Cap. XXVI - Retroceda

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Os grandes artefatos, assim como as demais armas de magia, são criteriosos e dificilmente podem ser usados por outro que não seja seu verdadeiro portador. Essas armas que privilegiam seus portadores diferem entre personalidade e caráter, traçam o perfil do antigo usuário e procura um único dono, divergindo entre bons e maus, selecionando entre suas escolhas e destinos semelhantes. Ambição, caráter, bondade, maldade, desonestidade ou justiça, qualquer coisa poderia servir para escolher para ser o próximo portador. Nathan, foi escolhido pela ambição, já que o portador anterior a tinha. A diferença que a ambição de Nathan sempre foi pela aventura.

Amélia talvez possuísse uma ou duas qualidades, mas nunca foi escolhida para ser portadora de um dos artefatos, ela apenas nasceu com a sorte de porta-los, se assim desejasse, sem precisar do tabu do selecionismo.

Nathan não pode deixar de ficar surpreso, não sabia de muito, mas entendia pouco a pouco as limitações que a magia oferece a cada um.

--- Obrigado por compartilhar isso comigo. --- Disse ele soltando a aba da sela do Gargalês.

--- Você não deveria me agradecer --- disse ela. --- , tudo o que fiz foi esclarecer aonde você está se metendo.

Um silêncio curto os interrompeu, olhando um para o outro como se tivessem uma conexão, algo que os dois continham que outro alguém não entenderia com facilidade.

--- Não me leve a mal, Amélia, se eu não fizer escolhas não vou poder construir a minha história. Pelo pouco que entendi, histórias são feitas de sequelas e marcas, são escritas com cicatrizes, se eu deixar que as pessoas falem para mim o que fazer, estarei vivendo o que me pedem e não o que quero.

--- E o que exatamente você quer, Nathan? --- Perguntou ela almejando uma resposta tão bonita quanto seu argumento.

--- Quero poder ser livre, forte e não quero ter por consequência o destino. Quero viver uma vida com minha mãe e fazer muitos amigos.

De fato, a resposta inocente e oculta de Nathan não parecia ter furo de roteiro, afinal, quem não quer morar numa casinha na montanha rodeada de verde e beleza, com encantos deslumbrantes de uma magia sem igual? Ou talvez conseguir visitar um reino que fica a dezenas de quilômetros do chão? Talvez nem isso tudo, um cafezinho no por do sol, um pic nic em família, novas descobertas, nada disso seria ruim para quem almeja a liberdade. No fim, liberdade é ter tempo e poder fazer dos pequenos detalhes uma ótima eternidade.

No fundo Amélia queria contrariá- lo, dizer que não iria se demorar a tão inesperada mudança de ares na vida de Nathan. O céu virou inferno, o abandono de amigos, a traição de amados, desconfianças e perseguições. Perder pessoas viraria tradição e liberdade era justamente o que ele menos teria. Mas ela apenas sorriu, atendeu a inocência daquela criança presa em um corpo adulto, com pensamentos de infância e esperança ilimitada até o momento da dor.

--- Acho que você não vai me liberar para ir dormir não é? --- Sorriu ela.

Bastou-lhes um momento quebra-gelo e o assunto evaporou ao pôr do sol.

•••

--- Dá pra você não fazer barulho? --- Sussurrou Nathan dando tapas nas costas de Albert.

--- Como eu ia saber que nós iríamos fazer isso? Além do mais, minha mãe me dava água de chocalho nas quintas feiras, ela dizia que era pra mim ser um tagarela de carteira assim eu não teria problema com momentos tristes.

--- É? Pois ela deu água demais, cala a boca Albert.

--- Por que nós estamos abaixados? --- Pergunta Albert parando repentinamente.

Manifestum: Magia em curso Onde histórias criam vida. Descubra agora