"Bibliot"

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Saí do reformatório ainda confusa com meus pensamentos. Andei em direção ao ponto de ônibus, mas decidi seguir algumas quadras em direção ao próximo ponto. Andar talvez ajudasse a aliviar aquela tensão no meu corpo.

Acendi um cigarro enquanto caminhava, fumando lentamente enquanto observava a fumaça me envolver gentilmente. A cada tragada, soltava a fumaça com mais força, como se pudesse expulsar aquele sentimento estranho de mim.

Entrei no ônibus procurando qualquer lugar vazio sem ninguém ao lado. Procurei meu celular na bolsa, mas não sabia exatamente o que queria ver, então desbloqueei e bloqueei a tela diversas vezes, até desistir de usá-lo. Concentrei-me na paisagem na janela.

Cheguei em casa antes do que esperava. Parei a alguns metros da entrada e borrifei meu perfume pelo pescoço e cabelo, disfarçando o cheiro do cigarro. Graças a essa estratégia tosca, minha mãe ainda não havia desconfiado de nada.

Teria apenas duas horas em casa. O suficiente para almoçar e descansar por alguns minutos e então me dirigir para a universidade para a aula da tarde. Parei por alguns instantes na frente da porta de entrada, checando mentalmente se eu estava bem para entrar e possivelmente encarar perguntas indiscretas da minha família.

- Miyu! – Exclamou minha mãe colocando a cabeça para fora da porta da cozinha.

- Oi mãe. – Respondi com pouca animação.

- Como foi o primeiro dia de estágio? – Minha mãe era muito parecida comigo, quer dizer, eu era muito parecida com ela. Duas péssimas mentirosas. Minha mãe não conseguia disfarçar na sua voz que ela não estava nem um pouco interessada em saber a resposta para aquela pergunta.

- Foi... bom. – Caminhei em direção ao meu quarto, evitando me aproximar muito dela.

- Fiz um ensopado de legumes. Seu pai viajou a trabalho hoje de manhã. Volta em duas semanas, se tudo der certo. – Voltou-se para a panela que soltava vapores.

- De novo? Mas ele acabou de voltar... – Encarei o chão, frustrada.

- Você já é grande, deveria entender. – Provou um pouco do caldo do ensopado, soprando antes.

- É. – E entrei no meu quarto.

Meu quarto era um misto de diversas fases da minha vida. Tinha alguns resquícios da minha infância, alguns brinquedos que eu não consegui me desfazer e o Mochi, um ursinho branco (que já estava cinza) que dormia comigo desde os cinco anos de idade. As paredes tinham pôsteres de filmes de ação e bandas de rock. Eu colecionava miniaturas de carros e motos, que ficavam bem organizados em duas grandes prateleiras.

Me joguei sobre a cama, deixando meu corpo afundar na espuma macia. Puxei o Mochi instintivamente para perto e depois soltei, a voz da minha mãe dizendo "Você já é grande" ecoando na minha cabeça.

A imagem de Keisuke invadiu a minha cabeça subitamente. Ele apareceu sorrindo, os caninos à mostra, seus cabelos pretos longos estavam soltos e alguns fios caíam sob o rosto. Tinha aquele olhar selvagem e desafiador que havia me desconcertado e despertado tanta curiosidade. Nós estávamos em uma sala sozinhos, alguns passos de distância um do outro.

Ele começou a andar em minha direção lentamente, mantendo seus olhos nos meus, quase como uma hipnose. Senti um impulso de fugir, mas meu corpo não obedecia. Ele se aproximou, inclinando seu rosto em direção ao meu, parando a alguns poucos centímetros. Interrompeu o contato visual e olhou para a minha boca, abrindo um sorriso ainda maior. Em seguida virou o rosto em direção ao meu pescoço e com uma mão alcançou meus cabelos, acariciando-os levemente e afastando-os. Meu corpo tremia e minha respiração estava irregular, ainda assim eu não conseguia reagir, eu queria aquilo. Mesmo assim eu precisava fazer alguma coisa, não podia ser uma presa tão fácil e acima de tudo, aquilo não era adequado. Keisuke aproximou seus lábios do meu pescoço, beijando-o suavemente e um arrepio intenso percorreu meu corpo. Eu precisava reagir. Movi meus braços em sua direção, para tentar empurrá-lo e então meus braços travaram pelos punhos, fazendo um barulho metálico. Eu estava algemada.

Prenda-me. - Keisuke BajiOnde histórias criam vida. Descubra agora