Chuva de Prata

Feliz

Esta história é um presente. Ainda que a entrega tenha atrasado um pouquinho. Às vezes o prazo dessa senhora chamada vida é diferente do nosso ou do que a gente gostaria que fosse.
Mas ela foi feita com muitos cuidados, carinho, com um tanto bem farto de afeto.

Manu, eu desejo que você tenha sempre mais água salgada molhando seus pés do que seus olhos!
Feliz novos sorrisos!
Feliz novos caminhos!
Feliz novos sonhos!
❤💙💚💛💜💖

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"Vem pra separar o lado bom do mal
E acalmar meu coração (...)
Vem pra se arrumar na minha confusão
Vem querendo ser feliz"

O que são as emoções? O que é isso que nos faz colocar a mão no peito e esconder o coração só para que ninguém possa escutar o barulho esquisito que ele faz quando o que jurávamos não sentir toma conta de nós? Não há respostas fáceis ou mesmo certas. O que há é seguir: coreografar a vida e viver de sinestesia, de poesia, de coisas estranhas e de coisas perdidas também. Continuidade e rupturas, memória e expectativas.

É preciso ser livre para sentir. É preciso ser livre para ser, mesmo que por alguns instantes, e seguir sem regras sentimentais.

Simone Tebet saiu da cama na manhã daquele sábado, 31 de dezembro, ainda sem acreditar no que estava indo fazer. Bendita hora em que contou a Alessandro Molon que não iria para lugar nenhum depois do anúncio de seu nome como ministra do Planejamento e Orçamento, permanecendo em Brasília durante o ano novo, já para a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 1° de janeiro.

Estavam os dois já prontos para dormir, no quarto do apartamento funcional que ela ainda ocupava. Deitados um de frente para o outro, as mãos entrelaçadas no colchão, no espaço que havia entre os dois. Na tarde daquele 29 de dezembro, ele tinha ido ver ao vivo o anúncio das ministras e ministros que estariam ao lado de Lula no novo governo, não conseguindo conter o sorriso ao olhar para ela, radiante, com aquela camisa vermelha e a calça azul Tebet. Alessandro tinha escolhido um jeans claro e a camisa de botões no tom do azul dela.

Depois dos tantos cumprimentos, fotos, entrevistas, mais conversas entre os políticos que estavam lá, conseguiram sair, cada um por um lado, sem chamar tanta atenção, reencontrando-se no estacionamento do Centro Cultural Banco do Brasil Brasília, onde ele a esperava.

- Onde vamos? - ele quis saber.

- Pra casa? - ela respondeu enquanto ajeitava o cinto de segurança.

- Claro que não! Você acaba de ser anunciada como ministra de Estado, nós vamos comemorar. Escolhe o lugar ou eu vou escolher - ele a olhou sorrindo, piscou e deu a partida no carro.

- Me surpreenda, então - ela se viu respondendo, mais rápido do que conseguiu ponderar.

Em seu peito, Simone sentia como se estivesse fazendo malabarismos no colo da razão.

- Já sei onde te levar, ministra - ele afirmou, confiante, como sempre.

O percurso não era longo até um dos lugares que Alessandro mais gostava em Brasília. Com as atividades no Congresso suspensas pelo recesso e já bem perto dos festejos de ano novo, naquela tarde de quinta-feira, o Ernesto Cafés Especiais estava agradavelmente pouco frequentado. Simone riu do nome do lugar, implicou que só mesmo um deputado socialista para levá-la até ali. Mas Tebet se surpreendeu com o espaço sofisticado e intimista, que não conhecia, e adorou descobrir.

De lá, depois de horas agradáveis de conversa, cafés, chás e comida boa, seguiram para o apartamento dela, onde comemoraram, devidamente a sós, aquele novo ciclo que Simone iniciaria no próximo governo. Alessandro não tinha dúvidas de que ela seria excelente na função que assumiria a partir de 2 de janeiro. Tomaram banho juntos, ela improvisou algo na cozinha com o que tinha em casa para os dois, que foram para o sofá da sala enquanto conversavam e ouviam música. Molon lamentou não ter com ele seu violão ali. Tebet também.