Eu subi na minha moto dirigindo sem uma direção certa, eu só queria me manter ali, com o vento batendo no rosto, rasgando a estrada com a velocidade, assistindo tudo a minha volta passar como vultos. Porque era assim que eu tinha me sentido durante anos, que estava apenas deixando a vida passar a minha volta enquanto eu continuava parado em um momento da minha vida em que eu fui feliz.
E eu nunca mais seria, não podia ser, havia perdido essa oportunidade, perdi tudo na minha vida.
Meu coração se apertou ainda mais quando me lembrei de como tratei Alicia, logo ela que não merecia nada de ruim, muito pelo contrário, ela merecia toda a alegria desse mundo. Mas eu precisava colocar uma distância imediata entre nós dois, não podia passar mais tempo com ela, não deveria nunca tê-la tocado e aquela ligação só serviu para me lembrar isso.
Eu devia ter escutado o aviso de Julia e ter me mantido longe dela, mas fui estúpido o suficiente em seguir meus desejos e não resisti. Ela não era algo como uma transa casual, não era uma garota de uma noite e eu errei em deixar aquilo ir em frente.
Rodei a cidade querendo chegar a outro lugar, qualquer lugar que conseguisse me fazer esquecer a dor que eu sentia no peito, geralmente essa escolha seria o bar mais próximo, mas tinha aquela maldita promessa que me impedia de beber até esquecer meus problemas.
Então antes que eu percebesse eu tinha chegado ao cemitério da cidade, lá onde eu tinha feito de casa por vários meses e com o passar dos anos fiz de sala de terapia.
Estacionei a moto e desci sem olhar para nada, todos os guardas ali já me sabiam quem eu era, eles tinham me visto em momentos que eu não queria que ninguém me visse, então não tinha problemas em entrar e sair a qualquer hora. Quando encontrei a lápide que eu conhecia bem de mais, deixei que minhas forças se esvaíssem e cai no chão.
As lágrimas brotaram sem esforço, já estavam na superfície, querendo explodir, precisando que eu colocasse para fora. Era incrível como apenas algumas palavras daquela ligação conseguiram destruir o que eu vinha criando há meses. Foram três meses sem nenhuma crise, sem voltar aqui para chorar ao menos, mas lá estava eu novamente,
Isabella Damasceno, era o nome que estava entalhado na pedra de mármore da lápide. Eu deixei que meus dedos deslizassem pelas letras, contornando cada uma delas antes de caírem ao chão.
— Porque Bella? Porque logo agora? Quando penso que posso ser feliz, que talvez, só talvez eu possa superar tudo isso e encontrar uma nova vida, onde eu não esteja de luto todos os dias, procurando afogar minhas magoas em sexo e no trabalho, então uma maldita ligação consegue me tirar tudo! — eu gritava como se ela fosse conseguir me dar as respostas, como se ela fosse sair daquele chão e concertar tudo na minha vida como tinha feito várias vezes em vida.
Mas nada acontecia, há cinco anos eu esperava por isso e nunca aconteceu, eu torcia para que tudo fosse um pesadelo e ia dormir chorando desejando acordar em outra realidade, mas toda vez que eu abria os olhos descobriam que estava preso naquele pesadelo que eu mesmo causei.
Eu me lembrei do seu sorriso, os olhos azuis que pareciam os céus em um dia ensolarado, os cabelos loiros descendo por seu rosto em cascata até o meio das costas e ela tentando explicar sobre física para uma versão minha mais nova.
— Terceira lei de Newton, toda ação tem uma reação com igual intensidade mas no sentido oposto, é mais simples do que você pensa.
— Então essa lei diz que se eu te der um beijo, você vai me beijar na mesma intensidade? — perguntei ignorando todo o barulho do bar lotado e me concentrando totalmente nela.
— Você vai saber se tentar. — o sorriso de garota tímida nela tinha me ganhado assim que ela cruzou as portas do bar.
Eu não perdi tempo, me curvei e grudei nossos lábios, uma sensação totalmente diferente tomou meu corpo, eu me arrepiei dos pés a cabeça e segurei seu rosto com mais força, não querendo colocar um fim. Mas ela me empurrou e acertou um tapa no meu rosto.
Choque me tomou e eu fiquei paralisado. Não podia ter entendido erra, podia? Então ela sorriu largo, mostrando todos os dentes perfeitamente alinhados.
— Toda ação gera uma reação com a mesma intensidade, mas no sentido oposto. — ela disse gargalhando da minha cara, enquanto eu ainda estava perdido. — Você não me deixou terminar, motoqueiro.
Então ela puxou meu rosto beijando meus lábios novamente, com força, mostrando o quanto queria. Eu demorei a entender a lei de Newton, nem se fale sobre o resto de física, mas naquele dia mesmo entendi que ela era a mulher da minha vida.
Coloquei meu rosto sobre a grama e não me importei em deitar ali, ao lado dela. Era injusto que eu estivesse vivo e ela não, era injusto que duas pessoas que se amam pudessem ter a vida inteira ou apenas alguns anos para aproveitar a companhia um do outro.
Eu tinha perdido a conta de quantas vezes eu tinha me deitado ali e desejado que tivesse ido junto com ela, podíamos ser felizes na eternidade, ou ao menos eu não sentiria essa dor horrível que dilacerava meu corpo.
Isabella era a razão para nossa casa inteira ser decorada como se tivesse saído de uma revista, ela fez questão disso e eu lhe dei carta branca, eu daria o mundo para aquela mulher.
Mas ela também é a razão de todos os retratos estarem vazios, não conseguia levantar e andar ali vendo suas fotos, era até mesmo difícil levantar da cama, seu fantasma em minha cabeça e as lembranças eram o suficiente para me fazer sofrer, sofrer por ter tido tudo na vida e ter perdido.
Me deitei ali em posição fetal, como já tinha feito outras vezes, a verdade é que eu chorava por não ter ela em minha vida e por tudo que eu causei a outras pessoas depois que ela se foi. Quando alguém perde a luz que o guia na vida, vira apenas um fantasma do que era, uma coisa pesada, sem vida e que destrói tudo a sua volta.
Foi isso o que eu fiz, destruí pessoas perto de mim, destruí mais do que a minha própria vida e nada que eu fizesse poderia mudar isso. Esse era mais um motivo para eu me manter longe de Alicia, eu era uma bomba relógio prestes a explodir e eu não podia destruí-la com meu egoísmo de querer tê-la em minha vida.
Ela merecia o mundo e eu era apenas uma pessoa quebrada, nem mesmo metade do homem que fui um dia. Tudo o que eu tocava se destruía, se quebrava, Alicia carregava duas vidas dentro de si, precisava de toda luz, amor e felicidade que pudesse receber. Eu era a última pessoa que podia lhe dar isso, se existia um resquício do meu coração eu faria de tudo para mantê-la longe.
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Segunda Chance - Concluído
RomanceAlicia sempre teve que lutar muito por tudo o que quis na vida, começando com seus estudos e um lugar de destaque no trabalho. Na vida amorosa não era diferente, depois de um divórcio conturbado com um marido abusivo, ela finalmente achou que tinha...