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Há aqueles dias em que mal sinto vontade de levantar da cama. Como se nada mais valesse a pena, como se meus esforços não possuíssem peso ou significado.
Dias em que me sinto tão perdida em pensamentos obscuros, num labirinto de espinhos. Quanto mais tento encontrar a saída pelos arbustos exorbitantes, mais me espeto.
As vezes, a única luz que me resta é a que vem pela fresta da minha janela, mas que não tarda de ser impedida de entrar pelos meus dedos frágeis, estes que se apressam a fechar as cortinas com a pouca energia que os resta.
Há momentos em que me sinto um caso perdido, aquele ser que ninguém é capaz de compreender.
E diria que nem eu mesma entendo o meu caos particular.
Me sinto a errada da história, não importa qual seja o enredo. Já me convenci de que nada que eu faça será o suficiente. Quase sempre me pergunto o que estou fazendo aqui, o porquê de ter vindo a esse mundo.
O destino realmente existe? Somos seres tão pequenos, grãos de poeira no infinito do universo.
Tanto pensei, tanto refleti, porém ao invés de encontrar minhas respostas, mais me distanciei de mim.
Até mesmo minhas paixões perderam o sentido. Dos meus quadros já não me orgulho mais, em minha mente doentia mais prevalece a cor cinza. O cheiro fresco e forte de tinta a óleo e solvente impregnando minhas narinas já não me atrai como antes.
Minhas composições não parecem mais tão visionárias. Minhas obras então, sem valor algum.
Nesses dias indesejados, tudo isso ocorre num turbilhão. Pelo menos por um tempo.
A típica montanha-russa da vida.
Acabo me arremessando cada vez mais em direção a escuridão, passagem só de ida, já que não sei como sair do buraco em que me meti.
E em meio a uma confusão de latas de tintas derrubadas, pincéis caídos ao chão e um atelier empoeirado, vejo meus sonhos perdendo sua importância. Como se uma parte de mim estivesse morrendo sem minha permissão.
Críticas. Críticas. E mais críticas.
Todas vindas de bocas maldosas, línguas afiadas e corações sem um pingo de empatia. Palavras podem cortar mais que a faca mais amolada, aprendi isso na prática.
Mas a pior de todas as falas infelizes com certeza é a vinda de dentro de nós mesmos, a que mais fere a alma e ofusca nossa luz.
Eu não deveria me importar com frases sem fundamento provenientes de terceiros. No entanto, aqui estou. Uma dose de bebida em mãos, o corpo debruçado no que deveria ser uma de minhas futuras obras. A poeira do aposento já não me incomoda.
Levanto meu rosto, reunindo a pouca força que tenho após soluçar e derramar minhas lágrimas sobre a tela em branco, em cima da grande mesa do atelier. Havia deixado meu antigo cavalete de lado em algum lugar do depósito, este que não me recordo.
Uma dor aguda atinge o meu peito, a falta de ar e tal aperto indesejado parecem incomodar menos que a tempestade em minha mente. A bebida aos poucos parece aliviar temporariamente a minha agonia.
Uma ilusão. O sabor adocicado e ao mesmo tempo amargo altera meus sentidos, enquanto rasga a minha garganta.
Minhas mãos passeiam pela tela, enquanto meus olhos irritadiços ardem devido as lágrimas. O gosto salgado invade a minha boca a cada gota teimosa que ousa acariciar a minha pele, num caminho curto.
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Tears Of Ink | Satzu
FanfictionEm um de seus momentos mais difíceis como artista, Chou Tzuyu vê tudo ao seu redor perder o significado, até mesmo suas obras. No meio de uma tremenda recaída, ela se pergunta o que poderia tirá-la do escuro em que se meteu. Seria Minatozaki Sana a...