◽CAPITOLO VENTITRE

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◽Joe Salvatore

Violleta não atende minhas ligações, chega a ser irritante. Todas as vezes que ligo para a mansão, Judite diz que ela não está ou que está treinando.

É como se fosse planejado, e só por isso sei que algo aconteceu ou está para acontecer.

- Cazzo.

Começo a arrumar minhas coisas para voltar à Itália, minhas prioridades não são as mesmas depois que me casei.

Por volta das onze horas da manhã, Leila, a dona do hotel, interfonou informando que David Montesquieu solicitou minha presença no salão principal.

Quando o encontro, está sorrindo de orelha a orelha encostado na mesa, os olhos vitoriosos, porém cautelosos quando me aproximo.

- Tengo noticias, viejo amigo.
- Tenho novidade, velho amigo.

Ele sorri de lado e segue o caminho restante para chegar até mim.

Desde o princípio quando sugeri que fossemos ao encontro de Vladimir, não tinha esperança que fosse o encontrar. Ele é como um rato, se esconde por todos os buracos que encontrar pela cidade, assim como Russo o faria.

Um roedor tem a capacidade de encontrar outro em um piscar de olhos. Se existia alguém com capacidade para encontrar meu pai, era Vladimir.

Quando David e eu chegamos no galpão já estava de noite, os capangas nos enxergaram à distância e isso não me surpreendeu.
Apenas um de nós poderíamos seguir até a outra instalação, aparentemente eles tinham códigos de conduta rígidos.

O caminho foi mais longo do que imaginamos, seguimos a pé por uma estrada de cascalhos, até que por fim avistamos o portão preto. As portas abrem e o avisto por cima do ombro de seu capanga.

Vladimir sorri com o cigarro entre os dentes, a camisa social dobrada até a metade dos braços e a calça manchada de sangue. Embora não demonstre, sei que está entorpecido de drogas através de seu olhar.

- Joe, meu querido sobrinho! Não digo favorito, porque amo a Nadiazinha.

- Olá, Vladimir.

Ele faz uma careta.

- "Olá, Vladimir" - ele imita, depois se joga na poltrona. - Esperava um abraço, um "senti saudades". Cadê o carinho?

Revirou os olhos, pego uma cadeira, passo minhas pernas e me sento.

- Me poupe das suas futilidades. Preciso que...

- Eu te ajude a achar o Russo. - Ele completa, jogando o cigarro no cinzeiro e acendendo outro. - Eu sei.

Vladimir levanta outro cigarro e eu manejo a cabeça, ele joga o cigarro e eu me agarro.

Retiro meu isqueiro do bolso e ascendo.

- Sei que você disse que não voltaria a se meter nos interesses da máfia italiana, no entanto, isso já não pertence somente a nós. Russo está interferindo diretamente em nossas vidas.

Vladimir deixa o vazio preencher a sala por alguns minutos, até que finalmente se dirige ao capanga ao seu lado, o mesmo se retira. Quando volta, me entrega uma pasta.

A capa da pasta era de um couro desgastado, como se já tivesse passado por várias mãos.

Na primeira página minha boca fica seca.

- Esses são dados do incêndio em uma instituição de ensino aqui recentemente, a instituição em que Vicente estudava. Sete crianças foram mortas, inclusive meu filho caçula.

Devo ter ficado pálido, porque Vladmir me encara.

- Todas as provas do crime apontam para você, Vito está levando ao pé da letra e tenho certeza que esse é o plano principal de Russo: Destruir você e tudo o que te cerca.

- Nádia. - Tomo um choque de realidade. - Acha que ele faria algo contra a própria filha?

Vladmir coloca o cigarro no cinzeiro.

- Não me admiraria se fizesse, por isso, já me adiantei e o localizei.

•••

◽Violleta Moretti

- Ele não pode fazer isso, Mattia, será que não ficou claro?

Mattia fica mudo no telefone.

- Mattia, droga!

- Eu vou dar um jeito nisso, Vio. Tudo bem?

Gino Moretti está tentando a todo custo efetivar minha volta para a América. Mesmo tendo a certeza que a comissão não irá permitir que a esposa do Capô saia do seu lado, tenho receio que ele consiga uma resposta positiva pelos seus canais.

Só de imaginar estar com ele, me sinto enjoada. Sufocada.

- Confia em mim?

Balanço a cabeça, suspirando.

- Você sabe que sim, Mattia. Eu só não... Não quero imaginar como vai ser se ele conseguir que eu retorne.

- Não vai conseguir, pode confiar no seu amigo gostoso.

Nádia aparece quando estou rindo, olha para mim curiosa.

- Depois te ligo, beijo.

Desligo o telefone.

- Era o Mattia?

Concordo. Tenho certeza que ela gosta dele, mas sei que Joe nunca aprovaria um relacionamento entre os dois.

- Joe está tentando falar com você desde ontem. Sabe do que se trata?

Nego, pegando minha garrafa de água.

- Não faço ideia, e nem quero. Seu irmão foi um dos piores erros que cometi.

Vou até a porta.

- Brigaram novamente?

- Você não merece lidar com isso.

- Do que está falando? - Ela insiste, me seguindo. - Até você vai me tratar como uma criança?

Nádia Salvatore me segue, embora esteja sem escolta, mesmo sabendo que ela é uma das pessoas mais caçadas por inimigos.

Sinto suas mãos, e de repente ela está na minha frente me impedindo de passar.

- Será que você poderia me tratar como uma adulta uma vez na vida? Eu achei que você...

- Quer que eu a trate como uma adulta? Então pare de agir como uma criança, porra!

É nesse momento que vejo o homem no alto da colina, mirando claramente em nós, em Nádia. Em um reflexo, a empurro para o lado, retirando a arma do meu coldre.

Atiro no sujeito, mas sinto algo quente se instalar nas minhas costas.

Dizem que quando você encara a morte pela primeira vez, sua vida passa diante dos seus olhos, mas eu não vi nada de imediato.

Desde o princípio fui ensinada a esperar pela morte, afinal, eu sou filha de um mafioso. Como esposa de Joe, minhas chances se intensificaram ainda mais.

É como se fosse o meu destino.

- Violeta... Violleta! - Escuto ela gritar pelo meu nome. - Desculpa, me desculpe.

Foi quando eu vi, um anjo de cabelo negros, vestida de branco. Ela me oferece a mão e sorri para mim calorosamente.

Aurora. Minha mãe, ela tinha vindo me buscar.

- Non puoi salvare tutti.
- Você não pode salvar todo mundo.

LA MÁFIA [VOL.1 OBSESSÕES] Onde histórias criam vida. Descubra agora