cosa Nostra. Minha sede de vingança excedia qualquer compreensão.

Acontece que a vingança, o ódio, é como um câncer – ela cresce, tomando espaço onde antes poderia haver alguma coisa boa. E havia até o dia do nascimento do meu bebê.

E ele morreu... e com ele se foi toda a alegria que eu tinha de viver.

Pelo reflexo da enorme janela que dá para o imenso jardim, eu não reconheço a mulher diante de mim - linda, elegante, forte, obstinada e triste.

Mas hoje, sinto uma angústia rara que me aperta o peito. Uma dor inexplicável, uma vontade insana de chorar. É como uma saudade imensa injustificada.

Acaricio meu colo como se pudesse ajudar a amenizar a dor em meu coração apertado.

Estou no fim da linha, morrendo por dentro.

― Uma mulher linda assim, sozinha, pensando... Isso é muito perigoso! ― Adriano sussurra em meu ouvido, tirando-me de meus devaneios, trazendo-me de volta ao grande palco que é a  minha vida.

Sorrio.

― Então não deveria se arriscar ― respondo virando-me em sua direção.

Miguel, de braços cruzados, observa tudo.

― Ele adora brincar com o perigo, Rebeca. Sabe disso.

Eles me acham perigosa quando ambos são terríveis. Por que eu seria perigosa? Porque conquistei o chefe deles quando nós sabemos que serei descartada em breve.

Não é por isso, Rebeca. Você conquistou seu lugar pela dedicação de como faz tudo perfeitamente. Eles sabem o que você suporta com aquele monstro.

― Vocês dois não tem o que fazer? ― pergunto, estranhando o fato de ambos estarem àquela hora dentro de casa. Ainda mais na sala de estar, onde poucos têm acesso.

― Estávamos reunidos com o chefe até agora. ― Adriano se encosta à parede, o que me faz estranhar a resposta. ― Viemos te chamar, gata. O chefe quer te ver.

― Alguma coisa está acontecendo?

― Só se você considerar que ficar uma semana sem a nossa presença seja um acontecimento. ― Reviro os olhos fingindo um descontentamento que não existe o que tira deles uma risada ruidosa.

― Não negue seu afeto por nós. ― Miguel brinca e eu faço bico de desdém.

― Mas é mal-agradecida. ― Adriano puxa-me pelo ombro encostando-me nele. ― Você sabe como eu te conheci lá atrás. ― Como esquecer a forma como me observava tomando banho naquele iate luxuoso? ― Parecia um bicho sujo, fedorento e raivoso pronto para atacar. Comparando com hoje? Puta que pariu!

― Quem sabe eu seja agora um bicho limpo, cheiroso, mas continuo pronta para atacar na primeira oportunidade ― jogo com as palavras sabendo que há um fundo de verdade.

― Meu sonho é ser atacado por essa gata raivosa ― Miguel cai na gargalhada das investidas descaradas de Adriano.

― Queria ver a cara do nosso chefe ao te ouvir falando assim, Adriano. ― Ele me solta de seu abraço como se tivesse tomado um choque e eu saio desfilando na frente deles sabendo que estão me olhando, me cobiçando.

Completamente, Seu (Livro 2 - Traídos)Onde histórias criam vida. Descubra agora