TAKE ME DOWN

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Antes que pudesse imaginar, Woosung estava em seus braços. E quando se perdia nos olhos dele, as horas passavam em questão de segundos.

- Você não vai dormir com essa sombra nos olhos, não é? – Milla o perguntou depois de algum tempo, tocando as suas pálpebras fechadas com as pontas dos dedos.

- É só um pouquinho e um dia só não deve fazer tanto mal. Estou com preguiça de tirar – Woosung confessou, sonolento.

- Deixa que eu tiro pra você – Milla afirmou no mesmo instante e se levantou num salto, animada em poder cuidar dele.

No entanto, antes que desse um passo sequer para longe de Woosung, ele a segurou pela mão, a impedindo de sair.

- Não vai não – pediu todo manhoso, ainda deitado no sofá e de olhos entreabertos.

- Não posso deixar você dormir com maquiagem no rosto. Vai ser rapidinho, eu prometo – Milla explicou e antes que a impedisse novamente foi até a penteadeira e pegou um demaquilante, e alguns discos de algodão.

- Caramba, essa merda está gelada! – Woosung reclamou quando sentiu o algodão umedecido com o demaquilante tocar o seu rosto. Mas Milla não se surpreendeu com a atitude dele, pois sabia que ele tinha boca suja e que às vezes era malcriado.

- Aigoo, não sabia que você era um bebezão. Na próxima vez a Noona vai aquecer o algodão antes de colocar na sua pele sensível – Milla afirmou sem muita paciência.

- Noona? Você é mais velha do que eu? – Woosung a questionou, curioso.

- Biologicamente não, mas parece que mentalmente sim – Milla respondeu, revirando os olhos.

Em um instante limpou toda a pele dele e inicialmente a ideia era realmente fazer apenas isso, mas depois da reação exagerada dele, ficou chateada e quis provocá-lo, então resolveu colocar também uma máscara facial nele. Se achou que o algodão com o demaquilante estava gelado, não sabia o que o aguardava.

Escolheu a mais hidratante das máscaras que tinha e esticou o tecido antes de colocar no rosto dele. Woosung tinha voltado a fechar os olhos e só de imaginar a reação que teria, Milla ria secretamente.

Quando enfim colocou a máscara empapada de creme no rosto dele, ele pulou do sofá, assustado. Seus olhos a fulminavam como nunca antes.

- Você me paga! – Woosung pensou e com esse intuito foi até ela, mas é claro que não a faria mal nem que fosse de brincadeira e nem mesmo se quisesse muito ou estivesse muito bravo.

Assim que chegou perto o suficiente, os olhos dela acalmaram a fera que tinha se agitado dentro dele. Milla tinha o poder de amansar o seu coração sempre que o olhava daquele jeito e dessa vez não foi diferente.

Por um momento, Woosung esqueceu que estava com aquele tecido gosmento em seu rosto e tocou o nariz dela com o seu, a fazendo sorrir com o gesto. A ponta do nariz dele estava mais gelada do que o normal, mas Milla não se importou. Naquele ponto, também já tinha esquecido da máscara e de todo o resto. O beijou sem pensar duas vezes, melando o seu rosto com o hidratante, que deixou um gosto amargo em sua boca, o que não os impediu de se beijarem até que aquele gosto desaparecesse, mas não antes de Woosung jogar aquela maldita máscara para bem longe.

- Eu quero saber tudo sobre você. Onde nasceu, do que você gosta e o que não gosta – disse depois de um tempo, a envolvendo em seus braços.

- Eu nasci em uma cidade chamada Osasco, em São Paulo, no Brasil. Minha mãe é uma professora de inglês brasileira e meu pai um engenheiro mecânico sul-coreano, eles se conheceram em Boston, nos Estados Unidos da América, quando minha mãe morava lá e meu pai foi a trabalho. Eu morei no Brasil até os meus sete anos e depois nos mudamos para cá. Algumas pessoas dizem que eu sou sensível e intensa demais, porque não consigo gostar mais ou menos de algo ou de alguém, eu amo intensamente e odeio da mesma forma. É assim que eu sou.

