Longe

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Ele estava lá, na calçada. Vestia roupas completamente diferentes daquelas que eu estava acostumada a vê-lo. Ele vestia um casaco preto jeans sobre uma camiseta branca e uma calça preta rasgada. Ele estava lindo.

- Miyu... – Ele segurou minha mão.

Eu não consegui falar nada.

- Vamos dar uma volta. – Ele falou, me puxando pela mão.

Ele foi me conduzindo pela rua, sem falar mais nada e virou à primeira direita bruscamente. Paramos em frente a um estacionamento de motos e ele olhou para mim com um sorriso devasso.

- Pronta?

- Pronta? – Eu afastei uma mecha de cabelo que insistia em cobrir meu rosto, olhando curiosa para ele.

Ele me entregou um capacete preto e dourado e subiu na Hayabusa branca que me pareceu enorme. Subi em seguida com alguma dificuldade, mas ele esticou o braço e me puxou, me firmando forte junto ao seu corpo.

Disparamos pelas ruas de Tóquio em alta velocidade. Me segurei forte em sua cintura, sentindo seu cheiro maravilhoso enquanto seus cabelos balançavam próximo ao meu rosto.

Ele fazia um caminho que eu não conseguia reconhecer, embora tentasse buscar algum ponto de referência. Não consegui reunir coragem para perguntar aonde estávamos indo, então apenas esperei e tentei lidar com a ansiedade.

De repente ele parou.

- Vamos? - Ele se virou.

O lugar não parecia ter nada especial. Era um conjunto de lojas aglomeradas, espremidas próximas ao centro de Tóquio. Eu não estava entendendo nada.

Entramos em uma loja de fachada amarelo desgastado, que na entrada se lia "Kuwo-Kuwo".

- Baji-Kun, sumido! – Um homem de bigode grosso e olhos miúdos atrás do balcão falou com uma voz rouca.

- Kurokawa. Vou subir. – Respondeu, seco.

- Seu espaço está guardado. – Respondeu o homem.

Eu olhava ao redor, tentando captar cada detalhe daquele ambiente. Parecia um restaurante chinês bem desorganizado, apenas duas mesas ocupadas por pessoas bem estranhas. O menu não parecia nada convidativo.

Keisuke segurou na minha mão novamente me fazendo perguntar se aquilo era um costume com todas as garotas que ele levava naquele local. Subimos uma escada que ficava nos fundos da loja em direção ao segundo andar.

O segundo andar tinha mais mesas de restaurante, algumas telas de televisão e uma pequena área de jogos, com uma mesa de sinuca, um alvo de dardos bastante surrado e uma mesa com uma pintura de xadrez.

Me perguntei o que faríamos ali.

Keisuke me olhou ainda sorrindo, nada parecia abalá-lo naquele momento.

Ele continuou andando pelo salão, eu o seguindo pela mão. Notei uma outra escada no fim do saguão, quase oculta. Keisuke cumprimentou o bartender no bar no canto do espaço e me puxou para a escada e subimos.

Chegamos a um corredor com duas portas, uma de cada lado. Seguimos em direção às portas, que ficavam em frente uma à outra. Notei que haviam inscrições na porta. À direita: Draken, à esquerda: Baji. Entramos à esquerda.

Entramos em um quarto com varanda, surpreendentemente iluminado. Havia claramente alguma tentativa de decorá-lo de forma mais sombria, com pôsteres e algumas pixações, mas ainda assim era um lugar muito agradável. Havia uma cama de solteiro e algumas mobílias em bom estado. Uma porta me fazia perguntar se ali havia um banheiro.

Keisuke pegou em uma das minhas mãos, mantendo o olhar firme nos meus. Seus olhos felinos me intimidavam de uma forma que eu não conseguia explicar, mas ao mesmo tempo me atraiam de um jeito que eu não conseguia evitar, sustentando esse contato com todas as minhas forças.

- Eu te disse que iríamos nos encontrar aqui fora. – Ele começou rindo.

- E-eu realmente não achei... – Continuei, ainda hesitante.

- Eu queria muito... – Disse se aproximado um pouco mais.

- Eu também, eu... – Falei, hesitante.

E ele me beijou. Senti suas mãos me envolverem em um abraço apertado, suas mãos alcançando minhas costas e me aproximando do seu corpo com força e algum desespero. Uma de suas mãos subiu em direção aos meus cabelos segurando-os levemente enquanto nos beijávamos com desejo e intensidade.

Nos separamos, ainda mantendo contato visual por alguns segundos. Pude reparar ainda melhor nos detalhes do seu rosto. Sua pele alva contrasta com seus cabelos negros, seus olhos castanhos pareciam explorar cada detalhe do meu rosto em busca do inesperado e sua boca rosada abrigava um par de dentes caninos afiados que me desafiavam ao mesmo tempo que me ameaçavam, me fazendo teme-lo e deseja-lo simultaneamente.

- Você é muito linda. – Falou.

- Eu...er.. obrigada. – Fiquei claramente desconcertada.

- Eu realmente achei que isso não ia acontecer. Especialmente considerando as outras coisas... – Falei.

- Que outras coisas? – Ele ergueu uma sobrancelha, curioso.

- Bom, essa ideia de vingança e bem, eu não sei... – Disse, tímida.

- Eu tenho minhas prioridades. – Ele disse sério.

- Entendi, eu acho...- Disse, confusa.

- Bom, de qualquer forma eu continuo só uma estudante de psicologia e você...

- Shhh... não é assim... – Ele me interrompeu.

- É assim sim. Eu já até tenho um novo interno, ele... – Continuei.

- Ele? – Ele pareceu interessado.

- Ele é estranho, sei lá, não sei. Não fala muito. É enorme e tem umas tatuagens estranhas nas mãos.

- Você precisa ficar longe dele. 

Prenda-me. - Keisuke BajiOnde histórias criam vida. Descubra agora