A Escuridão me cerca. Não há sons, não há cheiro, e nem mesmo imagens. Não sei aonde eu estou, nem mesmo se estou viva. Não me lembro se eu desmaiei durante a queda, ou se eu bati com força em alguma pedra quando eu cai no rio. Minha mente está perturbada e meu corpo machucado. Talvez eu esteja morta e nem mesmo me dei conta. Eu me prejudiquei tanto simplesmente por ser tão ingênua. Eu vivi a minha vida inteira em baixo das assas dos meus pais. Nunca na minha vida pensei em ter que segurar um machado para lutar. Agora eu percebo que eu não tenho escolhas. Estou a dias nessa viagem e não pude fazer nada sozinha sem o Fenrir. Se não fosse por ele eu estaria morta a muito tempo. Uma grande onde de melancolia acerta o meu ser. Sinto que sou incapaz de fazer qualquer coisa. As coisas teriam sido muto mais fáceis se eu simplesmente não fosse...eu.
De repente, sinto que o meu corpo está molhado, em uma sensação muito desconfortável. Passo a escutar sons vindos nessa escuridão. Sons incompreensíveis e muito altos. Tão altos que até fazem com que a minha cabeça começasse a doer. São ruídos distorcidos, como se muita coisa estivesse acontecendo ao mesmo tempo. Logo esses ruídos se tornam se tornam mais suportáveis, e aos poucos viram sons familiares, porem abafados. É possível ouvir o som de água corrente ao fundo, e vozes que dizem palavras nas quais eu não consigo compreender, pois estão abafadas demais. Não demora muito até o som ficar mais claro, e logo sou capaz de ouvir uma voz masculina e uma voz feminina que chamam pelo meu nome.
- '' Astrid!? Astrid!! Por favor fala comigo!!
Uma voz masculina familiar chama por mim desesperado, e horrorizado. Sinto um toque gentil a me carregar a parte superior do meu corpo. Sinto que estou dentada sobre algo fofo e macio, em quanto as minhas pernas sentem o toque áspero de algo que parece ser areia.
- '' Fenrir, se acalma, saia de cima dela, ela precisa respirar.''
Uma voz calma feminina direciona palavras aquele que me segura. Essas vozes, são as vozes de Fenrir e Dorothea. Não consigo acreditar, como eu sinto tantas saudades deles. Isso é alguma ilusão? O que está acontecendo? Por que eu não consigo me mexer? Eu quero ver eles, eu quero abraçar o Fenrir! Eu quero dizer que eu estou bem e comermos todos junto uma comida deliciosa. Novamente eu escuto a voz de Fenrir, uma voz tristonha e tremula que faz com que o meu corpo se arrepiasse.
- '' Por favor, não me deixe...''
Em seguida, eu sinto algo a encostar na minha testa. Algo com pelos. Sinto o peso por cima de mim, um peso que não é pesado, mas sim confortável. Sinto como se o rosto de Fenrir estivesse perto do meu. É como se o Fenrir tivesse encostado a testa dele na minha em quanto implora para que eu tenha uma segunda chance. Isso na verdade é tão lindo, eu nunca imaginei poder ver Fenrir tão emotivo por minha causa, eu preciso dele, eu quero estar com ele. Fenrir, por favor, não fique triste. A ultima vez em que eu o vi triste ao ponto de chorar, foi quando ele teve que tirar a vida de seres humanos que nos ameaçavam. De repente, eu vejo que a escuridão começa a se esvair aos poucos. Logo começo a recuperar a visão. Está embaçada, mas que fica clara aos poucos.
- '' Fenrir, acho que ela está abrindo os olhos!''
Diz Dorothea ao Lobo Abatido, que rapidamente afasta o seu rosto do meu e me observa atentamente. Quando eu finalmente recupero a visão, a primeira coisa em que eu me deparo são os olhos azuis tristonhos da fera de pelo cinza. Ele está ofegante. Seus olhos brilham devido ao acúmulo de lagrimas em seus olhos. Suas orelhas estão baixas e a sua boca aberta para poder respirar melhor. Logo atrás dele está uma senhora forte de cabelos longos pretos que também me observa preocupada. Diferente do lobo ela está em pé. Estou deitada sobre o colo do Fenrir. Vejo que eu ainda estou nas margens do rio violento que me trouxe pra cá. Está de dia, o som feroz da água preenche o ambiente, a única coisa que interrompe o som da correnteza é o do meu choro pueril. Ver o desespero e o olhar triste de Fenrir fez com que o meu coração derretesse instantaneamente. Saber que depois de tudo o que aconteceu, eu sobrevivi e estou viva para poder ver esse Lobisomem de novo. Começo a chorar, chorar tanto ao ponto de nem mesmo conseguir falar direito. eu abro os meus braços e abraço Fenrir, o pegando desprevenido. Eu aconchego o meu rosto em seu peito peludo para esconder as minhas lagrimas. Sinto os braços fortes de Fenrir a me abraçar fortemente, e o seu queixo a apoiar em minha cabeça. Não escuto a voz de Dorothea nesse momento, apenas o meu choro e grunhidos tristes de desespero, como uma criança, na verdade, eu sinto como se eu tivesse nascido de novo, e poder estar perto dos meus amigos, é uma sensação indescritível, e maravilhosa. Após alguns longos segundos desse abraço, desse reencontro, eu escuto a voz suave de Fenrir.
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Histórias De Inverno (A Chapeuzinho Vermelho e o Lobo)
WerewolfBaseada no conto da Chapeuzinho vermelho... Astrid é uma jovem garota que viaja pelas frias terras nórdicas a caminho da casa de sua avó, Porém o caminho é traiçoeiro há perigos no fundo Da floresta e o lobo mau passeia aqui por perto...