- Você tem irmãos? – Woosung voltou a questioná-la, queria realmente saber de tudo.

- Sim, sou só eu e o meu Oppa – Milla contou e então parou de falar por alguns segundos, respirando pausadamente. Mas o meu Oppa não está mais aqui – explicou, com uma tristeza profunda em seu olhar. O meu Oppa era muito doce e talentoso, mas quando chegamos nos nossos vinte e pouco anos, as coisas nos parecem mais difíceis de alguma forma e parece que são ainda mais difíceis para algumas pessoas. Nessa idade, a sociedade nos cobra de muitas coisas, quando nós mesmos já nos cobramos demais. É nesse momento, quando saímos da escola, que nos perguntamos: Quem eu sou? O que eu vou fazer? Quem eu vou me tornar? E aqui, na Coreia do Sul, mais do que em qualquer outro lugar, existe muita pressão em cima da gente. E meu Oppa e eu, nós nunca nos encaixamos no padrão coreano e nunca quisemos tentar, e por isso sempre sofremos muito preconceito. Meus pais nunca nos cobraram de nada, mas meu Oppa cobrava muito de si mesmo. Ele queria ser idol, mas não suportou a pressão. O meu pai costuma dizer que: "Não é porque a casca do ovo não está quebrada que o ovo está bom por dentro". E as pessoas são assim. Às vezes é mais fácil dizer que "está tudo bem" do que ter que se explicar quando nós mesmos não entendemos o que estamos sentindo. E sabe, eu odeio tanto quando as pessoas tentam julgar a tristeza de alguém. Elas dizem: "Nossa, por que você está triste, se você tem tudo?! Você não tem motivo para estar assim". Mas é exatamente assim que a depressão funciona. Quando você não sabe explicar porque está triste ou ansioso, isso não é mais um sentimento, mas uma doença. É isso o que as pessoas não conseguem entender. E quando uma pessoa está doente, a única solução é procurar tratamento. Só que não há como cuidar de alguém que não quer ser tratado. E meu Oppa achava que não tinha mais jeito, que as coisas não iriam mudar, nunca. Mas, a vida é feita de fases, hoje eu entendo isso. Demora um pouco, mas tudo passa. Eu queria que meu Oppa tivesse tido um pouco mais de paciência, só um pouco mais e então ele saberia o que eu sei hoje. O cérebro dele só não estava maduro o bastante para entender isso ainda. A nossa vida, ela é feita de estações, que têm o seu tempo de duração. Tempo de florir, de brilhar, de secar e chover. Mas ele não conseguiu esperar a próxima estação chegar. Ele não sabia o que eu sei hoje, agora que tenho uma idade que ele nunca vai completar. E mesmo que meus pais o tivessem forçado a receber tratamento, Maylon já tinha se decidido e se as pessoas soubessem o poder que a nossa mente tem, elas se assustariam com o poder que têm em suas mãos. Que pode ser usado tanto para o bem quanto para o mal.

- Eu me pergunto como você sabe de tudo isso sendo tão jovem – Woosung pensou alto. Sabia que não devia ter sido fácil para ela digerir tudo aquilo sozinha. Também se sentia sortudo de ter contado para ele, e como não sabia o que fazer para consolá-la, apenas escutou com atenção o que tinha para dizer.

- Eu penso demais – Milla explicou, sorrindo timidamente. Isso é tanto uma dádiva quanto uma maldição.

- Eu tenho certeza que ele teria orgulho de você, o seu Oppa – Woosung disse por fim.

- Eu sei que sim – Milla concordou, deitando a cabeça no peito dele. Estava bem mais leve depois de ter desabafado.

𝕯𝖊𝖋𝖎𝖓𝖎𝖙𝖎𝖔𝖓 𝖔𝖋 𝖚𝖌𝖑𝖞 𝖎𝖘 | WoosungOnde histórias criam vida. Descubra agora