TRUST FUND BABY | YEONBIN

⛱️27 [FIM]

Capítulo 27: Recuperação de feridas irreparáveis

  Soobin era um jovem idiota e problemático.

Mas não problemático no sentido literal. Aos olhos de sua família, na verdade, ele era visto apenas como mais um jovem que, às vezes, precisa de espaço. Lembrava-se com clareza dos dias em que ia passar com os irmãos de sua mãe, na Coréia do Sul, e elas comentavam sobre seus filhos não serem iguais a Soobin, associando isso à algo ruim, pois, ele era exatamente o tipo de filho que qualquer um superficialmente pode desejar. Elas diziam o mesmo de San, o melhor amigo e companheiro da camada alta da pirâmide social ridícula a qual a sociedade construiu desde o início dos tempos. Embora ele concordasse na época, atualmente ele se arrependia disso.

O conhecendo mais profundamente, saberiam que Soobin não era apenas um garoto coberto por privilégios que vive para preencher todas as lacunas exigidas por sua classe, para que se classificasse como alguém honrado e feliz. A felicidade era uma palavra um tanto simbólica para aquelas pessoas, uma vez que felicidade possui um significado singular para cada indivíduo, e nesse caso a palavra fortemente se liga à fortuna: quanto mais afortunado, maior a felicidade, a honra segue com o cumprimento dos costumes e tradições, sendo o princípio o esforço e dedicação, o trabalho árduo e sofrido para conquistar todos os sacrilégios.

O grande problema era que para garotos como Soobin, além da cobrança incessante que sempre precisou suprir sendo o que todos desejavam dele, era que ele não precisava, na realidade, se esforçar tanto para chegar aonde queria, ou onde queriam colocá-lo.

Diferente de sua irmã que, por ser uma mulher, as dificuldades se duplicavam. Por ela ser considerado do "sexo frágil". Por viver em um mundo onde os grandes monopólios pertencem aos homens, e mulheres não têm lugar nas grandes cadeiras das empresas. Ela sim tinha que enfrentar um leão por dia para explicitar quem de fato ela era, e o que mais importa além de sua identidade de gênero e sexo biológico. Soobin a respeitava por isso, por ela ser forte e ultrapassar todos os muros vivendo em um momento governado por homens conservadores, baseando-se em discursos arcaicos e extremamente degradantes para quem quer que estivesse por baixo.

Por baixo.

Não conseguia parar de pensar na humilhação que sua família teria que passar ao voltar para a Coréia do Sul. Seriam tarjados como fracassados, rotulados como sem valor para aquele modelo de sociedade. A ideia era insuportável. O fato de seu sobrenome estar sujo perante todos o perturbava; tentava ignorar o seu orgulho ferido, manter a cabeça erguida e entender que seu contentamento era válido naquele caso. O problema era não poder fugir do mundo, de seus padrões, requisitos, campos os quais meia dúzia preenchem enquanto se apoiam na minoria.

Não é possível usurpar uma ordem que existe há milênios, sozinho. O ser humano é um vírus pois ele se comporta do mesmo jeito: infecta um organismo e se aproveita dele até que ele morra. Apesar de, junto ao organismo morre o vírus também, o que gera uma relação de codependência.

É como uma antiga frase: não existe um exército de um homem só. Uma única força ainda não pode mudar nada.

Haviam tigres por todas as partes, o resto são presas.

Soobin nunca foi a presa. Nunca esteve naquele lado. Nunca soube qual era a sensação de saciedade perante à toda uma selva. Era ameaçado constantemente pela própria consciência, que o acusava de ser um fracasso. Ele era um fracasso? Estava pecando consigo mesmo?

Suas escolhas haviam sido as certas até àquele ponto?

Apoiou a testa sobre a mesa do restaurante do aeroporto, fechando os olhos e suspirando baixinho. Ocultava o desânimo como podia, mas, em alguns momentos, simplesmente era insustentável a ideia de ter que se manter firme. Por um lado, estava feliz. Por outro, planejava desistir daquela viagem, afinal, havia muito nos Estados Unidos que gostaria de não deixar para trás.