1| A Morte

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Medo.
Puro medo é o que sinto nas veias. 

Meu coração, disparado no peito, tenta acompanhar a adrenalina percorrendo todo o meu corpo. Corro tanto que, em determinados passos, minhas pernas ameaçam vacilar. Enquanto me esgueiro pelas ruas mais obscuras de Kangston, olho para trás a cada beco, verificando se eles já haviam ido embora ou se continuavam me perseguindo incansavelmente.

Os requísios de uma chuva iminente, batem contra meu rosto como agulhas afiadas, aliados ao vento forte da madrugada.

Péssima decisão!

Escuto risadas no final do beco o qual entro, e então paro de solavanco, encarando a escuridão com a respiração ofegante enquanto sinto suor me descendo a têmpora.Meus olhos ardem e meu corpo treme, mas tento me concentrar para não desabar ali mesmo.

ㅡ Ora, ora...ㅡ a voz de Jacob irrompe a escuridão, acompanhado por mais risadas. Eles haviam dado a volta pelo quarteirão, me pegando de frente e desprevenida. ㅡ Parece que a retinha se perdeu.

Fecho meus punhos e me preparo, ficando pronta para qualquer coisa que avançasse contra mim. Era fato que eu não estava bem segura das minhas habilidades de luta naquele momento, e que, talvez, se eu tivesse algo na mão, me sairia bem melhor.O que me tirou toda a segurança, foi saber que eram mais de um atrás de mim e, detalhe, haviam frequentado a mesma academia de luta que eu, quando mais novos.

Engulo em seco, meus olhos correndo pelo lugar. O beco, cheirando a merda,fazia com que meu estômago se revirasse e meu nariz se franzisse, incomodado. 

ㅡ Estava pensando que iria fugir? Conhecemos cada canto desse lugar, sua vadia! ㅡ cospe, parecendo irritado por eu tê-lo feito correr tanto, enquanto os outros soltam a sua risadas amargas. 

Escuto seus passos se aproximando, pisando em poças de água que pingavam das biqueira e se acumulavam ali.  O encaro assim que seu rosto entra em contato com a fraca luz do poste no final da esquina, revelando sua expressão de poucos amigos.

Ele realmente estava puto. Bom trabalho, Marie! ㅡ penso.

Jacob está com o olho inchado  devido a garrafada que lhe dei, assim que ele se quer me alcançou após eu ter corrido e eu a vi bombeando em uma das calçadas, pelo menos isso havia me dado tempo de fugir para mais longe, antes que seus amigos me avistassem. Isso me arranca um leve sorriso, satisfeita com meu gesto de autodefesa. 

ㅡ Sua aparência não está nada boa. ㅡ digo, sem conseguir me segurar. Mais do que nunca, eu sentia nojo dele. Nojo de sua cabeça doentia e maquiavélica!

Sua camisa manchada de vinho, mais parecendo sangue, também estava rasgada. Mas não é isso que chama mais a minha atenção, e sim o ferro em sua mão.Se Jacob já tinha uma força descomunal sem nada, imagine o estrago que faria em mim com aquele ferro?

Jacob gira o ferro no ar, fazendo o metal zunir e causar arrepios em meu corpo.  Observo o bastão agora, que, se eu não me apressasse, logo estaria atravessado em mim. Mais uma vez, procuro algo que pudesse me ajudar, com os olhos... Logo noto que o chão não era de asfalto como no início da rua, e sim de  areia.

Um trovão ressoa, como um aviso para eu me apressar se não, logo o chão estaria úmido e eu não conseguiria fugir. A chuva ameaçava vir o quanto antes, para o meu azar.  

Levo minha mão ao meu brinco dourado, pensando seriamente em sacrificá-lo para conseguir fugir.  Vovó ficaria triste... Mas ficaria ainda mais triste se soubesse que sua neta havia sido morta por seu melhor amigo.

Deixo o brinco cair.

ㅡ Você comia no mesmo prato que eu, Jacob! Como pôde ter coragem disso?! ㅡ cuspo, na tentativa de o distrair.

Me And The Devil ( Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora