Segredo Escondido no Tempo

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Foi abaixo de Brocburrow que encontrei a trilha de rastos de magia ancestral. Guiou-me para o interior de uma caverna, num corredor estreito e sinuoso que descia para o coração da montanha. As pedras estavam escorregadias pela humidade, inclusive escutava uma pinga a cada dois segundos algures na escuridão. Mesmo fazendo uso de Lumos, apenas conseguíamos ver o caminho aos nossos pés. Parecia não haver espaço para a luz, o que me soou como um mau presságio.

Seguimos o caminho com cautela, por vezes pisando em rasas poças de água, o que fez parecer mais longo do que realmente era. O cheiro de terra molhada era forte e receei por o pé em falso, na lama, e cair. Felizmente, não aconteceu. Quando chegámos ao fim do corredor, uma sala circular iluminada por tochas surgiu diante de nós. Algumas pinturas adornavam as paredes, mas a tinta já estava tão desgastada que não consegui reconhecer nenhum dos lugares que retratava. Ainda assim, aproximei-me e absorvi tudo o que ainda era perceptível, na esperança de encontrar algo que abrisse a porta de madeira, a única passagem para a sala seguinte.

– Alguma ideia? – A voz de Natty quebrou o silêncio e ecoou até mim.

– Da última vez, a chave tinha sido um símbolo gravado na parede, mas não o encontro nem nada semelhante.

Percorri a sala uma outra vez, com Natty no meu encalço, mas não tive melhor sorte. Afastei-me e observei de longe antes de levantar o olhar para o teto.

– Pensando bem, não me admira. Da última vez foi o Sebastian que encontrou os símbolos.

Não consegui esconder a frustração. Tudo parecia girar em torno dele. Ainda assim preferi não me arriscar uma segunda vez naquele tipo de aventura com ele. Ele era a minha força e a minha fraqueza, além de que ele já tinha sofrido o suficiente.

Os rastos tinham parado de aparecer naquela sala. Não havia nada nas paredes, no teto, nem uma fechadura na porta, o que fez-me questionar se realmente era uma porta. Tinha todo o formato para ser uma, incluindo uma maçaneta em forma de til. Sem mais opções, recorri ao feitiço Revelio. Um novo cenário tomou forma à nossa volta: a mesma sala de espelhos em que estivera antes, mas agora com uma saída. Ainda assim, não consegui esconder o horror pelas lembranças que aquele lugar trazia-me. Só de tentar afastá-las sentia a minha cabeça doer.

– Estás bem? Ficaste pálida de repente.

Acenei rapidamente.

– Vamos continuar.

Para que não me perdesse de Natty, segurei-a pela mão e atravessei a porta agora aberta. Um corredor de espelhos estendeu-se à nossa frente e eu temi o que dali poderia vir. Pelo caminho, contei a Natty sobre a minha visão quando tinha estado frente àqueles espelhos a última vez. A incerteza de estar no mundo real ou numa ilusão fazia-me tremer a cada passo que dava. Apesar de Natty garantir que era verdadeira e que nada ia acontecer, não conseguia sentir-me segura. Afinal, Sebastian também parecia completamente normal na minha ilusão, porém não passou fruto de algum truque de Isidora.

– Essa Isidora... Tens a certeza que foi ela que criou tudo isto?

– Não tenho, mas foi a voz dela que ouvi na minha cabeça.

– Não seria porque ela é a única que associas a este poder?

– O professor Rackham também era como eu e a Isidora.

– Mas ele não roubou as emoções dos outros.

Seria possível que outra pessoa além dos guardiões tivesse criado estes desafios? Se assim for, queria muito ver uma memória dessa pessoa para a conhecer, quem sabe aprender mais com ela.

Todavia, esse desejo teria que esperar. Ao entrarmos na sala seguinte, fomos surpreendidas pelos mesmos guardas dos desafios anteriores. Não eram tão colossais como os últimos que enfrentara, mas os seus quase três metros não me deixavam mais sossegada. De varinhas na mão, esperamos que eles atacassem primeiro.

Entre Luz e Sombras (Sebastian Sallow x FemOC)Onde histórias criam vida. Descubra agora