PRÓLOGO DA GUERRA

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Por éons incontáveis, os reinos de Korlon e Costa del Sud foram regidos por duas nobres linhagens, cujas raízes penetravam os anais da história. A Casa Katrine, após emergir triunfante da caótica Revolução Yelo, no ano de 2403, ascendeu ao trono de Korlon com firmeza e destreza. Enquanto isso, na esplendorosa Costa del Sud, a Casa Lockart se ergueu ao poder através da astúcia intrínseca ao estabelecer o Conselho de Fenrir. Sob a sombra benevolente desse conselho, disfarce ardiloso de uma governança autocrática, a Casa Lockart exerceu seu domínio supremo sobre o reino, um reinado que perdurou desde o longínquo ano de 1884 até os dias de 2711.

As origens primordiais da Casa Katrine permaneciam envoltas em mistério e incerteza, ocultas nas névoas da antiguidade. Dentro das sagas sussurradas, alguns relatos proclamavam que seus cofres se encheram após a dissolução da Era da Magia, uma vez que seus vínculos com os sábios arcanos se estreitavam em segredos sibilantes. Outras lendas narravam que sua riqueza floresceu pela posse de vastas extensões de terra ao norte de Korlon, terras cujo valor atingiu proporções exorbitantes durante a Era do Progresso. Todavia, em meio às lendas tecidas pelas teias do tempo, uma verdade se consolidava: em meados do século XXIV, a Casa Katrine emergiu como uma família opulenta e poderosa, erguendo-se com orgulho no ápice da pirâmide política, possuindo vastas propriedades e ostentando poderosos impérios empresariais.

Entre os anos de 2398 e 2405, Orachel Katrine, o ilustre patriarca, ousou investir vultosas somas em um ambicioso projeto tecnológico, que alçou a Casa Katrine aos céus do sucesso. Tal projeto foi a icônica tecnologia Yelo, cujo impacto revolucionário conquistou os corações do povo em poucos anos. Nessa aurora fulgurante, nas eleições para determinar o herdeiro do trono em 2403, Orachel Katrine foi coroado como o novo monarca, elevando a sua linhagem ao cume do poder régio. Assim se desenrolaram os anos, enquanto uma sucessão de governantes de sangue Katrine imperava, prolongando-se ao longo dos séculos até o crepúsculo do ano de 2707.Sobre a ancestralidade enigmática da Casa Lockart... Ah, são véus de mistério que encobrem suas origens. Entre as brumas do tempo, os registros se perdem e apenas fragmentos de verdades ressoam nos ecos do passado. Foi no distante ano de 1884, durante o apogeu da II Era Imperial, que Omnio Lockart desencadeou uma transformação aparente no domínio de Costa del Sud, almejando uma modernização grandiosa e a drástica redução das teias burocráticas que envolviam as relações políticas.

Ergueu-se, então, o Conselho de Fenrir, cuja fachada revelava um propósito ilusório de fomentar o liberalismo econômico e político, além de pregar a descentralização do poder. No entanto, nos recônditos do conhecimento, todos sabiam que aquilo era uma mera ilusão, uma artimanha meticulosa. Durante quase um milênio, a Casa Lockart ostentou o domínio, personificando a figura do Rei Fenrir e ocupando a maioria dos assentos no conselho. A dinastia Lockart, assim como a sua contraparte Katrine, estendeu seu reinado até os derradeiros momentos do ano de 2707, quando as marés do destino desenharam um novo capítulo na tapeçaria da história.

Como reza a lenda de Evita, as duas casas reais encontraram o seu fim simultaneamente, por um motivo evidente: a morte dos seus últimos herdeiros. Alguns apreciam justificar o desaparecimento das dinastias Katrine e Lockart com um provérbio ambíguo: "Elas findaram quando se tornaram uma só". No entanto, esse ditado só faz sentido após se compreender a trama oculta por trás dos acontecimentos que provocaram a guerra sem precedentes entre Korlon e Costa del Sud - ou melhor, a Guerra entre as duas casas reais, a qual ficou inscrita como a mais sangrenta e violenta de toda a história de Evita. Somente após examinar os intricados desdobramentos que levaram à resolução trágica dos últimos herdeiros de cada lado, a verdadeira causa da queda das casas é revelada.

Nesta saga, nossa jornada se inicia com uma jovem donzela, de meros doze anos de idade, cujo nome ecoava através dos tempos: Lúcia Bergamenot. A Casa Bergamenot era amplamente conhecida em Korlon por serem os banqueiros mais prósperos e respeitados de todo o reino. Riqueza e elegância eram sinônimos incontestáveis da linhagem, e nenhum Bergamenot escapava ao padrão de empreendedor dedicado, trabalhador incansável, estudioso inigualável e político habilidoso. E as mulheres da família, sem exceção, irradiavam uma aura de elegância, refinamento e glamour, esbanjando riqueza por onde quer que passassem. Seus vestidos de alta-costura e as pesadas joias que adornavam seus corpos capturavam a atenção da sociedade ao redor.

Contudo, em meados de 2672, a economia de Korlon mergulhou em uma crise sem precedentes. O surgimento da tecnologia Yelo provocou uma corrida frenética dos bancos em direção a investimentos massivos em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, na esperança de alcançar a mesma sorte que Orachel Katrine desfrutara. Por mais de dois séculos, esses investimentos geraram lucros substanciais, alimentando a prosperidade. Entretanto, os cientistas, descontentes com salários baixos e a falta de reconhecimento, iniciaram uma revolução que interrompeu abruptamente os avanços tecnológicos. Essa rebelião, conhecida como a "Revolução dos Jalecos", foi uma manifestação pela busca de melhores salários e condições de trabalho saudáveis. Contudo, boatos insidiosos insinuavam que os cientistas Yelo haviam descoberto algo profundamente perigoso nos recônditos subterrâneos de Evita, levando-os a interromper o progresso científico, temerosos de desvendar um poder incontrolável. A interrupção súbita dessas pesquisas provocou uma crise devastadora nos grandes bancos de Korlon, levando muitos deles à falência ou ao encerramento de suas atividades.

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