POV REBECCA
Acordo com a boca seca e o coração acelerado. Meu estômago dói e minha cabeça mais ainda. Na noite passada, bebi todo o vinho que havia em casa enquanto desfazia um quadro que havia montado há dois anos atrás, sobre o caso mais importante da minha vida, e que nunca consegui concluir.
Tantos papéis pendurados, anotações feitas, localizações marcadas, fotos, fatos, suspeitas, tudo permaneceu ali na parede do meu escritório por dois anos, pois nunca consegui me conformar de que falhei com isso, e que a responsável por tantos crimes permaneceu solta, por aí, como se não tivesse feito nada para ninguém. Deve estar investindo todo o dinheiro que roubou em outra forma de roubar mais, por puro prazer. Esse era o seu perfil. Ela havia desaparecido mesmo, e como prometera, não deixando rastro algum.
Ainda lembro do seu olhar, quando esteve próxima de mim a ponto de conseguir sentir sua respiração quente em meu rosto. Naquele dia eu pude ver a impetuosidade cruel que ela carrega através dos seus olhos. Ela estava tão perto, e eu tive que deixá-la ir.
Junto alguns comprimidos e engulo com um pouco de café enquanto procuro meus sapatos, pois pretendo chegar cedo no trabalho, mas antes mesmo de sair, recebo uma mensagem no celular.
Dirijo até a delegacia tentando controlar a ansiedade, não consigo imaginar o que me diria respeito quanto ao caso Roman, eu sequer sou uma das suas principais investigadoras, tenho dado apenas algumas contribuições. Melhor tentar lembrar de tudo que sei...
Roman é um homem da alta sociedade, suspeito de participar de uma quadrilha envolvida com muitas ilicitudes, dentre elas a pior: tráfico humano. Nas últimas semanas, meu parceiro, responsável pela investigação, Bernardo Nop, conseguiu encontrar, colocando localizadores em carros de capangas de Roman, um sítio usado para receber mulheres trazidas do exterior. Essas mulheres, de diversas nacionalidades, eram enganadas quando aceitavam propostas de melhoria de vida, mas acabavam sendo vendidas ao diabo. Só sei que o caso veio à tona e muitos homens foram presos, confessando trabalharem para Roman. Quando ele foi preso pensei que o caso fosse encerrado, mas parece que a organização ia muito além dele.
Entro na delegacia e logo vejo August me acenando da porta da sua sala. Outros colegas investigadores também estavam por lá, todos em pé, ao redor de uma mesa, e observavam alguns papéis. Quando entrei, todos pararam bruscamente de falar, e fixaram seus olhares em mim, inclusive Nop. August não fez rodeios, apenas procurou entre os papéis o que me interessava e me entregou. Foi nesse momento que senti meu coração congelar.
Em meio a alguns documentos, em minhas mãos, imagens dela.
- É ela??? é mesmo ela? é Samanun??? - perguntei, em choque.
Eu não estava acreditando. Por um momento, fui tomada por um sentimento estranho de alívio por saber que ela não estava morta, como Nop havia sugestionado certa vez. Por outro lado, me senti tomada pela raiva e pelo orgulho.
- Sim, Rebecca, é ela! Depois de dois anos, essa diaba ressurgiu! - respondeu August.
- E qual o contexto dessas imagens? Onde ela está?
- As imagens foram feitas no aeroporto. Temos vídeo também, mostrando que ela se encontrou com um capanga de Roman por lá. Aparentemente Roman tinha mandado segui-lo e foi aí que essas imagens foram feitas. - August ia me explicando enquanto percebia minha atenção transbordar pelos olhos, ele sabia o quanto esse caso tinha sido importante para mim, e o quanto eu me culpava por não ter conseguido deter Samanun.
- Você acha que ela agora está envolvida em tráfico humano? Meu Deus! Até para os métodos dela isso é podre demais! Se bem que...
- Rebecca, ainda não sabemos. Os documentos que estão nas suas mãos mostram que Roman estava procurando por Sam. Se o capanga foi seguido e essas imagens foram feitas, havia suspeita sobre ele estar traindo Roman e passando informações para ela. Isso é tudo que conseguimos levantar. Que é ela, e que algum interesse ela tem nas atividades de Roman. O capanga desapareceu. Deve ter sido apagado...
- August, você precisa me colocar nesse caso! Você precisa me deixar encontrá-la. Eu não vou deixá-la escapar dessa vez, não vou! Eu vou até o inferno atrás dessa mulher!
Saio da sala ainda sem rumo. Minha cabeça começa a rodar, e o maldito quadro que desfiz ontem se refaz em minha mente. Não consigo ainda conceber a ideia de que Samanum reapareceu justo quando eu finalmente tinha decidido virar essa página. Até parece que ela fez de propósito! Agora, meu quadro tinha ainda mais elementos. Nos últimos anos, sabe-se lá com o que ela deve ter se envolvido no submundo do crime. Dessa vez, eu sinto que daria minha vida para encontra-la.
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Tão perto
Fiksi PenggemarCompletaram-se dois anos desde que a investigadora criminal Rebecca Armstrong teve notícias sobre a peça principal do seu mais significativo e complexo caso: Samanum Anuntrakul. Sob o pseudônimo de "Sam", essa mulher havia cometido inúmeros crimes d...