Capítulo 32

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Alexander

Era dificíl acreditar no que eu tinha ouvido aquela noite. Seis meses em três semanas, qual a probabilidade? 

Ayla estava tão abalada quanto eu, pensar que perdemos tanto em tão pouco tempo era terrível. O pai de Magnus não nos deu brecha mais perguntas, ao finalizar seu discurso ele simplesmente se levantou e pediu para que não colocássemos fogo na casa enquanto ele estivesse fora e simplesmente sumiu.

Lembro-me de ouvir o barulho do corpo de Magnus cair contra o sofá enquanto Ragnor e Catarina praticamente choravam e resmungavam algo sobre uma casa e pacientes, mas o bruxo tão pouco se moveu, na verdade Magnus ficou daquela forma a noite inteira, não se mexia e muito menos falava com qualquer um de nós.

Faz três dias.

Três dias desde que seus amigos tomaram seus lugares no andar de cima da casa.

Três dias desde que nenhum de nós quatro vimos Magnus sair da biblioteca.

Eu levei seis pratos de comida nos últimos dias, mas sempre que eu voltava com mais, recolhia um prato intocavél ao lado da porta. Isso começou a nos preocupar, Catarina disse que a última vez que Magnus se isolou foi a quatrocentos anos atrás, e eles só o viram novamente depois de cinco meses em uma viagem para o Peru.

Ragnor disse que o segredo em uma situação como erra é dar espaço.

"Ele só vai falar com você quando ele se sentir pronto para sair, ate lá continue esperando."

Uma coisa que eles não sabem sobre mim é que eu não sou de esperar muito, mas segui o conselho dele e decidir conhecer mais a casa que em alguns dias vou fazer questão de queimar se não sair dela.

Os papéis de parede verdes são bonitos, texturizados e seguem até o corredor do escritório proibido. Os quadros que eu vi no dia em que cai aqui, são hornamentados e pintados ao que parece ser tinta a óleo, eles seguem um padrão em tons mais escuros da sala até o final da escada, os do corredor são mais claros, tem figuras borrões de cores quentes e paisagens mais estranhas. 

Um em especifico me chamou atenção.

Era o retrado de uma mulher, a margem de um rio escuro, com vestes tão brancas quanto a sua pele, ela tinha os cabelos negros tão longos que esparramavam-se no chão como um grande tapete. Ela estava sentada em uma pedra com o olhar direcionado a lua. Sua postura era tranquila, seus traços eram delicados e graciosos, ela parecia exausta, mas seus lábios, pintados de vermelho vivo, formavam um sorriso singelo.

Ela parecia tão tranquila.

Ela paracia uma...

-Uma deusa.

A voz de Magnus ressou aos meus ouvidos e eu quase pulei quando vi que ele estava atrás de mim. Ele tinha o rosto cansado, como se não dormi-se a dias, mas seus lábios brincavam em um sorriso divertido ,seu cabelos estavam molhados e soltos saindo dos típicos topetes coloridos e ele tinha um cheiro tão bom, como sândalo e lavanda.

Pelo caldeirão, eu estou perdido.

-Magnus!

-Olá, pretty boy. - um sorriso se abriu em seus lábios, mostrando uma fileira de dentes perfeitamente brancos e alinhados. - Você é mesmo um morceguinho curioso não é? Tem um apreço por quebrar regras, Alexander?

-Depende muito do meu humor. - digo me voltando para o quadro. - E da companhia.

-Pelo anjo, Alexander- ele riu negando com a cabeça.

-Por que você diz pelo anjo?- pergunto tentando não deixar a conversa morrer.

-O que eu deveria falar?- contexta ele divertido.

-Eu não sei... minha família fala "pela mãe", a familía de Holly diz "por Maab", a de Mary "Por Deus", outros "pelos deuses", nunca vi alguém que chama-se por um anjo.

-Bom, diferente de alguns, quando a minha vida estava entre uma espada banhada pela ira de alguém com poder, nenhum dos deus ou a mãe, por quem tantos idolatram, ou o maldito caldeirão a quem vocês veneram veio para me salvar e me livrar do destino que eu teria. Mas um anjo pelo contrário, esse não só me salvou como também se colocou na minha frente e me protegeu.

-O que aconteceu com ele?

-Nem toda ação é vista como algo positivo, garoto bonito.- seus dedos roçaram os meus por alguns instantes, tão quentes e macios quanto uma fornada de pães- Tudo tem um preço, o dele foi a marca da desobediência, o exílio de seu mundo e o roubo da presença de um grande amor. A desobediência lhe custou isso, e nem a marca que toma todo o seu peito, foi capaz de diminuir a dor que era não encontrar a mulher que ele amava.

-Isso é triste...- ele concordou a murmurios.

Nos ficamos assim por um tempo, em silêncio, não era desconfortável, era familiar, quente e suave.

-Ela parece tranquila.- disse baixo quebrando o silêncio.

-Ela parece cansada, como se estivesse esperando muito por algo.- no mesmo tom que o meu.

-Ou alguém.Quem é a moça do quadro, Magnus?

-Uma deusa, filha mais nova do rei do submundo, a padroeira dos mortos, alguns chamam ela de Macária,"A deusa da boa morte".E... bem- disse ele suspirando- É a minha mãe.

-Ela é bonita.- ele concordou com a cabeça.

-Ela era.-Virei-me para encara-lo mas ele não tirou seu olhar do quadro, tinha tanta dor em seu olhar.- Asmodeus me salvou da ira do meu avô, mesmo depois de ter perdido a minha mãe.

-Eu sinto muito Magnus.

-Tudo bem. - disse parrando os dedos na tela.- Isso já faz muito tempo.

-O que aconteceu com ela? Você não precisa dizer se não quiser.

-Não, tudo bem,acho que depois do que Asmodeus fez você tem direito de saber a motivação dele pra tudo isso.





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