A Curiosidade que me Corrói

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Pela expressão confusa no rosto de Garreth, falhamos em conter o nosso choque. Não havia dúvidas: o tempo não tinha passado desde que entramos na caverna e não me ocorria nenhuma justificação para tal. Uma coisa era certa: quanto mais mergulhava na descoberta sobre a magia ancestral, mais perguntas surgiam. As respostas continuavam a ser poucas.

– Aconteceu alguma coisa?

– Não, Garreth. – Apressei-me a responder. – Para ser sincera, ainda bem que é cedo e que estás aqui! Precisava de ajuda com algumas poções. Ninguém melhor do que tu para isso.

Vi-lhe um brilhinho de orgulho nos olhos. Estufou o peito e ajeitou as roupas.

– Se é sobre poções, estás a falar com a pessoa certa! Aliás, planeava testar algumas poções hoje, depois do jantar. Queres acompanhar-me?

Aceitei o convite, aliviada por ter despistado a curiosidade dele. Depois de mais uma troca de palavras sobre um tema aleatório, despedimo-nos de Garreth.

Não sabia o que pensar. Tínhamos adquirido tantas informações e, ao mesmo tempo, não era o bastante. Inúmeras hipóteses cruzavam a minha mente. Estava tão turbulenta que me doía a cabeça. Ainda tinha algum tempo até ao jantar, pelo que refugiar-me na Sala das Necessidades pareceu-me a melhor opção.

– O melhor é esqueceres este assunto. Não me parece seguro – advertiu Natty, antes de nos separarmos.

Limitei-me a concordar com ela. Sentia que estava perto e que esta seria a única solução para a Anne, por isso desistir agora não era uma opção. Irónico, não é? Antes, preferia não usar a magia ancestral, com medo de cometer o mesmo erro que Sebastian e Isidora. No entanto, a minha curiosidade era mais forte. No fundo, queria aprender mais sobre este dom e como utilizá-lo e, no fim, salvar Anne com ela. A minha última tentativa para não o fazer seria a poção de Garreth. Se ele conseguisse tentaria esquecer, conforme Natty pediu. Se ele não conseguisse, iria sozinha para o último ponto do mapa.

Até à hora do jantar, optei por escrever tudo que sabia sobre a magia ancestral: os feitiços ofensivos; a manipulação do tempo, que aprendera na memória da penseira; a absorção de emoções, que a Isidora tinha conhecimento.

Virei a página e nela anotei o que tinha vivenciado até ao momento naqueles dois pontos do mapa: no primeiro, a intensa dor, a magia ancestral que absorvera do metal na sala secreta do escritório, a ilusão da morte de Sebastian na sala dos espelhos, a apatia dele nos dias seguintes; no segundo, os relógios, o tempo que não passara desde que tínhamos entrado na caverna, a magia ancestral que as opalas absorveram, a súbita cura das feridas tanto da Natty como a minha, e, por fim, a visão no espelho. Sempre que me recordava deste último acontecimento, sentia-me completamente arrepiada. O que queria dizer aquela marca?

Rodei a pena nos dedos depois de anotar tudo, lendo e relendo as informações. Não conseguia encontrar um ponto de ligação entre elas. Precisava de mais. Aquele último lugar teria as respostas ou mais perguntas?

– O Ominis podia, simplesmente, dar-me o livro – desabafei, frustrada, para a pena antes de largá-la sobre o caderno.

Levantei-me e andei em círculos pela sala, numa imitação barata de Sebastian, na esperança de conseguir pensar melhor. No entanto, nenhuma ideia se formou, nenhuma luz se acendia na minha mente.

Peguei na minha varinha e observei-a de vários ângulos.

– Tudo que fiz até então foi por instinto, antes de conseguir dominar – pensei alto. – Foi tudo na base de querer algo. Será que quis que o tempo parasse? Acho que não. Pelo menos não conscientemente. – Subitamente, parei. – Será que tem a ver com a Anne? A minha preocupação com o tempo dela a esgotar-se...

Entre Luz e Sombras (Sebastian Sallow x FemOC)Onde histórias criam vida. Descubra agora