Viver; Neteyam e Ao'nung

9: O momento do Neteyam Sully;

Fazia alguns dias desde o acidente, sua mãe felizmente não ficou sabendo de nada, ele conseguiu manter a calma quando foi questionado de seu estranhamento. Nos últimos dias ele melhorou sua respiração, só não entrou na água por uma série de xingamentos que recebeu do Ao’nung.

Todas as vezes que tentou confrontar seu amigo sobre o que diabos tinha acontecido com ele, ele o cortava bruscamente. Não tentou mais, ele não queria que Ao’nung se estressasse e desistisse de qualquer relação construída que eles tinham. Kiri não ficou sabendo de muito, ainda está tentando tirar informação de Rotxo, ela está decidida a conseguir fazer isso.

Ultimamente, fora a respiração, ele vem treinando sozinho o fortalecimento de seus músculos. Exercícios diários e alongamentos duas vezes ao dia se tornaram parte da rotina, às vezes também treina mobilidade, foca na evolução das pernas para poder nadar o mais rápido possível, ainda tem receio em fazer muita força nas costas e peito, porém faz o possível para que isso não atrapalhe em sua melhoria.
Ele esperava nunca mais ter que lidar com o que lidou naquele dia, a dor foi algo incompreensível, o medo de morrer na frente da família e o desespero presente foi demais para aguentar. Era tudo tanto, agora somente preservava sua melhoria, sem pensar no que aconteceu, ele aproveitaria cada segundo como prometeu que faria.

O dia estava bonito, pelo que escutou o tempo pioraria daqui alguns dias, já que uma grande chuva se aproximava. Neteyam estava fora do seu marui, o sol esquentava os seus ombros e o fazia questionar se prejudicaria seu couro cabeludo.
Era por volta das duas da tarde, ele não conseguia dizer com exata precisão já que faz um bom tempo que encarou o relógio natural pela última vez. Tinha poucas nuvens no céu o que tornava o dia insuportavelmente quente, principalmente para alguém que não poderia nadar sem supervisão; a água estava calma, e o pouco dela que pegou em seus pés foi o suficiente para saber que nadar naquele dia seria uma dádiva, o mar estava em uma temperatura perfeita.

Ao’nung estava fora naquele momento, tinha explicado que talvez seu treinamento durante a tarde fosse um pouco atrasado, explicou que seu pai e alguns guerreiros o ajudariam a montar em um tsurak, o ensinariam as melhores formas de iniciar com o animal e como se comportar em cima dele. Eram poucas as vezes que ele falava sobre seu rito de amadurecimento, as poucas vezes que aconteceram foi o menino explicando que talvez se atrasaria por ter alguma obrigação sobre.

Neteyam tinha perdido seu rito de amadurecimento já que quando seus últimos treinamentos começariam, o povo do céu retornou para Pandora. Ele não pode sentir raiva sobre isso, estava preocupado demais com seu povo para se importar com algo sobre si. Quando viu as naves no céu, se preocupou em falar com seus pais, mal se lembrou que estava tão próximo de seu aniversário; aniversário que fez algumas semanas antes de sair de casa, não teve o rito de passagem, não dançou e comemorou na sua festa, mas ele não se importou na época.
Pensando agora, ele odiou como o direito dele foi tirado por humanos que não aceitam o fim de sua espécie. Ele queria passar pela série de eventos físicos e espirituais que lhe eram importantes, perdeu a chance de ganhar suas roupas trabalhadas e que somente seriam usadas naquele dia, não pode ouvir sua canção e adicionar mais um pingente ao seu cordão, merda, aquilo era irritante!
Seus passos pela areia deixaram de ser calmos e seu rabo chicoteou o ar, quanto mais pensava no assunto mais perdia a cabeça, resolveu parar de refletir no que tinha perdido. Focou-se no presente, no dia bonito que fazia e do que treinaria naquela tarde; já tinha feito suas tarefas pela manhã, tentando cada vez mais diminuir o tempo de cada uma, as redes estavam prontas, os cestos feitos e as lanças afiadas. Tudo perfeitamente finalizado.

Queria receber tarefas novas, aquelas em que passaria horas ocupando seu tempo fazendo, trabalhar sempre foi algo que ele gostou de fazer; era irônico a diferença entre os irmãos, porque a kiri em sua diferença de poucas semanas de vida odiava mais que tudo.