Capítulo 4

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Os dias que a avó passou com as meninas foram de muita alegria e brincadeiras. A avó leu muitas histórias, contou outras que lembrava e inventou algumas. Samanta estava firme no seu propósito de não aceitar o tratamento, tinha decidido ficar pequeninha, apesar de sofrer quando lembrava da teia em que sua irmã crescia mais que ela.

Um dia antes de sua avó ir embora para o sul, Samanta sonhou, mas sonhou muito longe, num lugar muito estranho, numa época muito antiga, num mundo muito diferente do que vive hoje! Quando deu por si, estava no meio de uma multidão de pessoas que seguiam por uma caminho e ela fazia parte de um grupo de mulheres que seguiam pela estrada. Olhou para as mulheres, elas choravam e gemiam. A menina estava acompanhando um cortejo muito cruel. Um homem, mais a frente carregava uma grande estaca pontiaguda de madeira. Soldados, que pareciam romanos, também acompanhavam a procissão. Samanta ouvia uma língua diferente, mas entendia tudo, sabia o que estava acontecendo, parece que tinha vivido nessa época e tinha voltado no tempo para lembrar. Observava o grupo de mulheres e viu uma delas avançar firmemente até a pobre vítima e secar seu rosto sofrido com um lenço que trazia nas mãos. As mulheres choraram mais e Samanta também chorou, no sonho ela sabia de tudo. Sabia que uma daquelas mulheres era a mãe da vítima e sentia muita pena dela. Foi ficando para traz e ouviu homens rudes vociferando insultos contra a vítima. Uns riam, outros faziam troça, outros gritavam impropérios.

- Esse galileu está pagando o que fez, pecou contra nossas leis, quis mudar nossa tradição!

- Dizia que todos os homens são iguais, escravo e patrão, judeu e romano, um louco da cabeça!

- Sim, consolou meretrizes pecadoras, dizendo que elas sim teriam o reino dos céus!

- É um louco, conversava com escravos, dizia que devemos perdoar os pecadores e amar nossos inimigos, quem ele pensa que é?

- Um subversivo, já estava provocando a desordem na cidade!

Samanta ouvia a tudo quieta, sabia que o sonho estava ensinando o que ela precisava aprender. Quando chegaram no topo da montanha viu o pobre homem ser desnudado para sofrer seu castigo.

Ouviu de um velho judeu que este castigo é uma grande desonra dada somente aos criminosos e escravos.

- Mas ele é um criminoso por ter ido contra as leis da sua religião? - perguntou um jovem humilde que também não se conformava com o que acontecia.

- Sim, foi condenado pelos doutores da lei. Ele iludiu uma multidão de pobres, miseráveis, leprosos, escravos e gente desclassificada. Prometeu a eles a salvação e o paraíso se o seguissem! Escapamos por pouco de uma revolta dessa gente, uma grande ameça que podia provocar a ira do governo romano contra todos nós, judeus. Por isso foi condenado e entregue ao governador romano, Pôncio Pilatos.

Samanta entendeu tudo e chorou, velho mundo antigo e injusto com um justo!

Fechou os olhos para não ver o que os soldados e carrascos fariam com os cravos e martelo que surgiam em cena no cume da montanha.

Oh, que aflição, parece que já vivi tudo isso, pensou ela, me tire desse sonho, não quero ver esse homem ser picado com esses pregos, não quero mais sofrer com essas cenas cruéis que vão marcar o mundo para sempre. Quando finalmente abriu os olhos, viu a aranha, sua conhecida, fazendo teias sobre os ferimentos do pobre homem. Moscas surgem de todos os lados avançando sobre a vítima, mas são impedidas pelas teias sagradas.

A menina ficou surpresa quando viu a cruz nas costas da aranha de novo. Neste momento compreendeu que é uma cruz sagrada como uma diadema em agradecimento pelas teias nos ferimentos daquele judeu, que mais tarde vai ser aclamado salvador do mundo pelos homens.

- Samanta - disse-lhe a aranha Diadema - desde a crucificação de Jesus levamos uma cruz branca nas costas. Em agradecimento ao nosso feito, recebemos o dom da cura e o nome de Diadema. Somos curadoras, por isso queremos ajudá-la!

A menina ficou pensativa olhando a cena das teias protetoras. Os ruídos, choros e gritos ao seu redor não mais a perturbavam, mil pensamentos vinham a sua mente. De repente começou a chorar, chorou tanto que seus pés jaziam numa poça de lágrimas! Lembrou de sua família, de seus amigos, de cenas passadas. Sabia que podia tecer uma nova teia em sua vida. Lembrou do seu tratamento e não teve medo.   Ergueu a cabeça e pensou que tinha muita coragem para enfrentar o que viesse pela frente. Olhou para a aranha e sorriu. Não sabia se era sonho ou verdade, mas seu coração estava tranquilo.

FIM

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⏰ Última atualização: May 05, 2023 ⏰

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Samanta e a Aranha DiademaOnde histórias criam vida. Descubra agora