A carta

132 10 0
                                    

Capítulo 17

Sentei-me numa cadeira na sala de espera mais próxima do quarto dele.
Senti o telemóvel a vibrar.
Harry.
Lembrei-me agora. Deixei-o pendurado. O mínimo que posso fazer é mandar-lhe uma sms ou ligar-lhe.
Vou mandar uma mensagem, é mais prático.
Eu: dsclp n ter aparecido. Surgiu um imprevisto.
Poucos segundos depois ele responde-me.
Harry: imprevisto?
Eu: yh, um imprevisto...
Harry: olha Tris, n te obriguei a aparecer, ficou à tua escolha, não quiseste vir, por mim é na boa, mas n venhas com desculpas.
Eu: não é uma dsclp.
Harry: então posso saber o que aconteceu?
Eu: Harry, o Zack está em coma desde manhã. Está entre a vida e a morte. Agora dsclp se não pude aparecer, que eu saiba ainda estás bem vivo.
Exagerei um bocado nesta última para ver a sua reacção.
O Harry demorou algum tempo a responder.
Harry: em que hospital estão?
Eu: aquele em Paddington, ao pé dos hotéis
Harry: eu vou aí ter.
Eu: não venhas!
O Harry não me respondeu mais. Certamente está a caminho.
O que é que eu fui fazer?!
O Zack odeia o Harry e esse ódio é recíproco. Não percebo o porquê do Harry querer vir. Será que quer arranjar conflitos com o Zack, assim que ele acordar do coma?!
Não, não, não...não vou deixar. Eu sou amiga do Zack e o Harry não. Ainda lhe causava mais problemas. Não posso deixar que nada o magoe, ou então ele tenta matar-se de novo.
Sinto-me responsável por ele.
Eu sou responsável por ele.
Decido descer para a entrada principal.
Cheguei, mas agora...o que é que eu vou fazer? Já não falo com o Harry há imenso tempo...tenho de ter cuidado, ele derrete-me toda. Posso ficar com aquela minha voz de drogada quando ele chegar, ou sentir aqueles murros na barriga.
Por mais que eu o evite, eu não consigo. Gosto dele, gosto imenso dele. É a primeira vez que me sinto assim tão... Tão viva.
Ele diz que também sente o mesmo...às vezes penso em como seria fantástico se isso fosse mesmo verdade. Se ele quisesse ter algo mais sério, em vez de se querer deitar comigo.
Dou uma gargalhada sínica.
Por um lado, se ele não gostasse de mim, já teria desistido de me procurar (devido às imensas tampas que levou). Por outro, parece que ele está a fazer um esforço. Um esforço por mudar...resta saber se é por mim (visto que ele ainda não acabou com a Kim).
Vejo-o ao longe.
Endireito-me e ageito o cabelo.
Ele vem na minha direção, agora tenho de adquirir uma postura mais rígida.
Harry: Tris! - corre na minha direção e abraça-me. Eu deixei, tenho saudades dos abraços dele.
Eu: Olá.
Estava tudo tão calmo entre nós agora...já não havia aquele clima de tensão. Adorei.
Harry: o Zack? - ele parecia preocupado, não sei se era fingido ou não, mas pronto.
Eu: ele continua naquele estado.
Harry: mas...ele vai ficar bem?
Eu: sim, Harry. O médico garantiu-me que ele ia continuar a viver, apesar de alguns dos danos serem irreversíveis.
Harry: ainda bem, acho.
Eu: sim, é muito bom. Acho que já não é a primeira vez que ele se tenta matar.
Harry: e tu...estás bem?
Eu: sim, eu estou ótima, agora que sei que ele vai recuperar.
Harry: isso é o que me interessa.
Aquilo foi querido, mas vou fingir que não me tocou.
Eu: obrigada, acho. - esbocei-lhe um sorriso - O que me querias dizer?
Harry: eu queria dizer-te que eu e a Kim acabámos.
Eu: a sério?! Tu estás bem?
Harry: eu estou ótimo. Honestamente, não me sentia bem com o que lhe estava a fazer. Eu gosto de outra pessoa e vou lutar por ela.
Eu: oh, não me digas! - disse com um tom de sarcasmo. - Vais continuar o mesmo, eu sei.
Harry: não, não vou. Mudo por ti se me deres uma oportunidade.
Eu: é só por isso que vais mudar? Não sentes um pingo de vergonha depois de tudo aquilo que fizeste? Depois de todos os erros que cometeste? - sentia-me revoltada e feliz ao mesmo tempo. Já somos dois a querer. - Nem a morte do teu melhor amigo te causa remorsos. Continuaste e continuaste. Não dá para perceber, não dá mesmo.
Harry: mas eu...
Eu: mas tu?
Harry: no meio de tudo o que já fiz, de todas as mentiras, o que eu sinto por ti é a coisa mais verdadeira que eu tenho. Isso chega-me. E eu quero-te, da mesma maneira que tu me queres a mim.
Eu: como é que sabes? Eu não quero namorar com uma pessoa mesquinha como tu.
Harry: oh, estou a ver. - magoei-o.
Eu: Harry, desculpa eu não...
Harry: não, Tris. Tu tens razão. Só causo mal a toda a gente.
Eu: a mim não. Eu também te quero... - baixei o tom de voz - a ti.
O Harry sorriu enormemente assim que eu lhe disse isto.
Chega-se a mim, pega-me por de baixo dos braços e atira-me ao ar.
Harry: eu não vou desistir de ti, Tris. Farei de tudo para te ver feliz e te ver outra vez do meu lado. Vou começar por mudar. Ainda te surpreendo...escreve o que eu te digo Beatrice. - diz isto, dá-me um beijo e pousa-me.
Começo a rir-me. A expressão dele é tão alegre agora.
Reparo no papel que ele traz no bolso. Está meio saído, por isso dá para ver que é um envelope. Nele está escrito o nome do Zack (?!)
Eu: bonito envelope. - aponto.
Harry: ah! - altera a sua expressão para uma séria  muito séria. - Por favor entrega-lhe isto assim que ele acordar, é muito importante.
Aquela mudança de humor assustou-me. Aceito a carta, desconfiada.
Harry: não te preocupes, não é nada de mau ou que lhe  possa prejudicar.
Eu: tudo bem, eu entrego-lhe.
Harry: Tris? - continuava sério.
Eu: sim?
Harry: eu amo-te okay? Faço tudo para te ver com esse sorriso paneleiro na cara.
Eu: ai eu é que sou a paneleira?! - gozo com ele.
Harry: epah sabes como é.
Eu sorrio-lhe. Ele retribui o sorriso e vai-se embora com um ar tristonho e tenso.
Foi por causa da carta. Aquela carta tem algo importante e eu preciso de saber o que é.

• | T R I S | • {hs - pt}Onde histórias criam vida. Descubra agora