𝟬𝟭. 𝖻𝖾𝗐𝖺𝗋𝖾

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Eu borrei em ti as mais sutis mentiras e tu mês pôs de joelhos, pois eu sei quem é o pai da mentira.

Decai sobre corpos em fileira, a pele acetinada se tornando putrefato e olhos se diluindo ao azul. Eu desejei por um momento ser teu escravo para que não caísse por terra me juntado às covas daqueles que andaram por linhas tortas.
Eu nunca escolhi me deixar cair neste mundo de não verdades. Minha mente só pensou em se salvar; mas não de que, ou quem. Pois eu nasci com os instinto de sobreviver, e meu cerne lutou contra todos aqueles que almejavam assistir minha cabeça ser devorada por porcos.

Tudo o'que eu sempre serei esta mal resolvido, pois, eles te ensinam a nadar e então te afogam na parte mais funda, Deus me deu a espada mas não me ensinou a lutar; por esta infermidade, caminhamos por entre imortais e fatais.

O Louvre de pedra esconde a parte mais escura desta água, cor de sangue, e no meio do salão está o espetáculo do abominável, um corpo seco toca hinos desafinados. Eu encaro o podre na face, e então a agonia dança por minhas veias, me fazendo reinar puxá-las para fora de meu corpo. Meu pulmão escoa e ressoa aquela melodia do imperdoável, em sequência, ouço gritos vindo detrás da cortina cor de vinho, sou levado e jogado sob o altar, podre. O odor que vem de mim enjoa a todos as figuras presentes, que cospem em meu rosto o piche preto do então condenado.
Este que não terá lugar no céu, pois aquela criança medonha sempre soube quem é o pai da mentira.

Você me faz tropeçar em todas as minhas cicatrizes, você me faz cravar unhas em minha pele e acordar dentro de mim aquela guerra, onde tudo luta a favor da minha ruína.

Em baixo d'água todas as minhas mentiras são lavadas, toda a sujeira escorre rasa pelos meus pés, desenhando no chão de madeira uma tela respingada de sangue e terra, em meus pés nus como esta vela que se deleita diante dos olhos do homem sentando, pernas cruzadas e olhar aveludado.

Tu se aproxima e me corta a língua. Um castigo, não poderei mais mentir, nem ao menos sentir o gosto do sangue em minha boca quando me der tapas tão fortes que me cortam por dentro.

Eu me tornarei um templo vazio, sem história — Filha de ninguém, uma carta sem remetente e sem destinatário.

A tristeza veio plantada dentro de mim, é algo do ventre e é por isso que possui raízes tão fortes. Percorrem por todo o meu corpo trêmulo, no chão estou, meus lábios frios e entreabertos circulam ar que batia inclemente em minha epiderme exposta. Meus olhos se tornaram um limbo, esquecido em meio a tantos outros, uma colmeia incolor de janelas mortas, quem seria o responsável por isso? Quem coleciona a morte em orifícios?

Meus cabelos escuros voam com a penumbra fria da noite, minhas orbes verdes já não possuem verão, se transverteu na mais tempestuosa noite de inverno, eu me tornarei uma lacuna, uma página que foi arrancada do livro da existência, e então, aquela criança dentro de mim chora sozinha, lágrimas de linfa, um  horrendo púrpureo escorre de minhas janelas, há uma guerra fervente dentro de mim, mas minha face permanece neutra, pois fui apagada. Não totalmente mas algo dentro de mim morreu.

Sou apenas fragmento desalento.

Ao de se esperar, aquele soturno ainda tinha suas raízes cruéis presas à mim, algo ainda florescia em meu cerne sensível e frágil. Sou frágil. Ela corre dentro de mim, queimado como magma por minhas veias, me fazendo retrocer em agonia, um grito abafado queima em minha garganta e me desperto em grotesco.

Não tenho certeza de nada, nem ao menos possuo consciência de que estrelas ainda brilham, eu nem mesmo reconheço meu rosto, fogos de artifício explodem em minhas mãos. Filha de ninguém. Página descartada. O que eu serei está mal resolvido, mas quem irá resolver? Irão resolvê-lo algum dia? Não possuo voz, não possuo ação?

Não. Não possuo voz, nem ao menos língua, órgão necessário para a voz, meu cerebro suspira e em última ação questiona — “Por que você me odeia, mãe?”.

Estou morta, não existo, mas me convenço de que sou coexistência das estrelas. Não sem nem seu mero pó, era apenas uma criança maldita de lábios mentirosos.

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⏰ Última atualização: Jul 10, 2023 ⏰

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interlúdio de judasOnde histórias criam vida. Descubra agora