Capítulo 15

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Rebeca

Don Carlo chegou antes do previsto acompanhado de seu capanga Adriano.

Inspiro profundamente e coloco minha melhor cara - a de quem está superfeliz com o retorno do meu dono como um belo cão adestrado.

― Boa tarde, Don. ― O recebo ainda da entrada da casa. Só falto abanar o rabo. ― Fez boa viagem, senhor?

Ele sequer me responde, somente me empurra a maleta que ele sempre leva consigo para todos os cantos.

― Michele trouxe o dinheiro? ― pergunta-me sem sequer olhar para mim.

E eu continuo como a grande idiota feliz.

― Sim, senhor. Todos os dias como o senhor falou.

Eu até então não tinha me decidido como dizer a ele que faltavam oitocentos mil. Claro que eu não podia deixar Michele ser o porta-voz dessa informação.

― E como o senhor exigiu, ele veio todos os dias no mesmo horário, inclusive deverá vir para a última entrega em uma hora. ― Ele tira o paletó e me entrega como se eu fosse um cabide.

― Algum problema? ― Preocupado ou ironizando, filho da puta?

― Não, senhor. Inclusive não tivemos qualquer desentendimento.

Nunca fui tão cínica.

Ele sai caminhando comigo e Adriano o seguindo.

― Boa tarde pra você também, gata. ― Adriano sussurra no momento que o chefe não está nos vendo ao começar a ler as correspondências enquanto caminha em direção ao escritório. ― Pensei que precisaria esconder algum corpo – o seu ou do Michele.

Ri, negando como uma menina que acabou de ouvir uma piada.

― A entrega diária foi de um milhão e oitocentos. ― Chamei a atenção do Don assim que entramos em seu escritório. ― Inclusive eu estranhei já que o senhor falou que seria de dois milhões. ― Digo como se essa informação fosse irrelevante ou que o valor "perdido" fosse de oito euros.

― Como?! ― Ele me encara e eu não sei se com raiva ou se fingindo uma raiva que não existe.

― Nos últimos quatro dias, Michele trouxe um milhão e oitocentos contado, sem um centavo a mais ou a menos. ― Quanta falsidade. ― Imaginei que o acordo fosse esse. ― O homem parecia possesso quando se aproximou de mim. ― Eu até comentei com Michele, mas ele falou que ele estava certo.

E você errado, velho nojento.

― Eu falei um milhão e oitocentos? ― nego. —Quando eu falar dois milhões é dois milhões ― e me dá um tapa bem forte no rosto, derrubando-me no chão.

Doeu... mas eu gostei. Não porque eu era sadomasoquista e sim porque eu queria que ele continuasse a alimentar essa raiva.

Eu precisava estar dominada pelo ódio para que tudo desse certo.

Adriano sequer se mexeu.

― Don... ― choraminguei de verdade. A dor era forte, a raiva também ― Eu perguntei a ele, mas ele disse que estava certo, tanto que todos os dias veio...

― Cale a boca, cadela! ― Ele chega a espumar de raiva. ― Adriano, chame Michele agora!

― Não! ― imploro. ― Deixe-o vir e eu te provarei. Ele não sabe que o senhor já chegou, e se ele souber, pode acrescentar o dinheiro faltante. ― Don riu pelo nariz como se aquilo fosse um absurdo.

― Você não acha mesmo que ele me roubaria, acha?

Lógico que não... Tudo foi só para me prejudicar, a questão é que eu não sou otária.

Completamente, Seu (Livro 2 - Traídos)Onde histórias criam vida. Descubra agora