I'll Stay Here | Kim + Porchay |

Memórias ruins

Ponto de vista do Porchay

Na terça eu passei quase o dia inteiro trancado em meu quarto e pensando. Pensei sobre tudo que Kim falou e no quanto era ruim saber que ele tinha razão. Hope ficou comigo no quarto e eu senti saudades de Baz. Talvez Kim seja um bom pai para ele enquanto eu não estiver por perto, mas eu queria estar lá também... Acho que agora eu queria muitas coisas, e entre elas acreditar que eu ainda tenho algo de positivo dentro de mim, e que eu sou importante como Wik disse.

Estava sentado no chão encostado na cama enquanto Hope estava brincando perto de onde eu estava. Minha cabeça parecia estar em outra dimensão e talvez eu estivesse completamente perdido em todos os pensamentos possíveis. Queria ter forças o suficiente para voltar a faculdade, pois sinto falta das aulas e de todo o resto... Porém, não era seguro lá fora, e era diferente de sair apenas para ir até a casa do Kim.

Quando ouvi batidas na porta, eu já sentia que poderia chorar mesmo que não estivesse entendendo muito bem o motivo para isso. Haviam momentos em que minha cabeça estava sobrecarregada com todos esses pensamentos horríveis e eu ainda não sei como lidar com tudo. Talvez com o tempo eu consiga finalmente me sentir melhor, mas por enquanto isso não funciona.

— Terapia amanhã. — Ouvi Porsche dizendo e eu afastei todos os pensamentos. — E nós temos que falar sobre outra coisa.

— Porsche, acho que eu não quero fazer terapia. — Falei e Porsche cruzou os braços me encarando sério. — Sério, eu não sei se quero sair daqui.

— Bom, a terapia não é negociável. — Ele disse simples e não parecendo se importar com nenhum drama que eu poderia fazer sobre isso. — Você já deveria estar fazendo há muito tempo, e tenho certeza que você ainda vai agradecer por isso.

— Eu não quero sair de casa, Porsche... Tudo bem, eu já saí antes, mas sabe eu realmente não quero sair daqui. — Comecei a dizer e nem mesmo eu estava me entendendo. — Kim falou que eu deveria tentar me reaproximar dos meus amigos, mas eu não sinto que devo fazer isso, pois eu não quero que eles vejam o quanto eu estou machucado... Eu sou feliz tendo só você, Kim e o Macau.

— Está vendo? Por isso você vai para a terapia. — Ele apontou pra mim e eu revirei os olhos. — No início, eu não queria ninguém se aproximando, pois você não parecia nada bem e realmente não estava, mas agora é diferente.

— Diferente como? — Perguntei. Certo, eu não tinha mais os machucados de antes, ah não ser por algumas cicatrizes, mas eu poderia conviver com elas. Talvez elas estivessem ali para mostrar que eu sobrevivi. No entanto, minha mente ainda estava machucada.

— Você precisa parar com isso de que não consegue fazer tal coisa. — Ele começou como se estivesse se preparando para me dar uma bronca. — É claro que você consegue sair de casa e ver seus amigos, só que ao invés de fazer isso, você simplesmente acredita que ficar aqui trancado no quarto vivendo apenas comigo e o Kim seja o suficiente, mas não é, entendeu?

— O Kim disse algo parecido com isso também. — Olhei para Hope sentindo todos aqueles pensamentos invadindo minha cabeça novamente. — E se eu tentar e não conseguir? Quero dizer, e se eu fracassar em ser feliz novamente? Você sempre disse que nada iria me machucar enquanto eu estivesse com você, então não faz sentido você falar que eu posso ter uma vida fora daqui quando eu fui sequestrado e torturado quando tentei fazer isso.

— Se você fracassar, você continua tentando. — Ele disse como se fosse óbvio. — É isso que as pessoas fazem, filhotinho. Elas tentam e tentam até que dê certo. — Eu sei que no fundo ele tinha razão, e era como se ele e Kim estivessem combinando para jogar verdades em minha cara. — Eu errei muito não te ensinando a ser forte e lidar com problemas, pois eu passei todos esses dezoito anos fazendo o possível para que nada pudesse te afetar, mas não é assim que a vida funciona... Quando eu me machuco, eu me torno mais forte, e pode acontecer o mesmo com você.