CAPÍTULO 04

22 3 9
                                    


Vaguei que nem um vira-lata caramelo ao relento

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Vaguei que nem um vira-lata caramelo ao relento. Em hipótese nenhuma eu compartilharia com Oscar o mesmo ambiente. Sai do apartamento do Inácio e fiquei na escada do prédio a maior parte da madrugada, pensando besteira, com raiva do Inácio, ódio do Oscar e frustração por não ter a menor capacidade para subir aquelas escadas e arrebentar a cara dele. No fim, esses sentimentos não serviram de nada porque fiquei sozinho, nem mesmo a breve presença da Luena conseguiu amenizar de fato a minha solidão de madrugada.

— Não acredito! — A fumaça deixou meus lábios, junto com um sorriso ao vislumbrar a minha vizinha atravessando o hall até mim.

Era quase duas da manhã e ela estava radiante.

Apesar do tempo fresco nas noites do Rio, Luena estava bem à vontade dentro do vestido florido e longo de alças finas que realçaram as curvas do seu corpo gordo. Era impossível não reparar nela, pois de uma maneira única, ela ocupava todo o espaço e atraía para si os olhares mais atentos. Olhava pra ela e lembrava da Jamila. Seu tom ébano, sorriso branquinho e as tranças como uma coroa cheia de histórias em sua cabeça. Jeito amável de me olhar e a mesma rapidez nos pensamentos.

— Não sabia que infrigia as regras do governo.

Ela riu apesar do cansaço visível nos traços do seu rosto.

— Não estava infringindo nada.

Parecia até piada.

— Foi aonde?

Relaxou o corpo na parede perto do degrau da escada.

— Cacique de Ramos.

Minha expressão dizia muito sobre a surpresa que foi para mim aquela informação.

— E não me chamou?

Luena revirou seus olhos castanhos, cedendo o corpo, até se acomodar no primeiro degrau abaixo do que eu estava sentado.

— Você tá sempre enfiado no apartamento do Inácio, fica difícil te achar assim. — Nem pensou duas vezes antes de jogar a verdade na minha cara.

Dei um trago no cigarro, na tentativa de retrucar suas palavras, mas não consegui.

— Os caras não bateram lá não?

— Desviando o assunto? — não respondi. Ela riu. —A polícia apareceu lá, quase que todo mundo rodou, eu saí de fininho fico nem perto deles.

— Imagino. — Umedeci os lábios completamente imerso nela. — A gente devia sair qualquer dia.

Ela achou graça, mas eu falava sério.

— A Amália te expulsou do apartamento? — Ignorou meu convite.

— Me dá uma chance, Luena.

Ela achou a maior graça.

🏳️‍🌈| O Mar que Aqui RetornaOnde histórias criam vida. Descubra agora