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             A uma coisa acabando com o mundo

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A uma coisa acabando com o mundo.

A uma coisa acabando comigo, me deixando eufórico, sinto minha pele derreter, sinto meus ossos se acabarem como se fosse madeira velha. Sinto um vazio no lugar do coração, não o escuto pulsar mais como deveria. Sinto algo que não devia, porque eu estava na flor da idade e sentia que já havia vivido cem anos.

O material a minha frente parecia se mover, ou era a minha visão, ficando embaçada e eu me sentindo tonto. O notebook, as folhas, os lápis, tudo estava me deixando nervoso o suficiente para me fazer largar tudo de lado. Girar na cadeira e ir de encontro a janela, a abrindo, empurrando as cortinas e buscando um pouco de ar na noite fria que se estendia. Estava começando a anoitecer.

A algo de errado com aquela casa.

A casa a minha frente, a casa de Katherine. A algo de errado lá. Eu sinto o cheiro de medo, angústia e tristeza exalando do lugar. Das paredes. Do pequeno jardim que senhora Angel cuida, quase escondida de todos. Eu a vi uma única vez lá, mas as rosas estavam bonitas e cintilantes. Ela ia lá todos os dias, mas não queria ser vista. Das poucas vezes que vi senhora Armstrong se comunicando com alguém do bairro, era um simples bom dia. Nada mais. Nada menos.

Mamãe dizia que ela se isolava do resto das senhoras, que não gostava do chá da tarde no sábado e nem dos almoços nos domingos. Essa semana, iríamos almoçar na casa dos Stanford, minha mãe confirmou que nenhum dos Armstrong colocaria o pé na casa. Faz dias que não veja Katherine, faz dias que não conversamos direito, faz dias que tenho sentindo algo pesado no peito dela. O rosto pálido, algumas olheiras. Os fios de cabelo sempre presos em um coque apertado, eu os vi solto três vezes, e nas três vezes ela me pareceu incomodada com eles.

Posso ver seu quarto daqui, a vidraça vitoriana me dando uma leve visão para o seu quarto. No sótão. Ela vivia lá encima a maior parte do tempo. Desde de quando chega da escola a manhã seguinte, passa sábados e domingos inteiros presa lá. As vezes me pergunto o que ela tanto faz enfiada dentro de quatro paredes.

Hoje, o quarto estava vazio. Eu não a vi ainda de pijama, eu não a vi ajeitando os travesseiros para começar a dormir. Na verdade, eu não vi nada.

Até que um choque passa pela minha espinha. Agora sim havia sombras lá, na verdade, mais de uma. A silhueta feminina caiu na cama, pareceu ser jogada e então eu o encarei, o rosto mais tenebroso que poderia ter surgido nos meus olhos. Roman subiu encima dela, agarrando seu braços, eu escutei algo ao longe, como se fosse um grito abafado pelo vento. Feminino. Katherine.

Corro para fora do quarto, em disparada pelo corredor, descendo as escadas como se elas não estivessem ali. E eu teria atravessado o hall de entrada se o vulto de mamãe não tivesse aparecido na minha frente, com curativo no rosto, feito por David. Meu rosto foi ao chão, gelo escorreu pelo meu corpo. Eu não evitei que acontecesse com ela, eu tinha que evitar que acontecesse com a segunda mulher que eu mais me importei na vida.

SILÊNCIO PERFEITO | ABADDON #1Onde histórias criam vida. Descubra agora