— Como? Como?! E... o que aconteceu, Ava?
Beatrice tocava o rosto de Ava quase como se estivesse diante de uma assombração. Tocava seus ombros, seus braços, seus cabelos compridos.
— Como é possível? — E abraçou-se a Ava novamente.
Ava sentiu-se feliz como há muito não se sentia. O abraço de Beatrice era um bálsamo que magicamente curava todas as feridas de Ava. O perfume dos cabelos de Bea tinha o poder de acalmar e relaxar todo o corpo e mente de Ava, algo que não é possível de se explicar.
— Venha, vamos nos sentar. Você está pálida e ainda está tremendo. Quem diria que eu deixaria você de pernas bambas, hein Bea? — Ava falou e deu um sorriso de lado, provocando Beatrice como sempre fazia.
Beatrice não esperava por aquilo. Não naquele momento, tão tenso, de ter encontrado Ava depois de tê-la perdido da forma como foi. Corou violentamente e sorriu antes de baixar os olhos. O humor de Ava era parte de quem ela era. E Beatrice simplesmente amava cada parte de Ava.
Bea sentou-se sem tirar os olhos de Ava. Será que era uma alucinação? Estaria sonhando? Tocou de leve o rosto e o braço de Ava mais uma vez, talvez na tentativa de se certificar que ela não iria evaporar diante de seus olhos. Ava apenas sorria, achando graça daquela reação incrédula de Beatrice.
— Como você me encontrou aqui? E como você voltou? Quando? O que aconteceu? — Todas as perguntas assaltavam Bea de uma só vez, todas ao mesmo tempo, sem saber qual deveria ser respondida primeiro.
— Calma... — Ava sorriu da avalanche de perguntas de Bea. — Eu vou te contar tudo.
Esperaram que Hans se afastasse depois de trazer água para as duas, a pedido de Ava. O assunto não era algo que pessoas comuns conseguiriam entender e era prudente que evitassem falar na frente de qualquer pessoa. Ainda mais de Hans, que sempre pareceu um pouco curioso demais. Hans olhou demoradamente para Ava. Ela estava um pouco diferente, mas sempre muito bonita e com uma energia inexplicável que atraía olhares, como sempre foi. Beatrice captou aquele olhar e, se tivesse o poder, incineraria Hans só com o olhar.
— Você não tem trabalho para fazer, Hans? Ou vai ficar aí parado olhando para Ava como se nunca a tivesse visto? — Bea falou muito séria.
Ava riu da situação. Beatrice, afinal, continuava sendo Beatrice. Esticou o braço e segurou a mão de Bea, que estava sobre a mesa, e aquele gesto fez Bea voltar-se para ela, sair da situação de evidente ciúme.
— Eu senti tanto sua falta, Bea... você não pode nem imaginar.
— Também senti sua falta. — Bea sorriu de leve. Ava era quem não poderia imaginar o buraco no peito e a dor que a falta dela causava a Beatrice.
— Eu tenho mesmo muito a contar, mas primeiro eu tinha que te encontrar. Tanto que a primeira pergunta que fiz quando voltei ao convento foi "onde está Bea?"... eu precisava tanto ver você! Me encheram de perguntas também, mas eu simplesmente precisava ver você primeiro.
— E como me encontrou? Eu não falei para ninguém para onde viria. Ah... já sei. Deve ter sido Camila.
Ava sorriu.
— Camila disse mesmo que você poderia estar aqui na Suíça, mas eu já havia pensado nisso antes mesmo dela dizer. Quando me disseram que você saiu da Ordem depois daquele dia, eu imaginei que você pudesse estar aqui. Eu também viria para cá se achasse que tinha perdido você.
Beatrice, sem perceber, apertou um pouco mais a mão de Ava.
