Antes de Ir

Capítulo Único

Caminhando em direção de casa recebo uma mensagem da minha namorada, Ana. Pouco conversamos, apenas combinamos de nos encontrar mais tarde no meu apartamento, ela falou sobre algo que deveríamos conversar. E essa frase soprou em meu pescoço me trazendo uma sensação não tão boa sobre essa tal conversa, já era consideravelmente tarde da noite e estou cansado, pois havia passado o dia trabalhando nos vídeos em que sou editor.

Sacudi a cabeça para deixar essa sensação de lado, olho para o relógio do telefone e percebo existir certo tempo até a tal conversa, então parei no 7-Eleven, a loja de conveniência que fica debaixo do meu apartamento. Abri a porta que anuncia minha entrada pelo pequeno sino, procuro rapidamente com os olhos, meu amigo e vizinho, e agora finalmente efetivado, o funcionário da loja, e lá está ele, entre as prateleiras limpando-as como sempre.

"Boa noite, Do-yun." Cumprimento-o caminhando a passos curtos até a geladeira pegando duas garrafas de soju.

"Tendo um dia ruim? Pegou duas garrafas direto." O cara com rosto de adolescente, todavia com quase meia-idade na certidão de nascimento, me analisa pegando da seção de salgados três pacotes e levando ao balcão.

"Não, mas estou sentindo que mais tarde vem algo, Ana me chamou para conversar e minha intuição me diz que não vai sair boa coisa disso." Explico enquanto pago pelas coisas. "Vou precisar de um amigo para ouvir minhas teorias de qual será o motivo dela me pedir essa conversa... Topa?" Convido-o a acenar com a cabeça aceitando minha oferta.

Saí calmamente puxando o quanto de ar meus pulmões permitiram até começar a tossir pela poluição que se encontra aquele "ar fresco". Realmente não era bem o melhor dia da semana, mesmo hoje sendo sexta-feira, me sento em uma das mesas postas ali e espero ele trazer os copos. Sentando ao meu lado Do-yun abre a garrafa e me serve, eu lhe faço o mesmo, a primeira dose foi amarga, rasgou para descer.

"Hyung¹, o que você fez da última vez que vocês se encontraram?" Perguntou.

"Sinceramente, eu nem me lembro, faz um mês que não nos encontramos pessoalmente." Respondo fazendo-o respirar fundo surpreso, porém logo o ar podre da cidade entra em seus pulmões e começa a tossir.

"Essa cidade está cada vez pior, não podemos nem respirar direito sem engolir poeira fina².", indago.

"Verdade, mas voltando ao assunto, por que vocês estão a tanto tempo sem se ver?" Levanta a pergunta enquanto ergue o copo para que eu encha.

"É que ela está chegando no último semestre da faculdade, precisa terminar o TCC³ e procurar logo um lugar para morar e trabalhar porque o visto dela vai terminar daqui a poucas semanas. Já eu estava ocupado trabalhando como editor e fiz uns bicos para sobrar um dinheiro para comprar um presente para os nossos mil e noventa e cinco dias juntos." Respondi vislumbrando que este poderia ser o motivo de nós termos que conversar.

"A explicação mais sensata, apesar disso, porque você não convida ela para morar na sua casa, ou melhor, para que esperar mais? Você pode pedi-la em casamento e resolveria todos os problemas!" Ele diz empolgado, eu apenas olho incrédulo para aquele moleque irresponsável e lhe dou um peteleco no topo da cabeça. "Ei! Por que você fez isso?"

"Casamento é algo sério, seu idiota, um compromisso não é uma coisa decidida do dia para noite, muito menos quando você tem todas as outras dificuldades, resolveria o problema do visto e moradia.", paro levando a bebida a boca e continuo. "Mas como iríamos nos sustentar? Teríamos que comprar uma casa relativamente melhor do que essa, teria a maldita hipoteca, despesas com comida, casamento, vestido, terno, eu e minha família somos conservadores em relação a casamento e boa parte das coisas que isso envolve, além disso, meu sonho sempre foi me casar convidando toda a família, nem pensar em casamento por enquanto." Contradigo.