- Como assim? – Pergunto curiosa.
- Ele é inimigo da Toman. Problema. – Baji me responde ainda sério.
- Tá, mas ele ainda continua meu "problema acadêmico", Baji. – Respondi, dando de ombros.
- ,Mas, você deve evitar ele. Não importa como. – Baji estava mais sério do que nunca,
- Ok. Vou ver o que eu posso fazer. Isso é uma matéria da faculdade. – Respondi, também séria.
- Ele pode te colocar em perigo. É sério. – Ele se aproxima, segurando meus braços com alguma firmeza.
- Eu entendi. – Desconfortável com toda aquela intensidade e sem entender o motivo pra tanto drama.
Baji anda até a janela do quarto, passando compulsivamente as mãos pelos cabelos. Eu ainda não consigo compreender de que forma um simples contato acadêmico pode ameaçar toda uma gangue aqui fora, mas ele não me parece disposto a explicar.
- Keisuke? – Tento.
- E-eu não sei mais o que dizer. Se que se proteger, me proteger, fique longe desse cara. – Ele falou por fim.
- Okay, acho que posso tentar. Agora, tente ficar calmo, não é o fim do mundo. – Cruzei os braços e o olhei nos olhos, arriscando tudo naquela frase.
- Você tem razão. – Ele relaxou a expressão e começou a caminhar em minha direção lentamente, enquanto abria um sorriso sem graça.
Senti seu cheiro chegar antes mesmo que seu corpo. Era impressionante como seu perfume era inebriante, ainda que eu tivesse certeza que ele não usasse nada, apenas o cheiro demoníaco do seu corpo.
Parou a poucos milímetros do meu rosto, alguns músculos do seu rosto ainda tensos, contrastando com um crescente sorriso que se anunciava em sua boca. Ele parecia gostar desses momentos absolutamente tensos onde eu não sabia se o beijava, se ria ou se desmaiava.
Ergueu o queixo acima do meu nariz e me beijou a testa, me surpreendendo com o gesto. Ficou ali alguns segundos, a outra mão entrelaçada forte nos meus cabelos e então se afastou.
- Preciso que tome cuidado. Vou cuidar do resto. – Disse olhando profundamente nos meus olhos.
- Ok, acho que posso fazer isso. – Brinquei.
Ele riu. Foi bom vê-lo descontrair um pouco.
- Não podemos mais ser vistos juntos. – Ele me olhou sério com seus olhos castanhos.
- Por que? Uma coisa não tem nada a v... – Todo aquele cuidado já estava me irritando.
Seus olhos emitiram um brilho estranho. Suas sobrancelhas estavam arqueadas e sua pele arrepiada. Ele parecia um lobo.
- Não...não posso arriscar mais. E você precisa confiar em mim. – Suas presas reluziam. Ele estava tenso.
- Ok, vamos fazer do seu jeito. – Dei de ombros e ele soltou um suspiro balançando meus cabelos com seu hálito delicioso.
Tomou meu rosto com as duas mãos, que de tão enormes cobriam o meu rosto todo. Beijou suavemente meus lábios, respirando fundo durante o beijo, as respirações se equilibrando e se completando.
- Tem uma saída de fundos. Você vai por lá e eu saio pela frente. Nos encontramos duas quadras daqui em direção ao centro. Vou levar você em casa. Esse lugar é muito visado. – Falou emendando as palavras quase sem respirar.
- Ok e se alguém me perguntar alguma coisa? – Eu realmente me destacava naquele ambiente.
- Diga que está com a Toman, mas não fale meu nome. – Ele falou como se fosse fácil pra mim sair por aí dizendo que estou com um gangue de marginais.
Ele arrumava algumas coisas na mochila enquanto eu ainda estava processando tudo aquilo encostada na mesa. Meus pensamentos confusos se misturavam com a visão surreal de Keisuke na minha frente fazendo qualquer coisa idiota. Por vezes ele interrompia e sorria pra mim, ao verificar que eu ainda estava olhando pra ele sem piscar.
Nos despedimos na porta com um beijo delicioso e ele pareceu querer dizer alguma coisa, mas desistiu. Ele saiu primeiro, olhando para os dois lados do corredor. Saí alguns segundos depois e só então pude perceber, eu estava com medo.
Caminhei na direção combinada a passos curtos e apressados, olhando constantemente para trás. O corredor de quartos era bem longo, com alguns outros nomes em portas e dava em um outro longo corredor de portas não identificadas. Olhava para trás quando trombei com algo grande e caí para trás, soltando um gritinho.
- Ei moça, tudo bem? – Perguntou uma voz.
- A-acho que sim...ai...- Respondi sentindo uma dor incômoda no punho.
- Tá perdida? – A voz grossa perguntou e então eu me recompus para ver em quem eu havia batido.
Era o mesmo garoto que eu havia visto na porta do reformatório, o mais alto. Não era possível que existissem duas pessoas com aquele corte de cabelo e aquela tatuagem de dragão na cabeça.
- Não, não. Estou bem. – Respondi, abaixando a cabeça.
- Nunca te vi por aqui, qual seu nome? – Perguntou se inclinando levemente em minha direção.
- E-eu, estou... Miyuki... estou com a Toman! – Falei tropeçando nas palavras, o corpo quente.
- Miyuki? Toman? Impossível, eu nunca te vi! É namorada de algum membro? Já até imagino quem seja! – Ele deu um sorriso largo, estalando o pescoço num movimento rápido. Nesse momento pude ver como ele era bonito apesar da presença ameaçadora e do jeito de mau.
Me senti estimulada a falar o nome de Keisuke por dois motivos. Um pra sair daquela situação apertada com aquele "viking" de dois metros e dois para saber se era esse o palpite do menino e Keisuke poderia ser na verdade um mulherengo.
Mantive a calma.
- Não. Estou prestando serviços. – Segurei cada tremor do meu corpo, olhei pra frente e falei com toda a convicção que tinha.
- Opa, posso perguntar para quem? – Ele ainda não parecia convencido.
Precisava jogar o mais alto que eu podia, para vencer ou perder de vez.
- Para o comandante. – Mantive a postura.
- Oh sim, entendo. Bom, vai saber que tipo de maluquice o Mikey anda aprontando, né? Bom trabalho, moça. – E passou por mim como um gigante.
Respirei aliviada e ordenei que minhas pernas andassem, mas elas demoraram um pouco para responder. Caminhei então lentamente o resto do caminho e saí na rua, refazendo mentalmente o percurso que deveria seguir.
Caminhei pela rua um pouco desconfiada, afinal toda aquela paranóia do Baji havia entrado na minha cabeça. Em alguns minutos cheguei no local combinado e fiquei próxima a um comércio esperando ele aparecer.
De repente eu vejo a Hayabusa branca subindo a rua, ele sobre ela de capacete, quase não vejo seu rosto. Me surpreendi em perceber como me sentia bem na sua presença.
Ele parou perto da calçada e eu subi na moto. Ele deu a partida sem dizer nada.
Poucos metros adiante, já ganhando a principal, percebi que alguma coisa não estava certa.
O cheiro, o toque do corpo, os cabelos, aquele não era ele.
- Quem é você?
- Você já vai saber.
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Prenda-me. - Keisuke Baji
FanficMiyuki é uma estudante do primeiro período de psicologia na Tokyo Daigaku. Uma de suas disciplinas, a que considera mais chata e irritante, é "Bases do Comportamento Humano", e é ensinada em forma de estágio no Reformatório Municipal de Tóquio. Lá a...