All of the Stars - WENCLAIR

Broken Hearts

                                                          Wednesday

    O jantar com a minha família foi minimamente agradável, na medida do possível. Meus pais enchiam Enid de perguntas, já que desistiram de ter qualquer interação comigo após todas as minhas cortadas de assunto mais afiadas que navalhas.

    Subi para meu quarto antes de Enid, que se ofereceu prontamente para ajudar minha mãe com os pratos e talheres, e a mulher, mesmo tentando veementemente recusar a oferta da garota, foi obrigada a ceder pela insistência e teimosia que apenas Enid tinha.

    Insistência essa que me fazia dobrar-me em todas as direções a sua simples vontade, sem uma única gota de resistência.

    Entrei em minha banheira, deixando que a água lavasse o cansaço, tanto físico quanto emocional, que havia tido naquele dia.

    Eu sentia que aqueles olhos vermelhos voltariam a me atormentar, eu só ainda não sabia identificar se aquilo era algo real ou apenas um fruto de meu inconsciente, que mesmo que eu negasse, aterrorizava-se à simples menção daquela figura sinistra.

    Senti um corpo se juntar ao meu na água, e agradeci pelo laço a companhia colorida que permaneceu ao meu lado até a hora de dormir. Estava um pouco frio aquela noite, e Enid insistiu que eu usasse algo mais quente, incluindo o snood que havia me dado.

    Minha tentativa, obviamente falha, de negar tal proposta foi refutada pelo simples argumento de que Enid não queria me ver doente outra vez, e que não se atreveria a arriscar meu bem estar. E principalmente que eu odiaria me ver naquela posição outra vez.

    E aceitando que seu argumento estava certo, e que eu simplesmente não toleraria outro episódio de vulnerabilidade diante de qualquer ser humano, usei o moletom que a garota escolheu para mim, o snood em meu pescoço, e dormi com seus braços em volta dos meus.

    A noite percorreu-se calma e inabitada, já que meus pesadelos haviam diminuído com tamanha drasticidade que me acostumei a ter noites inteiras de sono novamente.

    Mas eu não devia ter feito.

    Uma brisa gelada que atravessou meu quarto, e mesmo com todas as mantas, cobertores e roupas quentes, além da presença naturalmente transmissora de calor, fez todos os pelos de meu corpo se eriçarem, me colocando em estado de alerta.

    O que fez com que eu me atentasse a qualquer mínimo movimento que eu pudesse fazer, ou barulho que pudesse escutar, foi o fato de Enid ter garantido que a janela estava fechada, para que o frio não entrasse.

    O que significava que, se tivesse vento entrando, alguém havia aberto a janela.

   Um assobio simples e melodioso cruzou meus tímpanos, despertando-me completamente de qualquer resquício de sono que me restava. Abri os olhos, e tentei não demonstrar a onda gelada que passou por meu corpo quando me deparei com a figura encapuzada, em frente ao meu dossel, assobiando levemente enquanto limpava sua foice com os dedos.

    Pude observar os pelos espalhados por cada centímetro de seu corpo, e o focinho longo que passava pelo capuz. A luz da lua minguante iluminava fracamente o ambiente, e quando os olhos vermelhos se viraram para mim, vi seu sorriso lupino e extremamente branco se destacar em meio ao escuro.

    Um lobo.

    — Quem é você? – me surpreendi com o embargo involuntário em minha voz.

    O lobo permaneceu olhando para mim. Me hipnotizando lentamente.