Acabei caindo no sono e não percebi, dormindo direto até a manhã seguinte. Hayai fez todo o esforço que pôde para me acordar, mas foi em vão. Acordei um pouco antes do sol aparecer, completamente assustada, pensando ter perdido o horário e olhando em todas as direções ao mesmo tempo, confusa. Até me situar no tempo e espaço levou um tempo.
Levantei ainda sonolenta em direção ao banheiro apenas para encarar a minha cara tenebrosa no espelho me encarando de volta. Parecia que eu mesma estava tentando me dizer: 'Pare, antes que seja tarde", mas eu preferi ignorar. Tomei um banho demorado, tentando colocar os pensamentos em ordem, com alguma dificuldade. Ainda era difícil para mim pensar como seria possível apoiar a minha mãe, uma pessoa com a qual eu não tinha qualquer relação positiva, nesse momento de dificuldade, mas teria que acontecer, afinal a partir de agora, éramos só nós duas.
Hoje era o último dia de Keisuke no reformatório. Eu sequer tinha certeza se o encontraria de novo lá dentro. Esse pensamento me perturbava, essa incerteza sobre o que viria pela frente. Ele tinha intenções de me ver aqui fora, mas sequer tinha o meu endereço, não sabia nada sobre mim e eu nada sobre ele. Tudo era tão abstrato e solto e eu me perguntava constantemente se eu estava viajando achando que isso realmente poderia se tornar algo real aqui fora.
Saí do quarto cautelosamente e pela primeira vez me dirigi ao quarto da minha mãe primeiro. Ela estava sentada escrevendo alguma coisa que eu não consegui distinguir e se surpreendeu quando eu bati na porta.
- Mãe?
- Miyu? – Respondeu. Os olhos arregalados.
- Vim ver se você está bem antes de sair. – Falei, um pouco sem graça.
- Estou bem, eu acho. – Ela falou, ainda mais sem graça.
- Eu vou indo. Se precisar de alguma coisa me liga. – Batuquei no batente da porta, tentando desfazer a tensão.
Atravessei a porta principal, sentindo um frio na barriga inexplicável. Olhei para a bicicleta, mas tive minhas dúvidas se conseguiria pilotá-la nervosa do jeito que eu estava. Coloquei meus fones de ouvido e dei play no aleatório enquanto andava a passos rápidos em direção ao ponto de ônibus.
Cheguei no Reformatório em poucos minutos, ou pelo menos foi o que pareceu. A cada esquina meu coração parecia acelerar mais e mais. Entrei pela revista tentando esconder minha expressão ansiosa e subi direto para a sala de aula, tentando ser o mais rápida possível, na expectativa de encontra-lo o quão antes.
- Srta. Kitamura, chegou antecipada. – A professora me encarava com um sorriso estranho.
- O ônibus... eu... já posso descer? – Fui direto ao ponto.
- Preciso te dar umas instruções antes, e mais uma coisinha. – Ela se levantou e veio andando em minha direção.
- Instruções? – Dei um passo para trás instintivamente, encontrando a parede gelada da sala.
- Sim. O Sr. Baji saiu essa manhã, como você já sabia. Acho que você tem feito um trabalho excelente, então decidi manter você sozinha com um interno. Ele já te aguarda no pátio próximo ao edifício principal. – Ela falou, quase sem emoção.
Meu coração disparou. Senti minha mão subir sozinha em direção ao peito e fiz um esforço para mantê-la parada junto ao corpo. Ele já tinha ido embora.
- Antes de descer preciso te entregar isso. – E estendeu a mão.
Ela segurava uma folha de caderno dobrada em quatro.
- Acho que é um bilhete de agradecimento. Eu não li. – Ele sorriu gentilmente.
- O-obrigada. – Peguei a folha sem jeito e coloquei no bolso da minha calça.
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Prenda-me. - Keisuke Baji
FanficMiyuki é uma estudante do primeiro período de psicologia na Tokyo Daigaku. Uma de suas disciplinas, a que considera mais chata e irritante, é "Bases do Comportamento Humano", e é ensinada em forma de estágio no Reformatório Municipal de Tóquio. Lá a...