Capítulo 3. Rotina

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POV Christopher

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POV Christopher

O tempo parecia se arrastar entre consultas, exames e fisioterapia. Mal via a hora de mudar os ares e ir para a minha casa — ainda que eu não soubesse onde era. A internação se tornava menos pior apenas quando Dulce circulava por aqui cuidando de mim. E todos os dias ela se apresentava no mesmo horário, como um relógio programado, pronunciando um "bom dia" animado, tirando-me de qualquer abatimento que eu pudesse estar sentindo. Quando era sua folga, eu ficava até mais carrancudo e me sentia péssimo por ocasionalmente descontar nos enfermeiros que a substituíam.

Por falar neles, tenho certeza que tinham medo de se aproximar de mim. Realizavam os procedimentos expressando poucas palavras, saindo quase voando do quarto assim que terminavam as tarefas, bem diferentes de Dulce, que insinuava gostar de passar mais tempo comigo. Nos seus dias de descanso, minhas horas eram gastas em muitos programas de televisão. Perdi as contas de quantos episódios de uma série chamada Friends eu assisti nos descansos dela.

Após muitos exames, que incluíam tomografias e radiografias para analisar as atividades do meu cérebro, constataram que eu realmente estava com a tal amnésia retrógrada. Eu achava tudo isso muito estranho, pois como é possível eu me lembrar de coisas corriqueiras, mas não recordar do rosto dos meus pais? Só quem sabia do meu diagnóstico eram o Dr Alfonso, Dulce Maria e mais alguns doutores que trabalhavam na diretoria do hospital. Julgamos que seria melhor ocultar esse fato das outras pessoas por ora, enquanto as investigações do acidente avançavam.

Iniciei também a fisioterapia para recuperar os movimentos e fortalecer os músculos. Fiquei aliviado, uma vez que agora podia tomar meu próprio banho sozinho. Nenhum tipo de amnésia vai apagar da minha mente o quão constrangedor foi ter Dulce Maria me dando banho. Como eu havia acabado de despertar do coma, ela trouxe toalhas e sabonetes especiais para me higienizar. Suas mãos eram suaves, o toque foi gentil em todo momento, mas agradeci mentalmente por ela ter desconectado do meu peito os fios da máquina, assim não percebeu o compasso acelerado do meu coração. Fiquei um pouco desconfortável em permanecer deitado, imóvel e totalmente sem roupas na frente dela, apenas com um pano sobre minhas partes baixas. Reparei na sua expressão constrangida quando começou a lavar essa última parte. Durante quase toda a limpeza, deixei meus olhos fixos na TV para evitar que meu amigo desse as caras, e intensifiquei a atenção no televisor nesse final. Consegui lidar com a situação melhor do que ela, visto que mal terminou de guardar os objetos no carrinho e se despediu apressada, visivelmente incomodada. Madrugada adentro, descobri que esse membro em específico não sofreu danos com o acidente.

Uma semana se passou e cada vez mais desejo ir embora. Não sei o motivo, mas acho que eu não sou tão bem desejado aqui. Além da Dulce e do Alfonso, sinto que as outras pessoas não gostam muito de mim. Às vezes, até finjo que estou dormindo quando eles vêm fazer exames ou realizar a troca do plantão. Em uma dessas vezes, ouvi a conversa dos residentes.

— Tadinho, né, gente... Todo machucado!

— Pensa pelo lado bom, Mai, sem mais Dr Vampirão por um bom tempo! — Uma voz masculina respondeu animada.

Um Novo Começo com Você - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora