Narrador Onisciente
Caçar, matar e comer; apenas isso costumava importar para os animais da selva nos tempos antigos. Não existia harmonia alguma. Somente um ciclo de dor e guerras constantes, com um animal tentando sobrepor o outro na hierarquia.
No sábado, os que conseguiam caçar tinham abundância e podiam descansar à vontade. Os outros, fracos e abaixo na cadeia alimentar, não podiam contar com a boa vontade de seus predadores, pois eles não iriam dividir um grão sequer. Não com suas presas, é claro.
E por muito tempo foi dessa maneira que as coisas fluiam no reino animal. Mas após a morte do leão Umbriel, seu filho e herdeiro do trono, Oberon, decidiu acabar com o derramamento de sangue e conseguiu unir os animais em harmonia. Pelo menos a maioria deles.
O reino dos leões já havia acabado e essa cidade que abrigava todos os animais era chamada de Thosira, a metrópole animal.
Décadas após a união, uma professora hiena chamada de Harym presenciou uma situação extremamente desagradavel no intervalo das aulas: dois alunos brigavam por comida.
— Me passa aqui! — O tamanduá, conhecido como Tahr, arrancou um pedaço da fruta que estava no prato de seu colega, colocando em sua própria vasilha — Pronto, agora está justo.
— Ei! — O hipopótamo, conhecido como Hipo, exclamou, cheio de indignação — Me devolve agora!
— Me obrigue, balofo! Você já tem demais!
O tamanduá cuspiu no hipopótamo e aquilo o deixou furioso.
— Já chega! — O grande animal foi para cima do comedor de formigas — Hoje você não escapa!
— Pode vir! — Tahr retrucou — Já fazia tempo que eu tava doido para te dar uns tapas!
Se não fosse pela força do gorila e do leopardo que seguraram os dois, aquela discussão não iria acabar bem. Ao presenciar tamanha confusão, a prof. Hiena se aproximou espantada e lhes perguntou:
— O que é que está acontecendo aqui?!
— Professora Harym! Que bom que a senhora chegou! — O tamanduá disse, ainda sendo contido pelo leopardo — Aquele gordo do hipo tava tentando me bat--
— Isso porque você roubou minha comida! — O hipopótamo logo se impôs — Quando me soltarem daqui, você está mor--
— Basta! — A prof. Hiena gritou, fazendo ambos se calarem imediatamente — Ninguém vai encostar um dedo em ninguém aqui, ouviram bem? — Revezava os olhares entre o pequeno e o grande animal — Podem soltá-los, leopardo e gorila… eu agradeço a ajuda, mas tenho que ter uma conversa com eles.
Os animais obedeceram o pedido da professora e deixaram seus dois colegas briguentos a sós com a professora. Ela ficou encarando em silêncio os dois por alguns instantes, com um olhar de reprovação e balançando a cabeça. Devido ao silêncio, o tamanduá pensava que era a hora perfeita para ele dizer seu ponto de vista:
— Eu só fiz aquilo porque ele sempre recebe mais frutas do que--
— É mentira! Você só roubou de mim porque se acha o maioral da escol--
— Vocês dois — A professora disse — Eu não mandei vocês atacarem um ao outro. Já faz um tempo que venho percebendo o clima de inimizade que existe entre vocês dois. A cada dia, vocês dois estão mais e mais violentos, sempre guardando rancor e buscando se vingarem um do outro.
— Mas professora! — O comedor de formigas disse — Foi ele quem chegou todo marrento aqui na escola desde o primeiro dia!
— Não justifica, Tahr. Tratá-lo mal assim só faz com que essas brigas se intensifiquem. Você diz que ele é marrento, mas será que você se esforçou para acolher ele?
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Nassah Shabat: Uma Fábula sobre Perdão
SpiritualAté mesmo em outros mundos, onde toda a sociedade é formada por animais conscientes, a guerra e a desunião é o que deixa marcas permanentes na terra. Uma onda de ataques e rancor. Vinganças que só levam a mais e mais vinganças... Existe alguma just...