Uma réplica do primeiro corredor estendeu-se à nossa frente, embora mais pequeno e com uma porta ao fundo. Descemos os dois degraus e a estante atrás de nós voltou ao seu lugar, como se nunca tivesse existido. Aquele era um lugar um tanto peculiar.
Continuamos em frente e o ar parecia mais frio depois de atravessar a porta – ou talvez fosse eu que ainda estivesse muito quente. Aconcheguei-me na minha capa, sem tecer qualquer comentário. Sebastian faria isso por mim.
– Parece mais frio aqui.
Quase ri com a minha previsão correta. A opinião dele também não dava para levar em total consideração, dados os acontecimentos recentes. Senti o rubor voltar às minhas bochechas.
Atravessamos outra porta. Mais outra. E, por fim, outra. Estávamos outra vez a percorrer o mesmo caminho. Usei Revelio e o cenário à nossa volta mudou. A porta transformou-se num espelho que, à nossa aproximação, estendeu-se à nossa volta e envolveu-nos num cubo de espelhos.
– Nunca tinha parado para reparar como ficamos bem juntos – comentou Sebastian e vi no seu reflexo que sorria.
Tinha que admitir que concordava. Talvez nunca tivéssemos reparado porque nunca tínhamos estado frente a um espelho juntos. Ele era ligeiramente mais alto do que eu, de pele mais branca e coberto de sardas. A minha pele era um tom mais escuro do que a dele, assim como os meus cabelos, e não tinha sardas. Deixei de ter os ossos tão evidentes, dado que em Hogwarts as refeições eram mais generosas do que no orfanato.
– Gostava que estivesses em Slytherin também, para que não tivéssemos que estar em lados opostos do castelo.
– Tem o seu lado positivo: sentir saudades também é bom.
Sebastian segurou-me a nuca e virou-me de frente para ele, para que o meu olhar estivesse em si em vez do seu reflexo.
– Sentes saudades minhas quando não estamos juntos?
Porque tinha que ser obrigada a massajar o ego dele? Tentei dizer que não, mas diante do olhar intenso dele acabei por concordar. Sebastian estava diferente. Não eram apenas os toques dele, algo na forma como me olhava tinha mudado desde o dia em Hogsmeade. Considerei perguntar, no entanto, uma luz verde às suas costas roubou-me as palavras, o ar, tudo. Ao atingi-lo, Sebastian caiu inanimado no chão.
– Sebastian?!
Agachei-me ao seu lado e chacoalhei-o para que acordasse. Em questão de segundos vi-lhe a pele empalidecer e toquei-lhe o pescoço. Não tinha pulso e a pele começava a ficar fria. Gritei o nome dele outra vez.
– Estou aqui – ouvi a sua voz às minhas costas e, pelo reflexo no espelho à minha frente, vi-o caminhar na minha direção.
Antes que pudesse alcançar-me, uma flecha seguiu-o e trespassou-lhe o peito, exatamente sobre o coração. Arrastei-me na sua direção, para segurá-lo antes da queda, mas nada mais pude fazer por ele. Perscrutei a sala; a morte de Sebastian continuou a repetir-se de todas as formas possíveis e imagináveis. Quis esconder o rosto, pois aquilo só podia ser uma mentira, mas o sangue dele nas minhas mãos deteve-me. Que tipo de pesadelo era aquele? Não conseguia pensar em nada. O medo de perdê-lo para sempre era tão forte que me cegava. A dor era dilacerante. Arranhei os meus braços na esperança de que a dor física se tornasse mais forte e me fizesse esquecer que, à minha volta, incontáveis Sebastian continuavam a morrer. E se achei que não poderia piorar, a cabeça dele veio a rolar sozinha até mim. O meu grito ecoou pelo cubo de espelhos, tão forte que tudo quebrou-se em milhares de pedaços, desfazendo-se em pó e desaparecendo. Até que a escuridão engoliu-me.
"A dor da perda é horrível e insuportável, não é?", ouvi na minha mente.
– Samantha!
Despertei, sobressaltada. Sentia a respiração descompassada, a mente confusa, o coração alterado. Tinha sido tão real e, ao mesmo tempo, sabia que era uma mentira, pois Sebastian estava ali e segurava-me com força contra ele. Ainda assim quis estudar-lhe o rosto. Toquei-o para sentir o seu calor e desci à procura dos seus batimentos cardíacos. Estava vivo. Os meus olhos encheram-se lágrimas.
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Entre Luz e Sombras (Sebastian Sallow x FemOC)
FanficO fim do seu quinto ano em Hogwarts aproximava-se e, com ele, os exames finais. Mas não era isso que martelava na mente de Samantha Lynch, tirando-lhe noites de sono. Sem a orientação do seu professor que, até então, a acompanhara, Samantha sente-se...