Já fazia algum tempo desde a última vez que Alan se sentiu nervoso assim.
É claro que suas mãos, geladas, que suavam na pequena sala de negócios do banco quando o senhor Gaipa passou pela porta, procurando resolver quaisquer pendências deixadas em aberto pela senhora Hong, sua mãe, era um grande indício de nervosismo. As pernas sob a mesa, que balançavam instintivamente na segunda visita, desde que ele decidiu que esse seria o momento oportuno para pedir o contato do rapaz enlutado, usando a velha desculpa de que havia perdido seu antigo número de telefone. Os dedos de Alan tremiam sobre a tela do aparelho móvel enquanto ele digitava uma mensagem genérica e impessoal, identificando-se para o cliente que havia chamado tanto sua atenção.
Mas então, mesmo meses depois daquelas primeiras conversas vagas e tímidas, ele estava se sentindo especialmente nervoso.
Não havia indícios de calafrios, tremedeiras ou movimentos involuntários de suas pernas, mas o aperto em seu peito o deixava um pouco sem ar. E o nó em sua garganta tirava todo seu apetite.
Destoando de como o rapaz se sentia, a noite estava calma e bonita. Em resposta ao dia quente e azul que a pequena cidade teve, estrelas brilhantes e uma linda lua cheia iluminavam o céu escuro daquele final de semana.
O restaurante favorito de Alan estava comumente cheio, rostos familiares sorridentes compartilhando memórias e experiências naquele lugar.
Mas ainda faltava alguém ali.
Seria a primeira vez que Gaipa - não senhor Gaipa, apenas Gaipa - jantaria com Alan nesse lugar, os dois acostumados a se encontrar no mercado antes mesmo de eles se tornarem alguma coisa.
Mas, o que eles eram, afinal?
Convidá-lo para esse restaurante era um passo tão grande e importante para Alan quanto um selar um compromisso entre os dois.
Será que o outro sentia a importância de tudo isso?
O encontro aconteceria às oito da noite, e ainda eram sete e meia.
Alan, no entanto, estava sentado no seu lugar de costume há pelo menos uma hora.
Mais um garçom passava por sua mesa, compaixão explícita em seu olhar, certamente imaginando que a pessoa tão esperada não chegaria.
- Eu ainda estou aguardando alguém. Obrigado - Alan se antecipou, quando o funcionário deu indícios de quem iria questionar, novamente, se ele gostaria de estudar o cardápio.
O tempo se arrastou até que Alan pudesse sentir seu cabelo ser bagunçado em um carinho, se assustando, distraído com as redes sociais em seu smartphone. Sua mão livre buscou o toque que já estava se afastando, sabendo quem era o dono mesmo sem precisar olhar. Seus dedos apertaram a palma alheia em conhecimento, um sorriso relaxado surgindo em seu rosto pela primeira vez desde que ele chegou no estabelecimento.
- Te deixei esperando por muito tempo? - não tinha como mentir para Gaipa, que se encontrava encarando a marca úmida sobre a mesa, do copo de uma bebida intocada que Alan havia pedido quando chegou no restaurante. O sorriso que enfeitava o rosto bonito diminuindo, sendo substituído por uma careta de preocupação.
- Eu só me adiantei um pouco. Você chegou na hora que combinamos, não se preocupe - a voz de Alan era suave, mostrando que a espera foi culpa apenas dele, que decidiu sair do trabalho no banco para ir direto ao encontro.
Gaipa, então, um pouco mais tranquilo, acomodou-se em seu lugar, de frente para Alan. As mesas do restaurante eram postas em um lugar aberto, rodeado por árvores que, por conta da temporada, estavam pesadas com uma grande variedade de frutos. No centro dos objetos, havia assadeiras para os visitantes prepararem as carnes no ponto de suas preferências.