NÃO POSSO ME APAIXONAR

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 É, não posso me apaixonar por ele. Mesmo tendo prometido que isso nunca mais aconteceria, aconteceu. Estava indo encontrar alguns amigos em um bar, quando sentado no metro, vejo entrar uma pessoa linda. Uma pessoa absurdamente linda, usando calças jeans retas, com um coturno preto, uma camiseta regata e deixando a mostra todas suas tatuagens, seus dois braços cobertos com elas. Olhou para mim, e retribui o olhar, e ele retribui com um sorriso.

Havia prometido que não me apaixonaria mais, por conta do meu último relacionamento. Antes e durante esse relacionamento, achava que o amor era a coisa mais linda que existia, onde duas pessoas se encontram uma na outra, um complementa o outro, mas a minha experiência, foi horrível, mas só estou conseguindo dizer isso agora, porque estou vendo do lado de fora, porque quando estava dentro, achava que estava mil maravilhas.

Conheci Júlio em uma festa de amigos, foi para comemorar o aniversário de um amigo de uma amiga minha.

- Vamos lá, Matheus? - disse minha amiga. - Você precisa sair de casa, não acha?

- Não, acho que estou muito bem aqui, obrigado. - disse em um tom sarcástico.

- Larga de ser idiota e se troca, vamos acabar chegando atrasados.

No fim, acabamos nos atrasando mesmo, mas na hora que chegamos, vi que valeu a pena. Júlio estava ali, sentado na mesa de frente para outras pessoas conversando com um sorriso no rosto. Tudo em seu rosto era sedutor, seu sorriso de canto de boca, seus olhos verdes, seu cabelo liso e brilhante meio bagunçado. Acho que encarei demais, e ele acabou sentindo, sabe quando você sente alguém te encarar, porque do nada ele levantou o rosto, e segurou meu olhar.

Sorri meio sem graça, e segui minha amiga para cumprimentar o aniversariante, achava que seria isso, nem me dei o trabalho de ficar procurando por ele pela festa, mas me surpreendi quando olhei para o lado, depois que minha amiga havia me deixado para ir ao banheiro, e vi Júlio sentando bem no lugar dela.

- Oi, não te conheço, e olha que conheço todo mundo aqui! - disse ele.

Olhei para aquele rosto esculpido, para suas pintas próximas à boca. Aquela boca volumosa, e vermelha, onde você vê que não foi pintada de maneira alguma, é natural. Vi que ele estava usando uma camiseta verde clara, e combinava com seus olhos. E nossa, que olhos! Aqueles olhos que brilham quando a luz bate, ou simplesmente mostram para você toda a cor que você não sabia ser capaz de imaginar existir em uma íris de olho.

- Ah, oi, - disse meio sem graça. - É estou meio de penetra aqui, vim com a minha amiga.

- Ah, que penetra que nada, festa boa é desse jeito mesmo, quando mais gente vier melhor – disse olhando bem fundo nos meus olhos, - e se for bonito, melhor ainda.

Estava tomando meu drink quando ele disse esta última frase, e quando ouvi isso, não aguentei e cai em uma gargalhada.

- Wow! - não sabia o que mais dizer.

Conversamos a noite inteira, sobre livros, filmes, teatro, museus, obras de artes, onde ele havia passado as últimas férias, onde eu havia ido, sobre os lugares que gostaríamos de conhecer, e posso dizer que naquele momento o cupido estava presente, pois tenho certeza que me apaixonei por ele ali mesmo. Só de lembrar desta história meus olhos enchem de lágrimas, pois acreditava que tinha realmente encontrado o cara da minha vida.

Mas como o que é bom nem sempre dura, depois de alguns meses juntos, eu e Júlio começamos a nos distanciar, não sei se foi por minha causa, ou por causa dele, ou por nós dois, mas sei que nos afastamos, cada um ficava na sua, e aquela química de começo começou a evaporar.

Até que um dia, tentando melhorar toda a situação, resolvi fazer uma surpresa para Júlio. Queria tentar reviver essa nossa relação, pois acho que uma conexão com alguém sempre precisa ser trabalhada. Então, passei na sua padaria preferida, peguei seus doces preferidos e fui até a sua casa. Como eu já tinha a chave e queria fazer essa surpresa, não toquei a campainha.