— Aqui foi o lugar onde eu passei mais tempo junto de você... só eu e você. Foi aqui que tive dias tão felizes, foi aqui que te embebedei pela primeira vez... — Ava olhava intensamente para Bea, que sorriu com a lembrança daquela noite. — ...e foi aqui também que eu percebi que tinha me apaixonado por você.
Beatrice sentiu um calor enorme dentro do peito. Só Ava conseguia deixá-la daquele jeito. O fogo em seu peito era tanto que sentiu até suas bochechas queimando e tentou esconder baixando o rosto, mas pelo sorriso no rosto de Ava, ela havia percebido. E, afinal, Beatrice tinha escolhido voltar para a Suíça pelos mesmos motivos que Ava havia falado. Uma sintonia entre os motivos de seus corações.
— Você está aqui desde aquele dia? Sem mandar notícias a ninguém? Camila e a Madre Superiora disseram que não tinham notícias suas há algum tempo.
— Sim... quando saí do convento vim direto para cá. Eu mandaria notícias assim que estivesse bem, mas ainda não estava... aparentemente 3 meses não foram suficientes para eu me reerguer.
— 3 meses? Você está me dizendo que está aqui desde que saiu do convento, então... aqui... aqui deste lado só se passaram 3 meses?
Beatrice percebeu o espanto na voz e no rosto de Ava.
— A doutora Salvius disse que existe mesmo uma distorção quântica entre o tempo daqui e o tempo do outro lado do Arco, não se sabe como, ainda mais depois do que aconteceu quando Michael atravessou o portal e voltou.
A menção do nome de Michael magoou um pouco o coração das duas e Bea só notou isso depois de já ter falado. Michael havia se sacrificado para salvar a todos, mesmo sem ter tido sucesso, e isso elas não esqueceriam jamais.
— Quanto tempo se passou para você, Ava?
— Não sei ao certo... talvez 6... talvez algo mais próximo de 7... anos.
— Anos?!
Ao lembrar-se de todo o tempo que esteve naquele lugar, um sorriso triste passou pelo rosto de Ava.
— 7 anos em que passei cada minuto tentando voltar.
Uma lágrima rolou pelo rosto de Ava, lágrima que Beatrice enxugou com o polegar, com a mão que acariciava o rosto cansado de Ava. Ava colocou sua mão por cima da mão de Beatrice e fechou os olhos. Como era bom sentir o suave toque de Bea novamente.
— Mas eu não desisti, Bea... Eu tinha que voltar.
Beatrice sorriu de leve e assentiu com a cabeça. Estava feliz com a volta de Ava, mas sabia que havia algo mais que ela não estava contando naquele momento.
— Ava... o que aconteceu do outro lado?
— Como eu disse, Bea... tenho mesmo muito o que contar, mas quero contar a todas vocês juntas. A você, Camila, Madre Superiora... toda a Ordem. E eu só posso fazer isso se você estiver comigo. Você me dá forças, Bea... e eu não vou conseguir se você não estiver comigo. Eu preciso de você. Por isso vim te buscar. Você voltaria para a Espanha comigo?
— Claro, Ava. Eu não vou deixar mais você ir sozinha a lugar nenhum.
Aquelas palavras fizeram Ava sorrir mais abertamente, com os olhos ainda úmidos de lágrimas e a mão de Beatrice em seu rosto. Virou o rosto e deixou um beijo carinhoso na mão de Bea.
— Obrigada.
— Não precisa me agradecer, eu sempre disse que estaria com você em cada passo do caminho, e enquanto Deus me permitir, eu estarei. Agora você precisa descansar, amanhã iremos encontrá-las, ok?
Ava assentiu e deixou que Bea guiasse o caminho e a levasse para o seu apartamento.
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O Maior Poder do Mundo
FanfictionAva voltou depois de passar muito tempo no outro reino. Pelo menos em seu ponto de vista. Beatrice tentava levar sua vida longe do que representava o que levou Ava embora de junto dela. Tê-la de volta era tudo o que Bea queria, mas teriam que enfren...