Capítulo 3

23 5 2
                                    


— Quem é você? — pergunto ao completo desconhecido à minha frente. Nunca tinha visto aquele garoto andando com Bryan, Maurício, ou com qualquer um de seus amiguinhos, antes.

Disso eu tinha certeza. Eu teria reparado.

O garoto sorri.

— Alguém sabe responder essa pergunta?

Suspiro, sem acreditar que ele havia mesmo interrompido o que estava fazendo e gastado o meu tempo pra isso. Devia ter imaginado que aquele era só mais um na turminha mais besta da cidade, que devia ter acabado de entrar.

Mas tive a esperança de enfim encontrar alguém diferente entre eles. Não sei o que me levou a pensar assim. Se foi a jaqueta roxa, as perfurações, os olhos atenciosos. Ele era cheiroso, usava roupas legais e exalava personalidade. Mas se eu tivesse raciocinado um pouco mais, chegaria à conclusão de que qualquer garoto que, pelo menos, pisasse naquela festa, não era passível de ser nada além de desprezível.

Giro nos meus pés pra continuar indo embora, dessa vez, mais rápido. Mas o garoto aleatório corre em minha direção e me segura pelo braço — o que eu nem consigo conceber, de tão absurdo. Mal o conhecia e já o odiava. Como todos os caras insistentes e invasivos.

Não estava surpresa, no entanto. Meu lado racional estava certo outra vez e eu devia aprender a lhe dar mais ouvidos. Isso me pouparia bastante coisa como, sei lá, tentar beijar o meu professor de inglês.

— Dá licença! — grito, puxando de volta meu braço de sua mão.

O garoto abre e fecha a boca, como se desistisse do que ia falar, tamanha vergonha. Por alguns segundos, me sinto um pouco arrependida pela minha agressividade. Mas não seria por isso que iria dar o braço a torcer.

— Olha, foi mal. Meu nome é Danilo. Prazer.

Ergo as sobrancelhas e balanço a cabeça. Não entendia o porquê ele ainda queria que eu soubesse seu nome. Dava pra ver pela minha cara que eu havia perdido todo o interesse, depois da sua resposta ridícula. Alguém sabe responder essa pergunta? Sério? Era pra rir? Porque eu não estava vendo graça nenhuma em toda aquela situação.

Meu dia estava terrível. E eu só não diria que aquele podia ser eleito o pior da minha vida porque daria trabalho pra considerar cada um.

Quer dizer, eu simplesmente havia acabado de pegar meu namorado quase se agarrando com outra mulher de biquíni fio dental, e estava fugindo enquanto ele levava uma surra, em uma briga que eu armei. E aquele otário se sentia no direito de me parar pra fazer graça com a minha cara?

— E aí? Posso ir embora agora? Ou você vai ficar me alugando pra sempre?

— Eu só queria te perguntar se você não quer carona. Eu já tô de saída — ele ergue os dois capacetes que carregava.

Rio, na cara do garoto, mal acreditando nos meus próprios ouvidos.

— Bem conveniente pra você, né? — puxo meu celular do bolso do casaco e o desbloqueio, pra chamar um motorista de aplicativo, que me tirasse logo dali. Nada mais perigoso do que ser uma garota num casarão mal iluminado, repleto de garotos sedentos.

— Não, não é isso — ele franze o rosto. — É que já tá tarde. E você tá de pijama.

— Ah, obrigada, príncipe, mas hoje não. Eu sei bem me virar sozinha.

Dou as costas pra ele, começando a digitar o endereço de partida. Hesito antes de colocar o destino. Mas que merda. Eu estava com fome, frio e sem lugar algum pra ir. E aquele idiota não saía das minhas costas.

Cada SegundoOnde histórias criam vida. Descubra agora