Abrindo a porta da casa de Júlio, me deparo com a mesa toda cheia de livros, e a primeira coisa que me vem a cabeça é que ele havia passado a tarde inteira estudando, e essa minha surpresa poderia cair muito bem numa hora dessas. Olhando as coisas deixadas sobre a mesa, encontro a mochila de Júlio ao lado de sua cadeira e tenho uma surpresa quando vejo outra que não reconheci, pego-a na mão para analisar, e realmente percebo que nunca havia visto aquela mochila.

Perdido nos meus pensamentos, ouço um barulho vindo do quarto de Júlio, vou até lá ver o que é. Abro a porta e me deparo com meu namorado, e uma garota que nunca tinha visto na minha vida, ela estava em cima dele, e ele de olhos fechados curtindo o momento. No momento que vi aquilo, não sabia o que fazer.

Dei as costas e voltei para a porta, e resolvi tocar a campainha, então para não mostrar o que tinha acabado de ver, peguei tudo novamente e sai. Toco o interfone, e ouço passos apressados dentro da casa, meio como se tivesse interrompido algo, e eu sabia que tinha interrompido mesmo.

- Quem é? - disse Júlio.

- Sou eu, amor, Matheus. - respondi tentando esconder a raiva e a tristeza que estavam nadando dentro de mim.

Ouço mais passos correndo dentro da casa, e uns dez minutos depois, Júlio abre a porta para mim, e vem me dar um beijo. Viro o rosto como se não fosse nada de mais e vou entrando. Chegando na sua mesa da cozinha, vejo a menina que tinha visto com ele no quarto, tentando arrumar o cabelo, e bufando, sentada à mesa como se ela sempre estivesse estado ali, olho para ela com um sorriso sem graça, e depois olho para Júlio.

- Que foi? - Júlio diz.

- O que foi? - repito, - Nada, o que vocês estavam fazendo? - continuo.

- Nada, estávamos estudando, você tocou a campainha e eu estava no banheiro, por isso acabei demorando um pouquinho para atender, e para abrir.

- Ah, e por que ela não pode atender para você? - disse apontando para a garota na mesa.

- Ah, acho que ela não ouviu, acho que ela estava com fone, não é, Carla? - perguntou para a garota.

- Isso, - respondeu Carla.

- Ué, mas não estou vendo nenhum celular na mesa. - respondi.

Quando disse isso, Júlio e Carla se olharam, e meus olhos seguiram esse olhar, de Júlio para a Carla e de volta para ele.

- Tem certeza que está tudo bem, Júlio? - pergunto novamente.

- Claro, por que não estaria? - respondeu.

- Por quê? Você é muito descarado de me perguntar porque não estaria? - respondo com uma pergunta.

Logo depois dessa pergunto, olho de volta para Carla, e a cara dela está vermelha, fogo, morrendo de vergonha. Olho para Júlio, e ele parece meio perdido, então em uma enxurrada de palavras conto tudo que acabei de ver, dou as costas e saio.

Então é por isso, que havia me prometido que não iria me apaixonar. Mas vendo esse garoto com esse sorriso no metro, me causou algo, parecia uma energia passando pelo meu corpo.

Tentando abstrair o que acabou de me acontecer, sigo meu caminho para encontrar minha amiga, sem conseguir tirar da cabeça o garoto que acabei de ver no metro. Todo mundo têm esses momentos de se apaixonar no metro de forma platônica, mas o que senti quando troquei olhares com esse garoto não foi isso. Parece que foi mais intenso, mas o que poderia fazer com isso? Nada!

Cheguei no bar para encontrar meus amigos, quando vejo de longe o garoto descendo a rua em direção ao bar. Com seu gingado malandro, e toda a pose de 'sei que sou gostoso', e fico assustado e surpreso quando vejo que ele está vindo na minha direção. Quando estou para cumprimentar ele, minha amiga pula da cadeira para o pescoço dele.

- Matheus, esse é o Tomás, - disse ela. - Tomás, esse é meu melhor amigo Matheus.

- Ah... - disse Tomás. - Acabei de encontrar ele no metro, se soubesse que estava vindo para cá, teria te acompanhado.

Olho para aqueles olhos, vejo que são azuis. Mas azuis como um oceano profundo, escuros, mas que, ao mesmo tempo, você tem aquela vontade de mergulhar neles. Dei um sorriso.

- Então, se eu soubesse, também teria te esperado. - estico a mão para poder cumprimentar.

Olhando para bem fundo nos meus olhos, Tomás estica a mão e aperta a minha, sorrindo.  

Não Posso me ApaixonarOnde histórias criam vida. Descubra agora