ESPETACULARIZAÇÃO E VIOLAÇÃO DA ÉTICA JORNALÍSTICA

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ESPETACULARIZAÇÃO E VIOLAÇÃO DA ÉTICA JORNALÍSTICA: Uma análise sobre a abordagem midiática do caso Klara Castanho.1

Ana Beatriz LYRA 2

João DE LUCCA 3

Milena SANT'ANNA 4

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ

RESUMO

O presente artigo visa analisar a abordagem antiética do jornalista Leo Dias frente ao caso Klara Castanho, usando como base o modelo praxiológico da comunicação e a teoria do espetáculo de Guy Debord. Para isso, as metodologias utilizadas foram a revisão bibliográfica e a análise de caso, as quais permitiram o esclarecimento das possíveis explicações comportamentais por trás da divulgação de dados que desrespeitou a garantia de sigilo resguardada pela lei à vítima e à criança.

PALAVRAS-CHAVE: Sociedade do espetáculo. Praxiologia da comunicação. Violação da ética jornalística. Caso Klara Castanho.

INTRODUÇÃO

"Nada muda instantaneamente: numa banheira que se aquece gradualmente você seria fervida até a morte antes de se dar conta. Haveria matérias nos jornais, é claro. Corpos encontrados em valas ou na floresta, mortos a pauladas ou mutilados, que haviam sido submetidos a degradações, como costumavam dizer, mas essas matérias eram a respeito de outras mulheres, e os homens que faziam aquele tipo de coisa eram outros homens. Nenhum deles eram os homens que conhecíamos. As matérias de jornais eram como sonho para nós, sonhos ruins sonhados por outros. Que horror, dizíamos, e eram, mas eram horrores sem ser críveis. Eram demasiado melodramáticas, tinham uma dimensão que não era a dimensão de nossas vidas" (ATWOOD, 1985, p. 71).

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1 Artigo apresentado como trabalho final da disciplina Introdução à Pesquisa em Jornalismo, curso componente das matérias curriculares da ECO-UFRJ/2022.1.

2 Estudante do curso de Bacharelado em Comunicação Social - Jornalismo pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: lyraanabeatriz@gmail.com.

3 Estudante do curso de Bacharelado em Serviço Social pela Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: delucca1299@gmail.com.

4 Estudante do curso de Licenciatura em Letras com especialização em Língua Portuguesa e Língua Inglesa pela Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: milenaspereira@letras.ufrj.br.

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Quando questionada sobre o processo criativo e as inspirações que resultaram em sua aclamada obra de 1985, "O Conto da Aia"5, Margaret Atwood foi muito clara em sua declaração: "nada entrou no livro que não estivesse na vida real em algum lugar e algum momento"6. Não é preciso ir muito longe para entender o que a escritora canadense quis dizer. Na verdade, os fatos narrados ao longo do romance são assustadoramente próximos da realidade vivenciada pelas mulheres em tempos atuais. Na ficção "distópica" de Atwood, nenhuma mudança ocorre da noite pro dia. As mulheres começam a perder seus direitos aos poucos. Primeiro são proibidas de trabalhar e movimentar suas próprias contas bancárias, tornando-se submissas financeiramente a seus homens. Depois, perdem o direito sobre seus corpos e a elas é atribuída toda a culpa pela queda na fertilidade do mundo. A partir daí já não possuem mais qualquer direito. Tornam-se propriedades do Estado autoritário recém-estabelecido e uma única coisa passa a justificar suas existências: o dever de parir.

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⏰ Last updated: Apr 14, 2023 ⏰

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