3 - Sombras do Passado

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Dois dias depois da visita ao boticário, Hermione olhou o relógio se aproximar das 16h com uma pedra de gelo dentro do estômago. Estava com uma imensa preguiça de interagir com qualquer ser humano que fosse, ainda mais com um que deveria estar morto e que provavelmente a obrigaria a revisitar sua vida de magia, mortes e guerra.

Um sentimento dúbio a preenchia cada vez que olhava relógio, os ponteiros indicavam que quinze minutos já haviam passado e ela ainda não tinha tomado a decisão de ir até ele. Depois de toda o assombro e raiva terem se esvaído desde o encontro na loja, seus pensamentos estavam tomados por curiosidade assombrosa para descobrir como ele forjou sua morte e conseguiu convencer todo mundo disto.

Ela tentava afastar essa euforia em tê-lo descoberto repetindo a promessa feita a si mesma de que não queria nenhum envolvimento com o próprio passado e, por mais que Snape fosse infalível, ele não era mais seu professor e ela não precisava obedecê-lo.

Snape foi bem categórico ao informá-la sobre a consulta marcada para hoje: "Não se atrase", uma típica ordem que ela cansou de ouvir quando era sua aluna. Suspirou. Snape sempre foi um maldito ditador.

Pelos quinze minutos finais, que garantiriam que não se atrasaria, ela ponderou com estes dois lados de seus pensamentos. Por fim, decidiu que não, não trairia seu próprio voto de nunca mais se envolver com magia.

Aquela decisão que tomou anos atrás, foi uma das primeiras coisas que fez em sua vida adulta que Hermione pensou exclusivamente em si mesma. Havia gasto anos dedicando-se em prol de uma causa maior, que envolviam amigos, família, anônimos e toda comunidade bruxa. Ela nunca tinha olhado para dentro si e decidido apenas por ela. E foi preciso quase perder sua sanidade para perceber o quão árduo era catalisar toda saúde mental necessária para manter aquela estrutura de forte, corajosa e inteligente que sustentava.

Hoje ela era uma nova Hermione. E essa Hermione, que suportou todos que a consideraram egoísta por abandonar tudo, não trairia a si mesma. E mesmo o conceito de egoísmo sendo tão pessoal, Hermione lembrava de todos que a olharam acusadoramente iria embora. Perceber as acusações veladas deles, mesmo depois de tudo de bom que Hermione tinha feito pelo mundo bruxo, deixaria qualquer ser humano irremediavelmente mal, confuso e irritado, mas em Hermione só reafirmou sua certeza de não ficar nem mais um dia ao lado daquela gente injusta.

Era até engraçado ouvir a interpretação deles que ela era egoísta, nenhum deles fez o mínimo esforço para compreender as circunstâncias da sua decisão, porque ela devida se importar? Não retrocedeu, explicitou educadamente que pensar em si mesma não era egoísmo, arrumou suas coisas, tratou das condições legais com o Ministério da Magia e partiu em busca do seu próprio equilíbrio mental.

Deu-se de presente a si mesma momentos para dedicar tempo e energia em atender suas próprias paixões, atividades e sonhos. Viveu apenas a sua própria vida.

E não, depois do que enfrentou por anos, mesmo com seu organismo lhe sabotando, e mesmo com Snape e seu jeito implacável lhe dizendo que ela deveria estar lá às 17h e sem atrasos, Hermione não desistiria. Ser um trouxa era a sua vida agora, e nada a faria quebrar uma promessa feita para a pessoa que ela mais amava na vida: ela própria.

oOoOoOoOo

Passava das dezenove horas quando Esther veio se despedir do chefe, Severo Snape tamborilava os dedos na sua escrivaninha com um ar pensativo e impaciente e apenas resmungou para o boa noite que sua assistente entoou. Granger tinha faltado à consulta agendada, os frascos com as poções que ele daria para ela estavam milimetricamente postados no mesmo lugar onde deixara: bem ao lado dos exames cuidadosamente empilhados sobre a mesa.

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