Capítulo 18 - Tú sí sabes quererme como a mí me gusta

5.5K 397 568
                                    


Anos e anos atrás, um brasileiro exageradamente ousado e notavelmente corajoso declarou que aceitaria quaisquer que fossem as condições para que ele pudesse ficar ao lado de Martín.

Enquanto Luciano terminava de enxaguar o shampoo dos cabelos loiros do argentino, Martín relembrava, num fluxo de consciência desordenado, as inúmeras discussões que ambos já tiveram no passado sobre as configurações daquele relacionamento, discussões que realmente não os levavam a lugar algum, e que sempre acabavam de um jeito só: com o moreno pedindo desculpas por seu jeito estourado, e com Martín permanecendo irredutível em suas convicções de que não poderia assumir relacionamento com homem algum.

Nem com Luciano, nem com qualquer outro.

O brasileiro não perdia oportunidades de falar verdades pesadas para o argentino sobre essa homofobia internalizada do loiro, disfarçada de precaução e cuidados com as relações públicas de ambos. E Martín não se sentia ofendido, pelo contrário – sentia-se culpado, compreendia o ponto de vista de Luciano.

Martín sabia, de certa forma, que o mais errado naquela situação toda era, provavelmente, ele mesmo. As nuances da culpa que o acompanhava eram muitas, e misturados à ela estavam sentimentos confusos que o faziam se sentir inseguro demais para dar qualquer chance à Luciano de estragar o que eles já tinham de bom.

Na adolescência, as desculpas para que a relação não passasse de uma aventura secreta residiam nas motivações profissionais do argentino.

Agora na fase adulta, quando Martín já estava mais do que sedimentado como um dos melhores do mundo no futebol – quase, quase melhor do que o Rei Brasil – as motivações para que o relacionamento não saísse do lugar pareciam esvaziar-se.

Preenchidas única e exclusivamente pela covardia do argentino.

E mesmo assim, o brasileño desgraciado continuava absurdamente compreensivo, resignado àquela posição que Martín culpava-se cada vez mais por colocá-lo.

— Tá gostoso, não tá? – a voz de Luciano retirou Martín daquele vagar sem rumo que o loiro experimentava na própria mente.

O brasileiro massageava os cabelos do argentino agora debaixo da água da ducha, tirando a espuma. Martín, de olhos fechados, deixou que Luciano brincasse com os seus cabelos pelo o que pareceram incontáveis minutos.

Martín deixava, em verdade, que Luciano brincasse com todo o seu corpo ali naquele chuveiro. O brasileiro ensaboou os braços, peito, abdômen, costas, pernas do argentino, banhou-o nas regiões íntimas fazendo graça da situação como só Luciano sabia fazer – irritando Martín, mas sem envergonhá-lo demais, elevando o espírito do argentino à uma sensação de conforto sem igual.

Martín deixava Luciano fazer quase tudo o que o brasileiro desejava.

A única coisa que o argentino não permitia – que Luciano tivesse acesso ao restante das chaves de seu coração – era, para Martín, a única coisa que ainda os mantinha unidos sem nenhuma interferência do lado de fora daquele mundo encantado e oculto que dividiam.

Optando por diluir seus pensamentos durante a passagem deste mês de férias, querendo evitar que toda essa descarga de reflexão (e de culpa e de vontades não faladas) explodisse dolorosamente dentro dele, Martín continuou deixando que Luciano fosse Luciano.

Ele gostava do moreno assim.

— Estou limpo? – o argentino perguntou, abrindo os braços como se pedisse para o moreno checar-lhe o corpo, usando um tom de voz que beirava o brincalhão.

— Limpíssimo, meu lindo. Deixa eu terminar o meu banho aqui, e a gente vai relaxar na banheira.

Martín pegou uma das toalhas que estavam penduradas no box do banheiro, começando a se secar (em automático, considerando que ainda continuaria molhando-se em instantes), enquanto observava Luciano terminar o próprio banho.

Private Dreams (BraArg) (PT-BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora